Deputada síria: em breve EUA darão outro nome à Frente al-Nusra e irão apoiá-la

© AFP 2023 / Fadi al-Halabi / AMCMilitantes da Frente al-Nusra
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Ashwak Abbas, deputada do parlamento sírio, vice-diretora da faculdade de ciências políticas da Universidade de Damasco, expôs sua visão dos acontecimentos de Aleppo após a libertação dessa cidade dos terroristas.

Em entrevista exclusiva à Sputnik Árabe, Abbas abordou em detalhes a postura controversa da ONU em relação à crise síria, revelando também sua opinião sobre eventuais planos dos EUA no país devastado pela guerra.

SA: O enviado especial da ONU para Síria, Staffan de Mistura, acredita que Idlib poderá se transformar em uma segunda Aleppo. Isso seria possível?

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Ashwak Abbas: Em primeiro lugar, vou falar sobre Aleppo. Aquilo que está acontecendo lá é muito importante. Isso não só é vitória militar, estamos vendo o início de uma nova etapa na solução da crise síria. Agora, há mais chances para solução pacífica. Foi necessário responder da mesma forma à ajuda "pacífica" do Ocidente, que dava dinheiro e armas aos militantes. A partir de agora, os políticos europeus serão mais cooperantes.

Quanto a Staffan de Mistura, estamos acostumados com suas declarações controversas. Primeiro, ele era a favor da retirada dos militantes para Idlib e estava pronto para se sacrificar e ir na frente à coluna dos terroristas, alegadamente, em prol da salvação dos civis. Mas, nunca falou algo a respeito do sofrimento dos sírios que viviam no território controlado por militantes. E agora ele fala sobre seus receios em Idlib.

Eu diria o seguinte: lá, estão se acumulando terroristas que penetram na Síria com a proteção dos seus patrocinadores ocidentais. Se o exército precisar expulsá-los de lá, o exército estará em situação mais vantajosa, diferentemente de Aleppo. Em primeiro lugar, para isso contribuirão a extensão da cidade de Idlib, a logística eficiente e a experiência dos militantes. Em segundo lugar, todos sabem que, desde o início da crise, lá se instalou a Frente al-Nusra, incluída na lista de grupos terroristas pela ONU. Isso significa que a comunidade internacional não poderá chamá-la de oposição moderada e não vai especular o direito internacional como aconteceu em Aleppo.

SA: Staffan de Mistura propõe organizar negociações com a oposição. Em sua opinião, eles poderão se sentar à mesa das negociações?

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Ashwak Abbas: Não, ele não conseguirá uni-los. Lá, há forças muito diferentes que entraram na Síria de maneira diferente. Uns foram recrutados pela Turquia, outros – pelo Qatar, Arábia Saudita, Jordânia e Israel. Há grupos controlados pela França, Alemanha, Reino Unido e EUA. Alguns são membros de movimentos islâmicos radicais. Essas propostas impossíveis de cumprir soam constantemente no Conselho de Segurança da ONU, embora não tenham sentido.

Há uma coisa mais importante. Será que os EUA vão proteger a Frente al-Nusra em Idlib a nível internacional? Tenho certeza que vão. Só que em breve eles darão outro nome à oposição armada e moderada – Dual al-mahalia.

SA: Será que o Conselho de Segurança da ONU continuará deturpando os fatos sobre a situação em Aleppo?

Ashwak Abbas: De fato, o Conselho de Segurança da ONU deixou de ser uma organização internacional, tornando-se uma representação dos EUA. Não chegaram nem a pensar se seria certa ou não forma de fazer cobertura da situação em Aleppo do ponto de vista informacional. Eles estão apresentando acusações falsas e afirmam que o exército sírio, alegadamente, faz represália sangrenta, sem apresentar foto alguma.

O povo sírio não lhes interessa. Quando eles falam sobre feridos, eles se referem a militantes feridos e ao seu destino posterior, a população civil não é importante para eles.

SA: John Kerry informou que hoje a solução da crise síria depende da Rússia e Síria. Poderia comentar por que os EUA não falam sobre seu papel?

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Ashwak Abbas: Desejo sinceramente aos EUA que eles se tornem o exemplo de democracia imposto por eles a todo o Mundo. Como se sabe, desde o início, os norte-americanos participaram de maneira mais ativa nos eventos na Síria. E agora eles estão falando que tudo depende dos russos. Mas os russos são incapazes de parar a guerra. É preciso combater o terrorismo em conjunto a nível internacional.

SA: O conselheiro do enviado especial da ONU para a Síria, Jan Egeland, disse que os militantes gostariam de escolher o local de Aleppo de onde eles pretendem sair. Alguém está querendo ir para a Turquia. Como você acha que a Turquia vai proceder em relação a essas pessoas?

Ashwak Abbas: Vou dar os fatos, e não sugestões ou opiniões. Na véspera, Recep Tayyip Erdogan anunciou estar pronto para receber militantes que retornam de Aleppo. Vimos fotos com transporte turco que deveria leva-los à Turquia. Lá, eles serão treinados para realizarem novos ataques na Síria que já estão sendo preparados. Não acho que os turcos sigam princípios humanos. Esses são planos para o futuro.

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