Segundo o documento chamado Demografia das Empresas e Estatísticas de Empreendedorismo 2018, elaborado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), dois anos após a recessão econômica de 2014 a 2016, as empresas continuaram fechando suas portas no Brasil. Apenas em 2018, 65,9 mil empreendimentos encerraram suas atividades, o que representa uma piora em relação ao ano anterior, quando 22,9 mil empresas deixaram de existir.
(1/2) Com taxa de sobrevivência de 84,1%, o Brasil terminou 2018 com saldo negativo de empresas criadas e encerradas, segundo o estudo Demografia das Empresas e Estatísticas de Empreendedorismo. Entre 2013 e 2018, o país perdeu 382,2 mil empresas. Leia: https://t.co/y91uZvYSwD pic.twitter.com/x3YjnvMK0S
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Recessão tem relação direta com questões políticas
Em conversa com a Sputnik Brasil, o economista Ricardo Balistiero, coordenador do Curso de Administração do Instituto Mauá de Tecnologia, instituição sediada no estado de São Paulo, assinalou que as questões políticas foram determinantes para a recessão de 2014 a 2016, pois se tratou de um período muito conturbado, marcado pela guinada na política econômica da presidente Dilma Rousseff. A petista se elegeu com um discurso, mas mudou completamente desde o primeiro dia de seu novo mandato, gerando uma contradição que complicou muito o processo de ajuste econômico.
Além disso, o período se caracterizou pela abertura de uma fratura política, da qual não nos recuperamos até hoje: a contestação do candidato derrotado Aécio Neves, que colocou em xeque o resultado das urnas. Segundo Balistiero, isso gerou uma tensão política, que redundou no aprofundamento dos problemas econômicos do país.
"Basicamente, a explicação para a recessão se dá por questões políticas, uma vez que o país ficou muito longe de um entendimento, seja pela polarização, seja pelas inabilidades de articulação política do governo Dilma. E também por razões econômicas, das quais se destacam dois fatores: a queda muito forte do valor das commodities e o descontrole fiscal, levando o país a uma inflação que chegou a se aproximar de dois dígitos. Tudo isso acabou culminando no impeachment da presidente", comenta o professor.
Para o economista, esse período representou um marco, pois, desde então, o Brasil não conseguiu qualquer tipo de conciliação política. Logo após o impeachment, o país chegou a oferecer indícios de que haveria uma retomada, mas os escândalos de corrupção acabaram minando a credibilidade do governo Temer. Em seguida, houve uma eleição muito polarizada, de um presidente que aposta nessa polarização até hoje.
"Isso nos afasta de qualquer possibilidade de entendimento político. O país, seis anos depois, continua em recessão, com um déficit público muito elevado, e bastante dividido politicamente. Estamos num cenário bastante complicado, pois ainda estamos em um processo muito lento de recuperação econômica, e sem qualquer estratégia definida que nos possibilite recolocar o país na rota do crescimento econômico", opina.
Relação entre número de empresas fechadas e desemprego
Para o economista do Instituto Mauá de Tecnologia, o grande número de empresas que deixaram de existir tem relação direta com a questão do desemprego. Muitas empresas fecham suas portas porque sequer deveriam ter sido abertas: "Existe muito empreendedorismo de conveniência, quando a pessoa perde um emprego e abre uma empresa sem qualquer tipo de plano de negócios, sem prospecção de mercado. O índice de mortalidade de empresas é muito grande nos primeiros 12 ou 24 meses de existência. Para cada negócio bem-sucedido, temos dezenas ou centenas de outros que não deram certo. O empreendedorismo de conveniência que é produto do aumento do desemprego é muito grande".
De acordo com o IBGE, 2,9 milhões de empregos foram perdidos nesses cinco anos no país, mas o professor acredita que as estatísticas oficiais não representam a realidade que se verifica nas ruas. "Ao andar pelas grandes cidades do Brasil, é muito fácil perceber os impactos da recessão, não só do biênio 2015/2016, mas principalmente da grande recessão de 2020. Por mais que o país tenha voltado a gerar empregos nas últimas semanas, os desafios ainda são muito grandes", opina.
A taxa de desemprego atingiu 14,3% na quarta semana de agosto. Essa alta acompanha o aumento na população desocupada na semana, totalizando 13,7 milhões de desempregados.
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Saiba mais na #PNADCovid19, divulgada hoje pelo #IBGE: https://t.co/pKbVgD7Jv9 pic.twitter.com/sc0FjoG5lz
Primeiro trimestre de 2021 será crucial para a agenda econômica
Ricardo considera que o primeiro trimestre de 2021 será um marco fundamental para se definir o futuro da economia brasileira, já que haverá o fim do auxílio emergencial e muitas pessoas não estão procurando emprego atualmente por conta da ajuda governamental. Para o professor, a única saída para se conseguir a geração de emprego é o crescimento econômico.
"Não existe mágica. Não adianta fazer reforma trabalhista, criar a PEC da liberdade econômica. O país precisa de tração para poder crescer, e nós não temos isso no horizonte. O crescimento do ano que vem não vai compensar a queda do PIB deste ano, o que não é uma notícia boa. Os próximos anos serão de muitos desafios e o mais importante é não perder o foco no ajuste macroeconômico. Isso deveria ser a principal política econômica do governo", opina o economista.
Para Balistiero, o ajuste macroecônomico é importante porque o país inicia a crise de 2020 com um déficit muito alto, e o déficit este ano se aproxima de R$ 1 trilhão. Além disso, o coordenador do Curso de Administração do Instituto Mauá de Tecnologia afirma que está muito claro que o país tem muita dificuldade para financiar o auxílio emergencial e não se sabe qual será a agenda política que o governo vai priorizar a partir do ano que vem.
"Todas as negociações do governo giram em torno de uma ala política que sempre foi mais gastadora e menos inclinada aos ajustes, e o Ministério da Economia perdeu muita força na agenda de reformas. Persistir nessa agenda seria uma maneira de o país vislumbrar alguma retomada de crescimento econômico. Mas, se o governo resolver gastar pensando nas eleições de 2022, as notícias serão muito ruins, pois seu preço será muito alto", conclui o especialista.
As opiniões expressas nesta matéria podem não necessariamente coincidir com as da redação da Sputnik
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