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Governo precisa de plano B para Embaixada do Brasil nos EUA?

© Foto / Paola de Orte/Agência BrasilO deputado federal Eduardo Bolsonaro, filho do presidente eleito Jair Bolsonaro,
O deputado federal Eduardo Bolsonaro, filho do presidente eleito Jair Bolsonaro,  - Sputnik Brasil
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Desde que o presidente Jair Bolsonaro anunciou o seu filho, Eduardo Bolsonaro, como provável embaixador do Brasil nos EUA, o governo vem tentando criar um clima favorável para que o Senado ratifique a escolha, evitando falar abertamente sobre um possível plano B.

Na última terça-feira, em entrevista ao R7, o ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, afirmou categoricamente que o Planalto, embora ainda não tenha oficializado a indicação de Eduardo Bolsonaro, não trabalha com a possibilidade de apontar outro nome para o cobiçado cargo de chefe da missão diplomática brasileira nos Estados Unidos. Segundo o chanceler, isso porque, no entendimento do governo, o nome do parlamentar seria o ideal para estreitar os laços entre os dois países.

Nesta manhã, um dia após admitir que não desejava submeter o seu filho a um fracasso, o chefe de Estado brasileiro disse em conversa com jornalistas que não pretende recuar da indicação, e que Eduardo já está estudando e se preparando para a sabatina com os senadores, prevista para o próximo mês.

Apesar da pouca experiência de Eduardo Bolsonaro e de seu currículo pouco usual para um candidato a embaixador, motivo para desconfianças entre analistas, políticos e parte da opinião pública, o presidente do Senado, Davi Alcolumbre afirmou nesta quarta-feira que não há muitos senadores dispostos a votar contra o filho do presidente na Casa. 

"Quem fala que vota contra já está falando que vota contra", declarou Alcolumbre, citado pela Istoé. "Não tem muito, 20 pessoas", acrescentou.

Para o especialista em Relações Internacionais Paulo Velasco, professor da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), a escolha de Eduardo Bolsonaro para ocupar a Embaixada do Brasil em Washington pode ser vista como um "capricho" do presidente Bolsonaro. Segundo ele, independentemente de qualquer coisa, o governo precisa, sim, ter um plano B para esse caso.

"Embora pareça remota, a possibilidade de rejeição do [possível] embaixador no Senado existe. Por menor que seja, ela existe", disse Velasco em entrevista à Sputnik Brasil. 

De acordo com o acadêmico, não é comum, na tradição brasileira, rejeitar embaixadores indicados pelo chefe de Estado, mas algo desse tipo já aconteceu na história recente do país, quando, em 2015, o Senado não aprovou a indicação do diplomata Guilherme Patriota para o cargo de representante permanente do Brasil na Organização dos Estados Americanos (OEA)

"Não é algo comum, mas pode acontecer. Então, o plano B, fatalmente, tem que existir. Inclusive, mesmo antes de o presidente Bolsonaro aventar o nome do seu filho, já se cogitavam outros nomes. Depois que foi confirmada a saída do [embaixador em Washington] Sérgio Amaral, já se cogitavam outros nomes para ocupar a chefia dessa missão diplomática."

Comentando sobre o que ou quem poderia ser esse plano B do governo, o analista afirma que não faltariam nomes com gabarito para essa missão.

"Alguns chegaram a cogitar, por exemplo, o Nestor Forster, que já está em Washington, e foi recentemente promovido a embaixador, como um nome que seria, assim, próximo das ideias do Araújo e poderia ser, talvez, o tal plano B que, imagino eu, a essa altura, o presidente deve estar cogitando", disse ele. 

Segundo Paulo Velasco, quando determinada pessoa é escolhida para liderar uma determinada embaixada brasileira, espera-se que ela tenha a capacidade de defender os interesses do Brasil junto ao governo daquele país, em questões muitas vezes sensíveis. Para tal, espera-se que esse representante seja um bom negociador, de forma a não ser "engolido" por pessoas mais experientes nessa área. E, para ele, há dúvidas plausíveis sobre as capacidades de Eduardo Bolsonaro para desempenhar essa função. 

"E vale dizer que, apesar de toda a retórica amistosa, nem tudo são flores na relação com os Estados Unidos. Há interesses assimétricos. Há, fatalmente, posições desencontradas. E o chefe da missão diplomática tem que ter habilidade 'diplomática' — não por acaso tem esse nome — de desatar os nós." 

​Nesta quarta-feira, a justiça da Bahia arquivou uma ação que buscava impedir a nomeação de Eduardo Bolsonaro para a Embaixada do Brasil nos EUA, apresentada pelo também deputado federal Jorge Solla (PT-BA). Em sua decisão, o juiz  André Jackson de Holanda Maurício Júnior, da 1ª Vara Federal Cível do estado, disse que o eventual ilícito de nepotismo — irregularidade apontada pela consultoria técnica do Senado nesse caso — somente se concretizaria com a formalização da nomeação por parte do presidente da República, o que ainda não ocorreu.

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