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Reunião de chanceleres do G20 e tensões mundo afora: muita retórica e pouca efetividade?

© AP Photo / Silvia IzquierdoMinistros das Relações Exteriores e autoridades de países do G20 e nações convidadas durante encontro na Marina da Glória. Rio de Janeiro, 21 de fevereiro de 2024
Ministros das Relações Exteriores e autoridades de países do G20 e nações convidadas durante encontro na Marina da Glória. Rio de Janeiro, 21 de fevereiro de 2024 - Sputnik Brasil, 1920, 22.02.2024
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Com foco em reassumir protagonismo geopolítico e ser uma das principais vozes do Sul Global, o Brasil preparou uma série de agendas ao longo do ano para o G20, que preside até o fim de novembro. O primeiro encontro, que reuniu chanceleres dos países do grupo e convidados, terminou nesta quinta-feira (22) na Marina da Glória, no Rio de Janeiro.
Em meio às preocupações com conflitos mundo afora, que segundo declarações do ministro de Relações Exteriores do Brasil já passam de 170, o tema não ficou de fora da primeira reunião do G20 sob a presidência brasileira. Na declaração final, Vieira ressaltou a rejeição das 45 delegações, entre países, nações convidadas e organizações internacionais, da nova ofensiva israelense na Faixa de Gaza para a região sul do território, onde vivem mais de 1 milhão de palestinos sob deslocamento forçado por conta da guerra.
Pela primeira vez, o Brasil também pôde apresentar formalmente aos chanceleres a proposta de reforma da governança global da Organização das Nações Unidas (ONU) e suas instituições, como Fundo Monetário Internacional (FMI) e Organização Mundial do Comércio (OMC). Segundo o ministro Mauro Vieira, a necessidade de mudanças do sistema, que está em vigor desde o fim da Segunda Guerra Mundial e é cada vez menos efetivo diante dos novos desafios globais, é um consenso entre as lideranças.
"Para o Brasil, é algo urgente e prioritário. Todos concordaram quanto ao fato de que as principais instituições multilaterais […] precisam de reformas para se adaptarem aos desafios do mundo atual", pontua o chanceler.
Em entrevista à Sputnik Brasil, a especialista em segurança e teoria das relações internacionais, além de professora da Universidade Abu Dhabi, Isabela Gama lembra que essa é uma pauta antiga principalmente entre as economias emergentes, como os países ligados ao BRICS e outras nações do Sul Global.

"Afinal de contas, as economias emergentes querem ter mais visibilidade e poder de atuação dentro dessas entidades. Porém, se elas acontecerão ou não dentro, há necessidade de que ocorram aprovações das grandes potências mundiais, e elas não têm interesse em compartilhar mais poder. É mais difícil gerenciar, por exemplo, um Conselho de Segurança com mais membros permanentes, por exemplo, que já está congelado há bastante tempo. Com mais integrantes, pode ser difícil chegar a consensos, e não é da vontade dos Estados Unidos", frisa.

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G20 chegará a um consenso sobre questões diplomáticas?

Iniciativa inédita, os ministros de Relações Exteriores do G20 terão um segundo encontro no ano, desta vez após a Assembleia Geral da ONU, prevista para setembro, em Nova York, e com a possibilidade de participação de todos os membros da organização para ampliar as discussões sobre os rumos do mundo. "Será a primeira vez que o G20 se reunirá dentro da sede das Nações Unidas, e aberta para todos os membros para promover um chamado em favor da reforma da governança global", adianta Vieira.
Apesar das tentativas de diálogo, a especialista em relações internacionais vê com dificuldade a chegada de posicionamento minimamente comum sobre qualquer tema, tanto governança quanto atuação frente às tensões. "Pareceu um encontro de apedrejamentos com linguagem diplomática. Cada um tentava impor a sua própria agenda, defender o seu lado, ao invés de tentar chegar a um consenso sobre alguma coisa […]. É um momento muito delicado, internacionalmente falando", declarou.
É o caso da tentativa dos pares ocidentais, liderados pelos Estados Unidos, de "ucranizar" as atividades do G20 em prol do regime do presidente Vladimir Zelensky frente à operação militar especial russa, cujo principal objetivo é "desnazificar" a região. Apesar disso, a presidência brasileira conseguiu superar a questão mesmo com a persistência norte-americana, que ficou em segundo plano até na declaração final do ministro Vieira.

"Não adianta só criticar o que acontece em outros lugares, há necessidade de ter a habilidade e a sensibilidade de compreender o que está acontecendo na Rússia ou na Faixa de Gaza", resume Isabela Gama.

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Retomada do protagonismo brasileiro

Para a especialista, a presidência brasileira do G20 aparece como uma oportunidade para mostrar que o país quer ser um parceiro global novamente. Apesar disso, retomar um certo papel de protagonismo, segundo Gama, é "bastante" diferente e tem um caminho longo. "O Brasil ainda precisa trabalhar muito para chegar a um papel de protagonismo no cenário internacional, até porque nos últimos quatro anos nosso papel global foi destroçado, basicamente. Mas esse já é um primeiro passo", pontua.
Já com relação às outras plataformas brasileiras defendidas no grupo das maiores economias do mundo, como alavancar o desenvolvimento sustentável e a aliança contra a pobreza, a professora da Universidade Abu Dhabi vê como importantíssimas no mundo atual, que convive com o crescimento da miséria em um cenário pós-pandemia. Porém acredita ser difícil ter aderência de outros países, principalmente grandes potências. "O mundo vive situações muito complexas e violentas, e, no momento, olhar para essas questões parece não ter muito espaço", finalizou.
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Quais são os países do G20?

Além do Brasil, o G20 é composto por outros 18 países (África do Sul, Alemanha, Arábia Saudita, Argentina, Austrália, Canadá, China, Coreia do Sul, Estados Unidos, França, Índia, Indonésia, Itália, Japão, México, Reino Unido, Rússia e Turquia) e dois órgãos regionais: a União Africana e a União Europeia. O grupo representa dois terços da população mundial, além de 85% da economia e 75% do comércio global.
Durante todo o ano de 2024, o país é responsável por presidir o grupo, cuja cúpula de líderes será realizada em novembro, também no Rio de Janeiro. Por conta disso, o Brasil ainda pode convidar outros países para participarem das reuniões, como Angola, Bolívia, Cingapura, Egito, Emirados Árabes Unidos, Espanha, Nigéria, Noruega, Paraguai, Portugal e Uruguai.
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