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Quais as razões para introdução da nova nota de R$ 200?

© Folhapress / Fernando FrazãoFábricas de matrizes e cédulas da Casa da Moeda do Brasil (CMB), em Santa Cruz na zona oeste do Rio de Janeiro. Processo de fabricação e itens de segurança das cédulas da nova família, em especial as notas de R$ 10 e R$ 20.
Fábricas de matrizes e cédulas da Casa da Moeda do Brasil (CMB), em Santa Cruz na zona oeste do Rio de Janeiro. Processo de fabricação e itens de segurança das cédulas da nova família, em especial as notas de R$ 10 e R$ 20. - Sputnik Brasil
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O governo federal anunciou na semana passada o lançamento de uma nova nota de R$ 200, que deverá entrar em circulação até o final de agosto. Hoje, a Sputnik explica as razões da medida do governo e os seus impactos na economia.

A cédula de R$ 200, que será da cor cinza e terá um lobo-guará estampado, terá um custo de impressão no valor de R$ 113,4 milhões. A expectativa é de que cerca de 450 milhões de cédulas sejam impressas em 2020.

Justificativa do Banco Central

Em nota divulgada na quarta-feira (29), o Banco Central (BC) informou que o objetivo da medida é "atender ao aumento da demanda por dinheiro em espécie que se verificou durante a pandemia de COVID-19". De acordo com a instituição, a medida não terá impacto na base monetária do país. 

A diretora de Administração do Banco Central, Carolina Barros, afirmou que a medida é preventiva, "para o caso da população demandar ainda mais de dinheiro em espécie".

"A quantidade de dinheiro em circulação é adequada e não há falta de numerário. Não sabemos, no entanto, por quanto tempo os efeitos do entesouramento trazidos pela pandemia podem perdurar. Como o dinheiro ainda é base de nossas transações, entendemos que o momento é oportuno para o lançamento da nova cédula", acrescentou.

A economista e professora da UERJ, Maria Beatriz de Albuquerque David, em entrevista à Sputnik Brasil, comentou que é mais barato produzir uma nota maior, com maior valor, e retirar outras notas do mercado, porque o custo de impressão é mais ou menos o mesmo. "Qual é o grande problema? Dificuldade nas ações pequenas, mas há uma tendência do que se chama na economia de preferência de liquidez", afirmou. 

'Entesouramento' durante a pandemia de COVID-19

O argumento utilizado pelo Banco Central é de que as medidas de combate à pandemia da COVID-19 resultaram em um maior uso de dinheiro em espécie.

De acordo com órgão, em março, "a quantidade de dinheiro vivo com a população era de aproximadamente R$ 216 bilhões. A partir desse momento, esse montante começou a subir rapidamente e hoje está em R$ 277 bilhões".

​Com isso, um dos principais motivos para uma maior demanda por células é o "entesouramento", ou seja, o dinheiro guardado em casa.

Maria Beatriz de Albuquerque corrobora com este argumento, destacando que as restrições de circulação impostas pela pandemia criaram uma tendência nas pessoas de preferir guardar dinheiro em moeda.

De acordo com ela, "isso faria com que você transportasse menos volume, então tem um problema de distribuição, de custo menor de impressão, e de facilitar entesouramento". 

"Se tivesse uma inflação alta, as pessoas não estariam fazendo isso, mas como a inflação é baixa e a perda do poder de compra no mercado interno não é grande, então a tendência é o estímulo do entesouramento", destacou. 

Ameaça de inflação?

A anúncio da nova nota trouxe a memória de um período de grande inflação no país, quando o dinheiro perdia o valor rapidamente e notas maiores eram lançadas com frequência.

O professor de Economia da Universidade Federal Fluminense (UFF), André Nassif, em entrevista à Sputnik Brasil, afirmou que a medida não tem "nada a ver com expansão de oferta de moeda na economia, ou com a expansão do que a gente chama de base monetária".

"O impacto econômico, seja real [sobre o PIB e renda agregada], seja monetário [inflação], será zero. Por uma razão simples: novas cédulas de R$ 200,00 que passarão a circular não implicam necessariamente aumento ou redução de base monetária, isto é, da oferta de moeda na economia. Isso depende da política monetária do Banco Central, que pode decidir aumentar ou reduzir a oferta monetária, independentemente dos tipos de cédulas, novas ou já existentes", explicou. 

Nassif destacou que a introdução de cédulas de maior valor era mais comum na época da alta inflação, entre os anos 1980 e meados dos anos 1990.

"Por conta da necessidade de usar muitas cédulas, que perdiam valor rapidamente com a inflação alta, era naturalmente aceita pelo mercado e pela sociedade a incorporação de notas de maior valor. No caso atual, até onde pude notar, passada uma controvérsia inicial desencadeada por acadêmicos e jornalistas, não percebi qualquer impacto adverso no âmbito do mercado por causa dessa medida do Banco Central", completou.

Críticas

Apesar de não representar um risco para um aumento da inflação, como em outros períodos de criação de notas de valores mais altos, na visão dos especialistas, a introduçao da nova cédula não deixou de ser alvo de críticas. 

​O economista André Nassif observou que não é um bom momento político para fazer lançamento de cédulas novas, pois "há outras medidas mais importantes a cargo das autoridades monetárias nesse momento dramático de quase paralisação das atividades econômicas como, por exemplo, solucionar o problema de como fazer chegar a liquidez às empresas brasileiras".

Já a economista Maria Beatriz Albuquerque destacou que a medida é "um retrocesso", considerando que no resto do mundo houve um avanço significativo na realização de mais transações eletrônicas.

"A própria pandemia fez com que as pessoas usassem menos moeda viva, mas isso tem uma questão de segurança, é mais psicológico do que real", disse.  

Além disso, a especialista observou também que já havia uma tendêncianotas de baixo valor em caixas eletrônicos.

"A tendência das máquinas era te dar notas de R$ 100, notas de R$ 50, se o valor que você pedisse fosse um valor muito alto. Quer dizer, o próprio sistema de distribuição monetária já estava tendendo a trabalhar com notas de valor mais elevado", completou. 

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