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Real digital: o que é a nova tecnologia do Banco Central brasileiro?

© Marcello Casal Jr. / Agência BrasilSede do Banco Central do Brasil, no Setor Bancário Norte, em Brasília (DF)
Sede do Banco Central do Brasil, no Setor Bancário Norte, em Brasília (DF) - Sputnik Brasil, 1920, 13.02.2023
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O que vai mudar a partir do lançamento do real digital, a moeda 100% virtual do Estado brasileiro? Em entrevista à Sputnik Brasil, analistas financeiros explicam quais serão os benefícios da nova moeda e por que ela não é uma criptomoeda qualquer.
Desde o lançamento, em 2008, do bitcoin, a criptomoeda mais conhecida do mundo, economistas do mundo inteiro apontaram um fato inevitável: o futuro seria marcado pelo surgimento de novas formas de dinheiro digital.
Desse modo, para evitar os riscos de moedas que são emitidas por agentes do mercado financeiro e não pelos bancos centrais, como o próprio bitcoin, os países precisariam se adaptar à nova realidade.
O setor bancário brasileiro está prestes a dar esse passo. O Brasil lançará neste ano o real digital, uma moeda virtual que ficará sob o controle do Banco Central (BC) brasileiro. Países como China, Suíça e Uruguai já estão aderindo a esse tipo de ativo, enquanto o Brasil estuda o seu modelo visando ao lançamento em um futuro próximo.
© Folhapress / Pedro LadeiraPresidente do Banco Central, Roberto Campos Neto
Roberto Campos Neto, presidente do Banco Central do Brasil (foto de arquivo) - Sputnik Brasil, 1920, 13.02.2023
Presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto. Foto de arquivo
Para o episódio 215 do podcast Jabuticaba Sem Caroço, da Sputnik Brasil, as jornalistas Bárbara Pereira e Francini Augusto conversaram com Marilyn Hahn, especialista em finanças e economia, e Bernardo Srur, diretor-presidente da Associação Brasileira de Criptoeconomia (ABCripto).

O que é o real digital?

As moedas digitais de bancos centrais (CBDCs, na sigla em inglês) estão sendo desenvolvidas em cerca de 90 países, com a promessa de reinventar a política monetária internacional. Em razão da precocidade do fenômeno, as consequências do advento das moedas digitais ainda são objeto de estudo.
No entanto, como garantiu Marilyn Hahn, é possível assegurar de antemão algumas características sobre o dinheiro digital brasileiro que moldará o futuro econômico do país. Ela destacou, por exemplo, que o real digital não será como uma criptomoeda qualquer.
O Banco Central do Brasil já frisou reiteradas vezes que o real digital não será mais uma criptomoeda. As características da tecnologia ainda não estão definidas e deverão ser melhor esclarecidas ainda no primeiro semestre, no lançamento do projeto-piloto para testes com a privacidade e segurança da rede.
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"É, na prática, uma extensão da nossa moeda em papel", disse ela, explicando que "quando o BC emite papel-moeda, existem várias formas de emissão, como o papel e o Pix, que é digital".

"O real digital tem como objetivo criar uma nova estrutura bancária a partir de blockchain. Isso facilita romper uma série de barreiras ao oferecer maior padronização do sistema, mais alcance e maior rastreabilidade do dinheiro, que são os pontos mais importantes para o BC e para o consumidor."

Bitcoin é 'completamente diferente'

Existe uma confusão quando o assunto é real digital e criptomoedas. Muitas vezes a opinião pública tende a colocar tudo no mesmo cesto, como se fossem a mesma coisa.
Existem semelhanças, como a existência de uma rede na qual esse ativo trafegará pela emissão de tokens (representações digitais); e os chamados "contratos inteligentes" (smart contracts), programas que executam transações de forma automática assim que determinadas condições são atendidas.
Entretanto, como afirmou Bernardo Srur, "criptomoedas como o bitcoin, por exemplo, são completamente diferentes" do projeto envolvendo o real digital brasileiro. Ele explicou que a primeira grande diferença "é a forma de valorização e o seu lastro".
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"O bitcoin valoriza pela segurança da sua rede, e o seu valor é dado pelo mercado por meio de compra e venda. O real digital será emitido pelo Estado, existe um ente que controla sua emissão e propagação", comentou.

Ele ainda apontou que "o bitcoin é descentralizado. Portanto sem controle de órgão monetário. Ao passo que o real digital terá o BC como agente, que controlará esse ativo".

O que o Brasil tem a ganhar com a tecnologia?

Ambos os analistas consultados pela Sputnik Brasil apontaram que existem muitos benefícios quando o assunto é o desenvolvimento de novas formas para uso do dinheiro digital.
Um deles é a redução do custo de criação e manutenção de contratos financeiros por meio de padronização e interoperabilidade. Outro é a chamada composição de serviços financeiros, ou composibilidade.
A composibilidade é um conceito. Os serviços financeiros são regidos por programas de computador que verificam transações, liquidam valores e realizam operações predeterminadas, como transferências imediatas após a assinatura de um contrato.
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O real digital, embora não seja uma criptomoeda, deverá ser compatível com funções avançadas como essas.
Para Marilyn Hahn, "a ideia do BC é fomentar novas ideias de negócio para alcançar novos contratos e novos tipos de negociações. Existem múltiplas possibilidades para o uso do real digital, mas em um primeiro momento ele será utilizado para fazer políticas monetárias".
Ela explicou que o real digital estará "integralmente conectado on-line para transações digitais". Isso significa, na prática, "facilidade maior, e menores custos, em transferências entre bancos".

"O Pix é um grande benefício, e a gente ainda está apredendo bastante com ele. O real digital vem mais ou menos nessa linha, para dar maior transparência, reduzir custos do sistema, prevenir lavagem de dinheiro e corrupção", afirmou.

Inevitáveis crimes cibernéticos

Embora o combate aos crimes cibernéticos seja uma prioridade no projeto do BC do Brasil, a entidade ainda não confirmou se usará tecnologia blockchain para proteger o real digital dos criminosos cibernéticos.
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Embora o conceito das CBDCs tenha vindo do mundo das criptomoedas, os projetos em andamento no mundo em geral usam uma tecnologia de proteção chamada Distributed Ledger Technology (DLT).
DLT e blockchain têm em comum o conceito de um livro de registro de transações, um banco de dados. Toda blockchain é DLT, mas nem toda DLT é blockchain. Elas diferem sobretudo na questão do acesso aos dados em uma determinada rede. Para a tecnologia blockchain, o acesso é público.
Marilyn Hahn avalia que independentemente da tecnologia, ela deve dar resiliência cibernética ao projeto, embora seja improvável determinar os cursos que tomarão as fraudes e golpes cibernéticos, "cada vez mais engenhosos". O que importa, por outro lado, "é que o dinheiro está lastreado".
A especialista espera que, neste primeiro momento do projeto, o BC possa trabalhar na elaboração de "políticas monetárias que estejam de maior acordo com as demandas da população e da economia brasileira", pois isso "permitirá a entrada de novos agentes no mercado".
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