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'Agronegócio não precisa da Amazônia': ministra deve transformar palavras em ações, diz especialista

© Folhapress / Frederico Brasil / Futura PressPresidente Jair Bolsonaro e a ministra da Agricultura Tereza Cristina durante cerimônia em Brasília
Presidente Jair Bolsonaro e a ministra da Agricultura Tereza Cristina durante cerimônia em Brasília - Sputnik Brasil
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O risco de perda de investimentos e mercados fez a ministra da Agricultura, Tereza Cristina, afirmar que o agronegócio brasileiro não precisa da Amazônia para produzir mais, porém é preciso transformar palavras em ações, segundo um especialista ouvida pela Sputnik Brasil.
"Eu acho que agora é importante que a ministra coloque em prática o seu discurso, realmente fazendo com que o agronegócio se posicione cada vez mais a favor do desmatamento zero", disse a diretora de Ciência do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (IPAM), Ane Alencar.

Em entrevista à Sputnik Brasil, a especialista comentou a fala que a ministra do governo Jair Bolsonaro deu ao jornal O Estado de S. Paulo no domingo (5), destacando que o agronegócio não necessita desmatar a Amazônia para crescer, muito pelo contrário.

"Para o ministério, a preservação do bioma Amazônia é fundamental para agricultura brasileira", declarou Tereza Cristina à publicação, pontuando ainda que, entre outras coisas, "preservar o meio ambiente é uma condição fundamental para o agricultor e ele está mais consciente disso".

Na opinião de Ane Alencar, as declarações da ministra da Agricultura são corretas. De acordo com ela, "o Brasil possui uma área enorme que já foi desmatada e que está sendo mal utilizada", então há o enfoque necessário para tornar tais áreas produtivas e não aumentar o desmatamento, que vem batendo recordes na floresta tropical.

"É imprescindível que exista uma dissociação do agronegócio que quer produzir de forma sustentável daqueles que se juntam ao agronegócio, mas que vão estar produzindo atos ilegais, de ocupação de terra ilegal, na Amazônia", argumentou.

"Tem gente que está indo na onda do agronegócio e é preciso que o próprio agronegócio faça essa distinção de quem quer produzir, que quer levar o Brasil adiante em uma agenda muito mais sustentável, com compromissos ambientais, do que aqueles que querem se dar bem usando o agronegócio para ocupar terras ilegais na Amazônia e ganhar dinheiro fácil em cima do patrimônio de todos os brasileiros", acrescentou a diretora do IPAM.

Pressão internacional ante desmatamento crescente

A ministra da Agricultura se mostrou na mesma entrevista bastante incomodada com a pressão internacional sobre o agronegócio brasileiro, sobretudo com os recentes números de desmatamento da Amazônia e a ampla destruição das queimadas no ano passado, para qual o governo Bolsonaro pareceu não estar preparado.

© AP Photo / Silvia IzquierdoManifestantes fantasiados de Bolsonaro e Merkel pedem a defesa da Amazônia em ato no Rio de Janeiro
'Agronegócio não precisa da Amazônia': ministra deve transformar palavras em ações, diz especialista - Sputnik Brasil
Manifestantes fantasiados de Bolsonaro e Merkel pedem a defesa da Amazônia em ato no Rio de Janeiro

À Sputnik Brasil, Ane Alencar avaliou que tais pressões de fora do Brasil são importantes, assim como as mobilizações já testemunhadas em cidades brasileiras em favor da preservação da floresta. De acordo com ela, assim será possível que o país retome o seu lugar no debate a respeito da sustentabilidade.

"É super importante, fundamental que não somente os compradores de produtos brasileiros pressionem para que realmente o Brasil volte a liderar um espaço que já foi dele, que é um espaço de um país que conserva as suas florestas e, ao mesmo tempo, produz de forma mais sustentável. A pressão desses compradores é fundamental, mas a pressão da sociedade brasileira também é fundamental. A sociedade brasileira não quer ver a perda do seu patrimônio, principalmente para atividades ilícitas, para atividades ilegais ocorrendo em terras públicas que são de todos os brasileiros", destacou.

Com acesso a números diários sobre o avanço da destruição na Floresta Amazônia, a diretora do IPAM mostrou-se pessimista com a chegada da temporada de queimadas na região, sobretudo pelas poucas respostas oferecidas até aqui por Brasília.

"A gente está vendo agora que as estatísticas de fogo já estão mostrando um aumento no número de focos em comparação ao mesmo período do ano passado. Então é muito preocupante, principalmente agora que o único subterfúgio que o governo tem usado para dizer que está fazendo alguma coisa para combater o fogo e o desmatamento é com o Conselho da Amazônia, mas que até agora, apesar de começar a trabalhar no início de maio, não vem apresentando nenhum resultado", completou.

Assim, o segundo semestre caminha para apresentar mais números negativos, se a tendência que está sendo vista por especialistas se confirmar – o que tende a argumentar mais pressões sobre o Brasil, com o risco de perdas econômicas.

"Se continuarmos nessa tendência de desmatamento, de alta que vem desde o ano passado, nós vamos ter uma estatística muito mais alta de desmatamento no período agosto de 2019 a julho de 2020, quando comparado ao período anterior. Então esse ano recentemente foi lançado o número consolidado do PRODES que é referente a agosto de 2018 a julho de 2019 com pouco mais de dez mil quilômetros quadrados. Esse ano, se tudo seguir nessa tendência de aumento, a gente vai chegar muito provavelmente entre 12 mil a 15 mil quilômetros quadrados", concluiu.
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