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Itamaraty não deveria se envolver na briga entre embaixadores da China e dos EUA, diz especialista

© AP Photo / Andy WongBandeiras da China e dos EUA
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Os embaixadores dos Estados Unidos e da China no Brasil, Todd Chapman e Yang Wanming, entraram em rota de colisão, ao trocar acusações nas redes sociais. Para cientista político, Leonardo Paz, o Brasil deveria ficar de fora desse embate.

Tudo começou quando o embaixador Todd Chapman compartilhou um relatório do Departamento de Estado dos EUA que acusa a China de promover esterilização em massa em mulheres de etnia uigur. Em resposta, Yang Wanming declarou que a missão de Chapman no Brasil é atacar a China com boatos e mentiras.

​Os uigures habitam, em sua maioria, a região autônoma de Xinjiang, no noroeste da China, que faz fronteira com o Paquistão e o Afeganistão. O seu idioma é parente da língua turca e os uigures, que são muçulmanos, se consideram culturalmente e etnicamente mais ligados à Ásia Central do que à China.

​Para Leonardo Paz, cientista político, pesquisador do Núcleo de Inteligência Internacional da Fundação Getúlio Vargas no Rio de Janeiro (FGV/RJ) e professor de Relações Internacionais do IBMEC-Rio, o Itamaraty não deveria se envolver na "troca de farpas" entre os embaixadores norte-americanos e chineses. Ele demonstrou surpresa por dois "diplomatas tarimbados" se envolverem em uma troca de acusações por Twitter.

"O assunto discutido não tem nada a ver como o Brasil, é uma dinâmica que não passa por interesses brasileiros. O Itamaraty nem tem uma área que lida com esse assunto", explicou o cientista político em entrevista para Sputnik Brasil.

O especialista considera que o motivo de disputa entre os dois chefes de missões diplomáticas poderia suscitar troca de farpas entre norte-americanos e chineses em qualquer lugar do mundo e, por acaso, desta vez isso aconteceu no Brasil. Por isso, o professor acredita que, se o Itamaraty "se envolver neste assunto, vai acabar perdendo pontos com um dos lados".

O tema, que provocou as tensões em Brasília e nas redes sociais, não é novo. Para Pequim, tanto a questão do Tibete, como a situação da população uigur é de grande sensibilidade. As medidas adotadas pela China nessas regiões sempre são motivo de polêmica internacional e geram pressões por parte dos EUA.

"China tem adotado uma série de medidas para lidar com essa população, e essas políticas têm sido muito polêmicas, e algumas acusações muito graves [foram feitas], inclusive. E os americanos têm utilizado essa interpretação mais negativa dessas políticas, e aparentemente tem estudos do Departamento de Estado tentando comprovar essa visão mais negativa, de que há violação de direitos humanos, esterilização de mulheres [...] tentando apagar traços culturais dos uigures", disse Paz.

O governo de Donald Trump, considerando as informações do Departamento de Estado, adotou recentemente uma série de sanções contra alguns oficiais de Pequim, provocando retaliações por parte da China, em uma escalada de tensões que dura desde o mês de maio. Por isso, para Paz, a colisão diplomática no Twitter provavelmente faz parte desse quadro mais amplo, e não se relaciona com o Brasil.

No entanto, para o acadêmico, a questão da população uigur na China é mais complexa. Para China é uma questão de soberania e se trata de uma região muito próxima ao Oriente Médio e regiões com forte presença terrorista. Pequim defende as suas medidas na região com a necessidade de integração da população local. Os Estados Unidos, no entanto, consideram que a China estaria realizando "internação compulsória" para apagar a cultura uigur.

"Há obviamente uma disputa, um debate. Obter informações sobre essa região é muito difícil. [...] Poucas pessoas, desinteressadas no tema, conseguem coletar bons dados. Então é um tema muito difícil de se opinar, pois as informações que temos são de dois lados muito interessados em uma determinada mensagem", concluiu.
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