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Os dias de Netanyahu no poder israelense estão contados, atesta especialista

© AP Photo / Jacquelyn MartinBenjamin Netanyahu. Tel Aviv, 12 de outubro de 2023
Benjamin Netanyahu. Tel Aviv, 12 de outubro de 2023 - Sputnik Brasil, 1920, 14.02.2024
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Apesar do crescente descontentamento da população israelense com as investidas e os movimentos do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu, há motivos que explicam a manutenção do chefe de Israel no poder.
Em entrevista ao podcast Mundioka, da Sputnik Brasil, Rafael Mandelbaum, formado em ciências sociais pela Universidade de Bar-Ilan e também ex-militar israelense, detalhou aos jornalistas Melina Saad e Marcelo Castilho os motivos que mantêm Netanyahu "firme e forte".

Reflexo do Parlamento

Segundo Mandelbaum, a situação política em Israel reflete uma democracia operada através do Parlamento, onde as eleições recentes resultaram na vitória da direita, liderada pelo partido de Netanyahu, formando uma coalizão com 64 cadeiras, de 120. Ele enfatizou a polarização interna, destacando a divisão entre os apoiadores da direita, incluindo o partido de Netanyahu, e a oposição de partidos de centro-esquerda.

"Se a gente for mais a fundo no tema, a gente pode falar que Israel, há quatro, cinco anos, vive uma discussão interna, uma polarização interna de quem é a favor do Bibi e quem é contra o Bibi [Netanyahu]. […] essa polarização já existe nos últimos anos, a gente viu vários governos subindo e caindo antes de completar os seus anos, e agora a gente viu essa intensificação", explica.

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Eleições teriam outro resultado

O entrevistado ressaltou que o último ano, de 2023, foi marcado por desafios significativos, incluindo um evento trágico em outubro, que resultou no maior massacre da população civil israelense durante o mandato de Netanyahu. O descontentamento generalizado gerou uma queda nas pesquisas, indicando uma possível mudança para um governo de centro-esquerda.

"Se houvesse uma eleição hoje, Israel não teria um governo de direita e não teriam o Bibi [Netanyahu] como seu primeiro ministro. […] a população israelense teria um governo de centro-esquerda, com provavelmente um partido muçulmano fazendo parte dessa coalizão como foi no último governo, e a situação seria diferente", avalia.

Quanto à atual guerra em curso, Mandelbaum explica que a sociedade civil está focada na crise, com a população, independentemente de sua orientação política, envolvida na luta ou ajudando os refugiados. Ele destacou que, à medida que a guerra evolui, a atenção voltará para questões políticas, prevendo um governo significativamente diferente em Israel.

Dias contados

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Quando questionado se Netanyahu precisaria da guerra para se manter no poder, Mandelbaum negou categoricamente. O professor argumenta que os pontos fortes do líder sempre foram as relações internacionais e as questões de segurança, mas a forma como a guerra começou e se desdobrou fez com que grande parte da população se sentisse traída.
Mandelbaum previu que os dias de Netanyahu como primeiro-ministro estão contados, independentemente da situação atual, e sugeriu que uma mudança poderia ocorrer antes das próximas eleições, agendadas para os próximos dois anos.

"Os dias dele, provavelmente, são contados aqui [no poder] e, em breve, acredito que não teremos ele mais ali ocupando a cadeira de primeiro-ministro", crava.

A miséria produz violência

Durante a análise, o especialista chamou a atenção para o fato de as crianças palestinas enxergarem uma "solução" violenta dentro da miséria, levando em consideração o conflito na Faixa de Gaza.
Mandelbaum alertou para a realidade de crianças que, devido à falta de perspectiva, poderiam se envolver com organizações como o Hamas no futuro. Segundo ele, esse é um problema que atravessa gerações na região.

"Esse é um grande problema que a gente vive há gerações. Eles já odeiam os israelenses. […] o Exército encontrou os armamentos dentro das escolas, os acampamentos infantis, com treinamento de como invadir Israel, como atacar Israel", arremata.

Desafios políticos e jurídicos

A professora Karina Calandrin, especialista em relações internacionais da Universidade de Sorocaba (Uniso) e colaboradora do Instituto Brasil-Israel, acrescentou insights sobre os motivos que sustentam a permanência de Benjamin Netanyahu no poder, apesar da crescente impopularidade.
Calandrin destacou que a popularidade de Netanyahu já estava em declínio desde o início do ano passado, principalmente devido à polêmica reforma do Judiciário que ele lançou.
Segundo a professora, a reforma, que diminuiu o poder da Suprema Corte de Israel e de tribunais inferiores, somada à presença da direita mais radical no governo, contribuiu para uma queda sem precedentes na popularidade do primeiro-ministro israelense. A guerra recente, segundo a professora, veio para consolidar essa perda de apoio popular.
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"Apesar da popularidade dele já estar em queda desde o início do ano passado, desde janeiro, muito antes da guerra, por conta da reforma do Judiciário que ele lançou, que diminuiu o poder da Suprema Corte de Israel, de tribunais também que estão abaixo na hierarquia da Suprema Corte, junto com a extrema-direita que está com ele no governo hoje, todo esse cenário fez com que a popularidade dele fosse caindo de maneira nunca antes vista na política israelense, e a guerra veio para coroar toda essa perda de popularidade", assegura.

A derrocada: crimes precisam de provas e julgamento

No entanto, Calandrin destaca que há fatores que impedem a queda de Netanyahu. Ela aponta as investigações por corrupção que pairam sobre o líder israelense, ressaltando que, para um impeachment ocorrer no sistema parlamentarista, é necessário que um crime seja atestado e julgado. Netanyahu enfrenta acusações judiciais, mas o julgamento ainda não foi concluído.
A professora também esclareceu a relação entre as tentativas de Netanyahu de aprovar a reforma do Judiciário e a possibilidade de seu impeachment. Segundo Calandrin, a reforma, se aprovada, daria ao governo o poder de derrubar decisões judiciais por maioria simples no Parlamento, o que incluiria qualquer condenação contra o primeiro-ministro.
Além disso, no sistema parlamentarista, Calandrin explicou que o governo pode ser derrubado por meio de uma moção de desconfiança ou pela perda da maioria parlamentar. Embora a impopularidade de Netanyahu seja evidente, a especialista sinaliza que a política complexa e os desafios legais em jogo tornam a queda uma tarefa árdua para seus opositores.
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