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Com famílias endividadas, comércio vive clima de incerteza na reabertura, diz economista

© Folhapress / FotoRuaApoiadores do presidente Bolsonaro fazem carreata na Avenida Paulista, em São Paulo, a favor da reabertura do comércio
Apoiadores do presidente Bolsonaro fazem carreata na Avenida Paulista, em São Paulo, a favor da reabertura do comércio  - Sputnik Brasil
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A crise econômica provocada pela pandemia da COVID-19 no Brasil se reflete no endividamento das famílias e afeta os números do comércio.

Para comentar essa relação, a Sputnik Brasil ouviu o economista-chefe da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), que salientou o cenário de incertezas no setor.

A CNC revelou através de pesquisa que houve um aumento no percentual de famílias endividadas no Brasil, chegando ao maior patamar da série histórica. Em junho deste ano, a taxa de endividamento chegou a 67,1%, levando em conta dívidas com cartão de crédito, empréstimo pessoal, seguro, cheque pré-datado, carnês de loja e prestações de automóveis. Em relação à inadimplência, o índice também é recorde e chegou a 25,4% das famílias.

Fábio Bentes, economista-chefe da CNC ressalta que mesmo em meio a esse cenário, o setor do comércio depende do crédito para as famílias e também do crédito para as empresas para crescer e segurar da crise econômica.

"Boa parte do comércio depende das condições de crédito para operar, para crescer. O comércio conta com o crédito, por exemplo, para a realização de vendas de produtos de consumo duráveis. Pouquíssimas pessoas no Brasil e mesmo em outras partes do mundo têm condições de comprar um automóvel, um eletrodoméstico, um eletroeletrônico, sem recorrer ao crédito", afirma Bentes em entrevista à Sputnik Brasil.

A pesquisa da CNC revela que as famílias estão se endividando devido, não ao aumento do nível de atividade econômica, mas sim porque o crédito está sendo usado para fechar as contas no final do mês, diz o economista.

O cenário de acesso ao crédito no Brasil em meio à pandemia é apontado como um entrave para a retomada econômica do país. Estima-se que apenas 17% do crédito liberado para o mercado através de medidas do governo chegou a ser emprestado.

​Bentes aponta que esse cenário se deve ao risco assumido pelas instituições financeiras e à taxa de juros, que está no valor mais baixo da história brasileira, dificultando o acesso ao crédito a pessoas físicas e jurídicas.

"Olhando pelo lado especificamente do consumidor, a gente sabe que o travamento, o empoçamento desses recursos dentro das instituições financeiras tende a criar dificuldades na retomada da atividade econômica no país", afirma o economista, acrescentando que essa situação está refletida na atividade de setores do varejo.

O governo federal tem anunciado medidas de ampliação de crédito e socorro econômico às empresas, assim como o auxílio emergencial destinado às famílias. No entanto, Bentes avalia que essas são medidas ainda "tímidas" e que não serão suficientes para resolver o problema.

"Em todos esses casos o que a gente percebe é que, embora a intenção seja ótima, a magnitude da ajuda ainda é muito tímida. Só para a gente ter como referência, a renda média das famílias brasileiras ultrapassa os dois mil reais por mês. Ou seja, um auxílio de R$600,00, por mais que seja bem vindo, não vai ser suficiente para fazer frente a todas as necessidades nesse momento", aponta o economista, que sugere a liberação de parte do FGTS como uma possível medida de alívio para as famílias.

Atualmente o Brasil tem uma taxa de desemprego crescente e vive sob a expectativa de forte queda no Produto Interno Bruto (PIB) até o final de 2020. Bentes relata que em meio a esse contexto, o comércio teve um prejuízo de mais de R$ 14 bilhões no final de junho e que mesmo sob um ritmo lento de recuperação, as perspectivas não são boas.

"A dúvida que fica é quanto à sustentabilidade principalmente dessa flexibilização, se a gente pode, de qualquer erro nesse processo de flexibilização provocar um aumento no número de contaminados e reverter esse processo de reabertura. De qualquer forma, a flexibilização ajuda sim o varejo a fechar as contas, ou pelo menos a reduzir as perdas no curto prazo", conclui.

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