Rússia, EUA e as dificuldades para chegarem a um acordo sobre Síria

© Sputnik / Mikhail Alaeddin / Acessar o banco de imagensPoliciais da Síria estão velando no corredor humanitário em Aleppo oriental
Policiais da Síria estão velando no corredor humanitário em Aleppo oriental - Sputnik Brasil
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Washington retirou as suas propostas, que antes foram apresentadas a Moscou, sobre a normalização da situação em Aleppo oriental. As iniciativas dos norte-americanos, segundo a opinião russa, parecem ser uma nova pausa para os combatentes.

Nos últimos meses, a situação em Aleppo agravou-se, batalhas ferozes acontecem tanto nas cidades, como nos arredores. Os grupos terroristas da Frente al-Nusra (organização terrorista proibida na Rússia) detêm milhares de civis e os impedem de sair da cidade pelos corredores humanitários, organizados pelo exército.

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No mês de novembro, o Exército Livre da Síria avançou para Aleppo ocidental, reconquistando quase metade do território, dominado por grupos armados. Segundo os dados do Centro para a Reconciliação na Síria russo, no fim de novembro, o exercito sírio libertou mais de 40% do território total em Aleppo oriental.

Novas propostas de Kerry

Até agora, as negociações sobre Síria da Rússia com os EUA não alcançaram concordância em tais assuntos que ameaçariam o grupo terrorista Frente al-Nusra, sendo esta discordância inaceitável para a Rússia.

No entanto, durante o último encontro em Roma, o secretário de Estado dos EUA John Kerry apresentou ao chanceler russo Sergei Lavrov novas propostas sobre Aleppo que, segundo disse o ministro russo, favorecem a parte russa.

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Moscou estava pronta para imediatamente enviar especialistas militares a Genebra para início das consultas com os colegas norte-americanos e definição dos prazos concretos para a libertação de Aleppo das mãos dos combatentes. Conforme as propostas, inicialmente, os especialistas militares deveriam concordar em rotas e prazos de saída dos combatentes da cidade, depois disso seria estabelecido um regime de cessar-fogo. Os especialistas russos antes sublinharam que a saída dos combatentes da cidade com armas significaria que a luta contra eles iria continuar em outros lugares. Mesmo assim, a vida em Aleppo se normalizaria.

O departamento do Estado não quis comentar as novas tentativas da Rússia e dos EUA em chegar a um acordo sobre a Síria. O porta-voz do órgão Mark Toner somente confirmou a realização das negociações, sem entrar em detalhes.

"Houve discursões, após o encontro em Roma [entre o secretário de Estado dos EUA, John Kerry, e o ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergei Lavrov], que as negociações técnicas seriam realizadas nesta semana, mas não podemos confirmar isso, todavia", disse Toner em um briefing na segunda-feira (5).

Roteiro de filme policial

Estes acordos russo-americanos sobre a Síria, ou seja, uma nova tentativa entre dois países de chegar a um acordo, Lavrov chamou de "roteiro de filme policial". Em cinco dias, Washington propôs uma coisa, concordou, mudou a sua opinião e apresentou outra proposta — contrária à primeira.

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A cronologia dos eventos é a seguinte: em 2 de dezembro, Kerry apresenta as propostas a Lavrov em Roma, Moscou concorda com elas e expressa prontidão de enviar os expertos militares a Genebra para as consultas. Depois, em 5 de dezembro, Lavrov declarou que Washington pediu um adiamento e os especialistas militares deveriam partir em 7 de dezembro, na quarta-feira. Mas já na terça-feira (6) revelou-se que as consultas não iriam começar na quarta-feira (7), pois Washington retirou as suas propostas e apresentou novas que parecem uma tentativa de ganhar tempo para que os militantes recuperem fôlego e abasteçam suas reservas.

"Ontem à noite, recebemos uma mensagem deles (os EUA), dizendo que, infelizmente, amanhã eles não poderão se encontrar conosco, que eles mudaram de decisão, que anulam seu documento e já têm outro — voltando para a estaca zero, a julgar por nossas primeiras impressões após a sua leitura", partilhou Lavrov.

"Vamos investigar o que é que deu errado", acrescentou o chefe da Chancelaria russa.

Todavia não há acordo, mas os combatentes já se recusaram

No dia seguinte, depois de Moscou anunciar uma nova tentativa de chegar a um acordo com os EUA sobre a questão de Aleppo oriental, os comandantes militares informaram que não iriam desistir e deixar a cidade em paz.

"Eu perguntei aos grupos, eles disseram, 'nós não vamos desistir'. Os comandantes militares em Aleppo indicaram: 'Nós não vamos deixar a cidade'. Não há problemas nos corredores humanitários para os civis, mas não vamos sair da cidade", afirmou à Reuters o representante do grupo Fastaqim, Zakaria Malahifji.

O grupo Fastaqim coopera com a organização terrorista Frente Fatah al-Sham (anteriormente Frente al-Nusra), sendo esta organização proibida em muitos países.

Em resposta a estas ameaças, Moscou destacou que, por enquanto não há acordo com os próprios EUA sobre o prazo e mecanismo da retirada dos combatentes da cidade.

"Em qualquer caso, se alguém se recusar a sair por boa vontade, ele será eliminado, assim entendo. Não há outra alternativa", frisou Lavrov.

O secretário de Estado foi traído?

Moscou tem repetidamente afirmado que há interesse sincero do secretário de Estado dos EUA, John Kerry, para encontrar uma alternativa de sair do impasse sobre a Síria, mas uma conversa séria com a administração atual dos EUA não pode ser atingida.

"Nós compreendemos que uma conversa séria com os nossos parceiros americanos não pode ser atingida. O mesmo foi com os nossos acordos com Kerry em 9 de setembro, que já foram alcançados, entraram em vigor e, em seguida, os EUA começaram a procurar desculpas para sair deles e, finalmente, encontraram o pretexto e anunciou que eles sairiam desses acordos", Lavrov recordou.

"Agora a situação é muito semelhante: uma alternativa que foi proposta pelos americanos no papel, e a que tem sido apoiada publicamente por nós, agora não é adequada. É difícil entender quem toma decisões lá, mas, aparentemente, há muitas pessoas que querem minar a autoridade e ações de John Kerry," disse ele.

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A Rússia e os EUA concordaram, em 9 de setembro, no plano para a Síria. Ele incluiu, em primeiro lugar, o cessar-fogo e a coordenação das operações entre os militares russos e norte-americanos. O porta-voz do Departamento de Estado, John Kirby, disse em 3 de outubro que os EUA abandonariam a cooperação bilateral com a Rússia sobre um cessar-fogo na Síria, deixando apenas os canais militares para evitar conflitos no espaço aéreo da Síria entre a aviação dos dois países. O Ministério das Relações Exteriores russo, comentando sobre a decisão, se mostrou decepcionado. De acordo com a declaração do ministério russo, a decisão de Washington de dar um basta na cooperação com a Rússia sobre a Síria mostra que os EUA não podem cumprir as suas obrigações.

A Resolução do Conselho de Segurança da ONU

Neste contexto, na véspera, a Rússia e a China bloquearam um projeto de resolução do Conselho de Segurança das Nações Unidas sobrea situação humanitária em Aleppo, que foi proposta pelo Egito, Espanha e Nova Zelândia. O documento propôs o cessar-fogo em Aleppo por um período inicial de dez dias, incluindo ataques contra as posições do grupo terrorista Frente al-Nusra e o Daesh (organizações terroristas proibidas na Rússia).

A resolução não passou no Conselho de Segurança, a Rússia e a China bloquearam-no durante a votação que foi realizada na segunda-feira (5) à noite. A Venezuela e Angola também votaram contra o projeto. Desde o início do conflito na Síria, em 2011, a Rússia já votou seis vezes contra o projeto de resolução sobre a situação no país.

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Mais cedo, Lavrov chamou este projeto de resolução contraprodutiva, especialmente em tais circunstâncias quando a Federação da Rússia e os Estados Unidos da América como co-presidentes do Grupo Internacional de Apoio da Síria, tentam harmonizar os meios para resolver a situação em Aleppo. O cessar-fogo imediato e uma pausa de dez dias "que os autores-entusiastas queriam tão generosamente dar aos combatentes, seriam usados para se reagrupar e reabastecer as forças e as reservas de extremistas, assim, isso somente prejudicaria a libertação de Aleppo ocidental", Lavrov disse na véspera.

Ao mesmo tempo, segundo disse o ministro, levando em consideração todos os aspectos de desenvolvimento da situação atual, "o projeto da resolução é, em grande medida, um passo provocador que mina os esforços russo-americanos".

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