Cultivo de tomates na Lua ou em Marte: projeto espanhol visa sustentar futuros colonos espaciais

© NASA . Paul Schmit, Gary SchmitLua, Estação Espação Internacional e Marte ao mesmo tempo
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O desenvolvimento da agricultura na Lua e em Marte parece fundamental para um futuro próximo. Milhares de pesquisadores estão buscando soluções em vista de um possível assentamento humano.

Atualmente, mais de 3.400 projetos ao redor do mundo estão investigando como cultivar em solo extraterrestre para permitir a instalação de colônias humanas em outros corpos celestes. Entre eles, está o espanhol Projeto Lua Verde.

A Sputnik Mundo entrou em contato com os cientistas responsáveis pelo projeto de modo a entender melhor os seus planos para o futuro.

Quando inovação significa sustentabilidade da vida humana

O objetivo das pesquisas é alcançar a independência nutricional para futuras missões espaciais. "Levar tomates à Lua custa milhões de euros. Além disso, demorariam cerca de três dias para chegar. Se falarmos de Marte, teríamos de esperar até seis meses. Se quisermos avançar, não só na exploração do espaço, mas também na criação de populações em solo extraterrestre, precisamos aprender a cultivar no espaço", indica José María Ortega, coordenador geral do projeto.

Composto por uma equipe de engenheiros e biólogos, o Projeto Lua Verde teve início em 2016 na Universidade de Málaga, na Espanha.

"Juntamos sinergias com pesquisadores chineses e relançamos o Projeto Lua Verde. Integramos geologia planetária, biologia vegetal e engenharia espacial", comenta o coordenador geral.

Precisamente, de mãos dadas com a China, a seleção espanhola sonha em subir à Lua. O trabalho realizado em conjunto ao gigante asiático pode se traduzir em uma decolagem em 2022, e essa não é a única opção. O Projeto Lua Verde também tem a possibilidade de embarcar no programa Artemis da NASA, e foi selecionado pela Agência Espacial Europeia (ESA, na sigla em inglês) para viajar em um grande módulo de aterrissagem logística, onde várias tecnologias serão testadas. No entanto, o líder do projeto pede cautela relativamente às datas.

Como cultivar no espaço?

"Levar à Lua as estufas de Almería [província espanhola]. Esse é o objetivo", brinca o engenheiro. Uma explicação que resume o conceito do projeto, pois para se cultivar fora do planeta, é necessário criar uma série de estruturas que promovam o crescimento da planta.

Os pesquisadores do Projeto Lua Verde investiram horas no desenvolvimento de uma cápsula que integra todas as tecnologias necessárias para promover a agricultura extraterrestre. Esse artefato, um cilindro de 15 centímetros de base e de 30 centímetros de altura, viajaria pelo espaço. O modelo é pequeno, localizado a poucos metros acima do solo lunar, que servirá para fazer experiências com o crescimento das plantas. Esta pode ser a base para futuras estufas no satélite.

As estruturas devem possuir sistemas que garantam a luz necessária à fotossíntese, temperatura, umidade, dióxido de carbono, pressão média equivalente à existente ao nível do mar e oxigênio. A equipe de cientistas espanhóis já apresentou várias soluções, tais como reaproveitar o oxigênio emitido pelas próprias plantas ou usar geradores artificiais para consertar a falta de sol.

© Foto / Cortesia do Projeto Lua VerdeCápsula idealizada pelo Projeto Lua Verde
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Cápsula idealizada pelo Projeto Lua Verde

No entanto, os maiores problemas na agricultura espacial vêm da gravidade e da radiação. No caso do primeiro, seus efeitos nas plantas só podem ser conhecidos quando elas estão fora da Terra. "Acreditamos que como a gravidade é seis vezes menor na Lua do que em nosso planeta, a planta crescerá mais rápido, pois o transporte de nutrientes se aceleraria", hipotetiza Ortega.

Por outro lado, para combater a radiação, além de utilizar a própria cápsula, o Projeto Lua Verde considera necessário o cultivo abaixo da superfície. "Na Lua não há atmosfera protetora, e em Marte, é muito fina. Plantar fora é completamente impossível. Precisamos de um ambiente controlado e protegido" explica Ortega.

Por esta razão, o Projeto Lua Verde viajou para Lanzarote, nas Ilhas Canárias. Na região, existem algumas formações chamadas tubos de lava, cavernas originadas da passagem de magma quente, e que também são encontradas na Lua, Marte ou em Vênus. No seu interior, serão instalados os jardins espaciais, reduzindo a radiação cósmica.

O que ainda está por ser feito na Terra

Apoiados pelo Cabildo e pelo Geopark de Lanzarote, mais o Instituto de Geociências e pela Rede Espanhola de Planetologia e Astrobiologia, os pesquisadores do projeto já estão fazendo experiências no local. Em colaboração com a empresa Innoplant, especializada na adaptação de solos às lavouras, a equipe está "avaliando como as plantas reagem a três diferentes tipos de solo: um terrestre, outro específico de Lanzarote e um que simula o lunar".

"Além disso, estamos testando quais sementes seriam as melhores para um primeiro contato. Já testamos com alface, tomate e rabanete. Elas podem ser as primeiras, embora também não tenhamos certeza disso", diz o coordenador geral do programa.

Além dos tubos de lava, o especialista em geologia planetária, Jesús Martínez Frías, prepara esse material para fazer escudos em torno da futura estrutura das estufas, afim de protegê-las das emissões solares e da radiação galáctica.

© Foto / Cortesia do Projeto Lua VerdeJosé María Ortega (à direita) junto a um pesquisador da Universidade de Chongqing (à esquerda)
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José María Ortega (à direita) junto a um pesquisador da Universidade de Chongqing (à esquerda)

Contudo, primeiro, a cápsula do Projeto Lua Verde precisa chegar à Lua. Os resultados obtidos no futuro podem ser a chave para desvendar as possibilidades da vida vegetal fora da Terra, e em caso de sucesso, o próximo passo é Marte, visto que pesquisadores da Universidade da Geórgia, nos EUA, já começaram a fazer experiências com réplicas do solo marciano.

"Acho que em 2040 ou 2050 veremos humanos na Lua. O objetivo final é transformar os seres humanos em uma espécie interplanetária sustentável. [E] tudo acontece por meio da agricultura", conclui Ortega.
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