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Leilão de aeroportos no Brasil pode ser bem-sucedido mesmo com pandemia, diz ex-ministro

© AP Photo / Andre PennerBoeing 737 MAX da Gol Linhas Aéreas se aproximando do Aeroporto Internacional de Guarulhos, São Paulo, 9 de dezembro de 2020
Boeing 737 MAX da Gol Linhas Aéreas se aproximando do Aeroporto Internacional de Guarulhos, São Paulo, 9 de dezembro de 2020 - Sputnik Brasil, 1920, 11.03.2021
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Para o economista e ex-ministro do Planejamento Dyogo Oliveira, leilão para a concessão de aeroportos no Brasil pode ser atrativo para os investidores mesmo com queda do setor provocada pela pandemia.

Está previsto para 7 de abril, na sede da B3, a Bolsa de Valores de São Paulo, o leilão de concessão de 22 aeroportos espalhados por vários pontos do Brasil.

O evento foi antecedido por uma sessão pública, destinada a sanar dúvidas sobre os procedimentos, realizada nesta quinta-feira (11). Segundo os organizadores, a sessão tinha como objetivo apresentar a dinâmica que será adotada no dia do pregão da sexta rodada de concessão de aeroportos, cujos administradores enfrentam grandes dificuldades com a baixa movimentação desde o início da pandemia de coronavírus.

Em conversa com a Sputnik Brasil, o economista Dyogo Oliveira, presidente da Associação Nacional das Empresas Administradoras de Aeroportos (ANEAA), ex-ministro do Planejamento e ex-presidente do BNDES durante o governo de Michel Temer, acredita que, apesar de a pandemia do novo coronavírus ter afetado de maneira muito forte as atividades nos aeroportos, o leilão tem tudo para ser bem-sucedido.

O leilão trata da concessão para ampliação, manutenção e exploração de 22 aeroportos, distribuídos em três blocos, entre os quais se destacam os terminais de três importantes capitais: Curitiba (PR), Manaus (AM) e Goiânia (GO).

De acordo com Oliveira, esses aeroportos têm um volume de tráfego considerável e estão em regiões de crescimento econômico, como, por exemplo, a região Centro-Oeste, que tem forte presença do agronegócio, e a região Norte, onde está situado o polo industrial de Manaus, "que é uma área de atração de investimentos da indústria". 

Assim, tratam-se de terminais que são interessantes para atrair os investidores, e que, além disso, estão sendo negociados em blocos, com outros terminais menores dentro de uma mesma região, o que representa uma atrativo ainda maior para os interessados.

"Há um dinamismo subjacente a esses aeroportos que estão em leilão, e eles são leiloados em blocos. Então, cada aeroporto [...] faz parte de um dos blocos, e que junto vem um conjunto de outros aeroportos da mesma região. É um leilão que, a meu ver, tem boa chance de ser bem-sucedido, apesar das dificuldades do momento que a gente está passando", avalia.

O presidente da ANEAA, no entanto, ressalta que, mesmo que as concessões sejam consideradas negócios interessantes, a queda no movimento provocada pela pandemia traz um efeito negativo para o leilão, "que já foi reconhecido pelo próprio governo", na hora de reavaliar os preços.

"Houve um processo de revisão dos preços mínimos para esse leilão que, digamos assim, incorporam os impactos que a pandemia da COVID-19 tem em termos de volume", assinala.

Como as empresas que administram os aeroportos estão enfrentando a crise?

Para Dyogo Oliveira, a pandemia afetou de maneira muito forte as atividades nos aeroportos. Na opinião do ex-ministro do Planejamento, isso ocorreu principalmente porque a reação mais comum à pandemia é o isolamento, a redução da movimentação das pessoas. Além disso, houve um efeito combinado dessa redução com a queda da atividade econômica, o que resultou em "uma queda inicial, em abril do ano passado, de quase 90% da movimentação nos aeroportos".

No entanto, o especialista ressalta que houve um processo de recuperação no segundo semestre do ano passado, fazendo com que os aeroportos do país fechassem 2020, em média, "operando em aproximadamente 55% do volume do ano anterior".

Essa redução no volume de operação, segundo Oliveira, evidentemente trouxe efeitos severos para a situação financeira e a operação dos aeroportos. 

"Do ponto de vista das operações, [...] alguns aeroportos chegaram até a, por exemplo, deixar um terminal fechado e usar apenas um. Outros fizeram redução de despesas, cortes de pessoal e uma série de medidas que visavam adequar o tamanho da operação ao tamanho do tráfego que estava ocorrendo. Essas medidas surtiram efeito [...] e foi possível manter os aeroportos em funcionamento, atendendo a população em todo o país", destaca.   

Já em relação à situação financeira das administradoras dos terminais, Oliveira aponta que foi crucial a ação do governo federal, que tomou uma série de medidas de auxílio ao setor aéreo. "Entre elas, a principal foi a postergação do pagamento das outorgas, que é um valor que os aeroportos recolhem anualmente ao governo, e que era previsto para ser pago entre maio e julho, e foi postergado para dezembro", comenta.

Além disso, houve "um processo de reequilíbrio dos contratos em virtude dos prejuízos gerados pela pandemia" ao final de 2020, o que permitiu "uma redução das despesas dos aeroportos e contribuiu para que as empresas mantivessem suas operações, o que fez com que nenhum aeroporto no Brasil parasse de funcionar durante a pandemia", avalia.

Como o setor está enfrentando as restrições impostas por outros países ao Brasil?

Sobre as medidas adotadas por diversos países em relação ao Brasil, com restrições para a chegada de voos procedentes e para o país, Oliveira assinala que elas têm "forte impacto na logística, porque há uma integração entre os voos internacionais e os voos domésticos".

Além disso, o especialista destaca que os voos internacionais são importantes para o funcionamento do país "porque trazem insumos para a indústria brasileira, em particular para a indústria de medicamentos, como é o caso das vacinas".

Como representante do setor, no entanto, o presidente da ANEAA compreende que essas restrições são uma maneira de os países tentarem se proteger em uma situação de pandemia, mas ressalta que, se for necessário voar, "os aeroportos estão preparados, com o maior nível de segurança sanitária possível".

"Se há e a necessidade de voar, estamos prontos para atender a população, mas, em primeiro lugar, naturalmente, vem a nossa saúde, vem o cuidado que nós temos que ter com nós mesmos e com as pessoas que nos cercam. A gente vê com preocupação essa questão das restrições, mas, por outro lado, também temos que compreender que é um momento de grave crise, que as medidas que estão sendo adotadas são medidas necessárias para proteger as pessoas", conclui Oliveira.
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