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'Vai faltar jovem pela 1ª vez na história', diz pesquisador que analisa população brasileira

© AFP 2023 / Douglas MagnoJovens usam máscaras feitas por costureiras da favela Vila Novo São Lucas, em Belo Horizonte, Brasil. Foto de arquivo
Jovens usam máscaras feitas por costureiras da favela Vila Novo São Lucas, em Belo Horizonte, Brasil. Foto de arquivo - Sputnik Brasil, 1920, 07.06.2021
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O número de jovens no Brasil está em queda "acelerada". É o que mostra pesquisa da Fundação Getúlio Vargas (FGV). A Sputnik Brasil conversou com o responsável pelo relatório.

Intitulada "Jovens: Projeções Populacionais, Percepções e Políticas Públicas", a complexa pesquisa foi divulgada na semana passada e reuniu dados sobre jovens de 15 a 29 anos de idade. Para Marcelo Neri, diretor do Centro de Políticas Sociais da FGV, a redução é preocupante.

"O Brasil tem uma proporção de jovens parecida com a do mundo hoje, mas vai cair duas vezes mais rápido nos próximos 35 anos e o impacto é faltar mão de obra. É talvez pela primeira vez na história brasileira que vai faltar população jovem [...] Vai limitar o potencial de crescimento do Brasil. O bônus demográfico que soprava a favor do crescimento brasileiro começa agora a soprar contra", diz o pesquisador.

Para Neri, a tendência brasileira só é comparável, no momento, à da China. Pelas estatísticas levantadas pela FGV, este ano a população jovem brasileira vai ser de menos de 50 milhões de pessoas e, até o final do século, o número vai cair para 25 milhões. "É uma tendência muito acelerada", diz.

© AP Photo / Eraldo PeresTrabalhador informal trabalha engraxando sapatos em Brasília, no Distrito Federal.
'Vai faltar jovem pela 1ª vez na história', diz pesquisador que analisa população brasileira - Sputnik Brasil, 1920, 07.06.2021
Trabalhador informal trabalha engraxando sapatos em Brasília, no Distrito Federal.

Insatisfação com a vida

A pesquisa também traz um retrato da satisfação dos jovens brasileiros com a vida. "A quantidade de sensações negativas já desde antes da pandemia vinha aumentando, como a raiva, por exemplo", diz Neri, ressaltando que, em comparação com outros períodos negativos da recente realidade  brasileira, foi a pandemia que mais piorou o quadro.

Em 2020, para 59% dos entrevistados havia algum motivo de preocupação no dia anterior, mostra a pesquisa. O percentual foi um novo recorde. Em 2019, os jovens que relataram estar preocupados eram 50% e, entre 2015 e 2018, o número estava em 44%.

A satisfação com a qualidade da educação caiu também. Em 2020, 41% dos entrevistados disseram estar satisfeitos com o sistema de ensino, contra 56% em 2019. "Isso é uma queda, durante a pandemia, quatro vezes maior do que a queda de uma média de 40 países", diz o pesquisador.

Da mesma forma, caiu a satisfação com a proteção ambiental, revela o pesquisador: menos de 19% dos jovens estão contentes com a mesma.

Neri frisou também a queda de confiança dos jovens brasileiros nas instituições do país, com uma média mais baixa do que a mundial.

"Esse é um processo que vem acontecendo desde 2013, nas manifestações que houve no Brasil, é uma coisa bastante clara", explicando que a confiança dos jovens no governo federal, honestidade das eleições, medo de violência - "todos esses pontos pioraram muito".

Embora o medo de crimes tenha diminuído entre os jovens durante a pandemia do novo coronavírus, Marcelo Neri explica que "houve uma espécie de troca", já que sensações como "preocupação e raiva" pioraram.

© AP Photo / Andre PennerJovem olha pela janela na comunidade Dique da Vila Gilda, Santos (SP), 8 de julho de 2020
'Vai faltar jovem pela 1ª vez na história', diz pesquisador que analisa população brasileira - Sputnik Brasil, 1920, 07.06.2021
Jovem olha pela janela na comunidade Dique da Vila Gilda, Santos (SP), 8 de julho de 2020

"O Brasil aumentou muito a quantidade de sensações negativas [...]. E durante a pandemia piorou também as sensações positivas, como alegria ou a própria satisfação com a vida."

'Brasileiro, profissão esperança'

Entretanto, o analista confessa que, ao longo de 15 anos acompanhando as estatísticas, há um otimismo paradoxal do jovem brasileiro mesmo nas situações mais difíceis que não deixa de surpreendê-lo.

"É um dado meio paradoxal. Se você perguntar para um brasileiro essa pergunta de satisfação com a vida daqui a 5 anos, o brasileiro durante 9 anos foi o primeiro lugar do ranking global [...]. E o brasileiro estava [nos primeiros lugares] mesmo durante a recessão, nunca passou do terceiro lugar. Então esse 'Brasileiro, profissão esperança', é uma coisa resiliente no Brasil, mas leva a uma grande capacidade de frustração, e o jovem brasileiro em particular. Então o jovem brasileiro ele dá uma nota, agora, durante a pandemia, deu uma nota de 8.9 daqui a cinco anos em média [na escala de 0 a 10] e isso é sistemático. Então eu acho que ajuda a pegar certos padrões culturais".

O analista finalizou, dizendo que, apesar do otimismo geral do brasileiro, ainda há muita coisa para melhorar no país, como a proteção do meio ambiente, a educação, para que este otimismo tenha bases. 

"Eu acho que algumas coisas preocupam, como a questão do meio ambiente, que definirá o meio no qual [a geração jovem] vai estar fisicamente daqui há alguns anos. A educação, que é estratégica. Foi uma queda muito grande. E tem mais uma coisa: a própria educação no Brasil avançou nos últimos 40 anos, mas a produtividade não. Então o Brasil tem essas dificuldades. Acho que se a gente fizer a coisa certa dá para ser otimista, mas a gente tem que fazer a coisa certa. É um otimismo condicionado no máximo", concluiu.

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