O que é o fósforo branco que Israel é acusado de usar na Faixa de Gaza?

No meio da escalada no Oriente Médio, surgiram relatos alegando que Israel tem utilizado fósforo branco nas suas operações militares na Faixa de Gaza.

No decurso da escalada militar em curso do conflito Palestina-Israel, a Human Rights Watch alegou que as Forças de Defesa de Israel (FDI) utilizaram munições com fósforo branco, afirmando que o uso dessas munições põe em perigo a segurança dos civis, causando ferimentos graves e duradouros.

Esta alegação foi repudiada por um comunicado das FDI, que afirmou que "a atual acusação feita contra as FDI em relação ao uso de fósforo branco em Gaza é inequivocamente falsa. As FDI não usam tais munições".

Quando questionado sobre a alegação por fontes da mídia, o embaixador de Israel na Rússia, Alexander Ben Zvi, afirmou que tal informação "deve ser refutada. Não é verdade. Hoje em dia, você sabe, todo mundo está nas redes sociais e todo mundo tem um telefone celular. É apenas um absurdo".

O fósforo branco tem sido controverso na guerra há décadas — levanta questões éticas e legais, provocando debates sobre as suas vantagens estratégicas versus danos potenciais, uma vez que inflige queimaduras horríveis e torturantes às suas vítimas.

A Sputnik disseca as complexidades da munição de fósforo branco, explorando sua composição e as considerações multifacetadas que cercam sua implantação no campo de batalha.

O que é fósforo branco?

O fósforo branco, designado quimicamente como P4, é um elemento químico altamente reativo e inflamável que entra em combustão espontânea quando exposto ao ar. Sua forma pura é a de um sólido ceroso, de natureza translúcida e apresentando uma coloração amarelada pálida. Tem uma densidade aproximada de 1,82 grama por centímetro cúbico. A estrutura molecular do produto químico compreende quatro átomos de fósforo dispostos em uma configuração semelhante a uma pirâmide.

Ele mantém uma forma sólida à temperatura ambiente padrão, mas sofre uma transição de estado em torno de 44,1 graus Celsius, convertendo-se em uma substância gasosa altamente reativa. O fósforo branco é perigoso para os seres humanos e pode causar queimaduras graves em contato com a pele.

Que tipos de munição contêm fósforo branco?

As munições de fósforo branco empregam uma das formas primárias do elemento fósforo. O fósforo branco desempenha funções multifacetadas em munições, como a criação de cortinas de fumaça, iluminação para tropas em situações de pouca luz e ingrediente vital em munições incendiárias. Notavelmente, é o principal componente de combustão em munições com um elemento explosivo embutido em sua base.

Munições de fósforo branco produtoras de fumaça são comuns no campo de batalha. Elas servem a vários propósitos, desde granadas de fumaça de infantaria até lançadores de granadas de proteção montados em tanques e veículos blindados, constituindo um componente do depósito de munição para artilharia e morteiros.

"Em primeiro lugar, é uma substância venenosa. E em segundo lugar, deixa feridas extremamente graves. Deve ser extinto com areia úmida ou com bastante água. Não há outras opções. As cápsulas de fósforo são projetadas para provocar incêndios, atear fogo em instalações, sair de abrigos e assim por diante", reconhece o especialista militar Igor Nikulin, ex-membro da Comissão das Nações Unidas sobre Armas Químicas e Biológicas.

Segundo informações públicas, o fósforo branco pode ser encontrado em diversas categorias de munições:

Composição das munições de fósforo branco

A munição de fósforo branco geralmente é alojada em um invólucro, que pode ser feito de vários materiais, inclusive metal. O fósforo branco pode vir na forma de gel, pó ou sólido dentro deste recipiente. Outros componentes das munições de fósforo branco, além da substância incendiária, incluem:

Carcaça e preenchimento: a munição padrão compreende uma cápsula que envolve a carga útil de fósforo branco. Essa cobertura é normalmente um metal, como aço ou alumínio, projetado para reter o produto químico até que ele seja implantado. O invólucro pode ter componentes adicionais para estabilidade durante o voo e impacto.

Mecanismo de ignição: em muitas situações, um agente de ignição adicional é integrado para garantir que a detonação ocorra sem impedimentos quando a substância é dispersa. Pode ser uma pequena carga explosiva ou um composto químico projetado para auxiliar na ignição.

Detonador: se presente, o detonador é um pequeno dispositivo usado para iniciar o componente explosivo da munição, que pode ajudar a dispersar o fósforo branco no momento do impacto.

Sistemas de Estabilização e Implantação: dependendo do projeto específico, a munição pode exigir aletas de estabilização ou outras ferramentas para orientar sua trajetória. Além disso, pode incluir um sistema de implantação como um paraquedas ou um temporizador para controlar quando e como o fósforo branco é liberado.

Fusível: algumas munições de fósforo branco possuem um mecanismo de fusível que controla o momento da explosão. Isso pode ser definido para obter efeitos específicos, como explosão aérea ou impacto no solo.

Efeitos das munições de fósforo branco em humanos

A utilização de munições de fósforo branco causa uma série de danos devastadores, tanto nos seres humanos como no ambiente. Esses efeitos decorrem de sua propriedade única de inflamar ao entrar em contato com o ar, gerando calor intenso e um composto químico reativo.

Os efeitos em humanos incluem:

Efeitos no Ambiente:

Quem proíbe e quem usa munições de fósforo branco?

A escalada do conflito Palestina-Israel ocorreu depois que o Hamas lançou um ataque contra Israel no dia 7 de outubro. Em resposta ao ataque inesperado do Hamas, o governo israelense declarou oficialmente o estado de guerra e autorizou uma ação militar em larga escala para combater a ameaça às cidades do sul e intensificou os ataques aéreos na Faixa de Gaza, provocando a reação de vários grupos de direitos humanos.

Ao abrigo do direito internacional, o fósforo branco é proibido para utilizações específicas devido aos seus efeitos graves e indiscriminados sobre os combatentes e as populações civis, bem como ao seu potencial para causar danos ou perdas devastadoras.

"O fato é que queima em alta temperatura, cerca de 1.300 graus, e é absorvido pelo corpo humano. Ou seja, em primeiro lugar, é uma substância tóxica e, em segundo lugar, deixa realmente feridas não cicatrizadas. Portanto, estas armas são consideradas bárbaras e extremamente indiscriminadas. E é precisamente o Protocolo de Genebra de 1977 que proíbe a sua utilização caso os civis possam sofrer", disse Nikulin.

Consequentemente, existem quadros jurídicos internacionais que abordam a utilização de fósforo branco, incluindo:

Os Estados Unidos não assinaram inicialmente os Protocolos Adicionais I e II de 1977 às Convenções de Genebra. Estes protocolos visavam proporcionar proteções adicionais às vítimas de conflitos armados, incluindo regras sobre a utilização de certos tipos de armas e o tratamento de civis e não combatentes.

"Se eles vão usar [essas substâncias], por que assinariam? Eles não vão remover esses projéteis, essas bombas das armas. Eles continuam usando, então é claro que não assinarão. Via de regra, os EUA assinam um acordo se seus oponentes começarem a se antecipar de alguma forma. Quando começamos a avançar em mísseis, bombas e assim por diante, é quando eles assinam", argumentou Nikulin, ao responder por que os Estados Unidos não ratificaram certos protocolos adicionais à Convenção de Genebra em 1977.

Ele também lembrou que as Forças Armadas ucranianas implantaram munições de fósforo "no território da República Popular de Donetsk [RPD] antes e durante este conflito [...] na região de Zaporozhie, na região de Kherson", já que "a Ucrânia tem as mesmas visões bárbaras que os EUA sobre as formas de travar uma guerra."