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COVID-19: China e Rússia ganham aos EUA na América Latina com poder brando, diz especialista

© Sputnik / Sergei GuneevPresidente da Rússia, Vladimir Putin, participa de eventos realizados no âmbito de visita à Rússia do presidente da China, Xi Jinping
Presidente da Rússia, Vladimir Putin, participa de eventos realizados no âmbito de visita à Rússia do presidente da China, Xi Jinping - Sputnik Brasil
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O diretor de um centro de pesquisas na Universidade Autônoma Metropolitana da Cidade do México acredita que os EUA não poderão continuar expandindo-se na região, especialmente considerando a ajuda humanitária da China e Rússia.

Segundo o Dr. Heinz Dieterich, diretor do Centro de Ciências da Transição (CTS) da Universidade Autônoma Metropolitana da Cidade do México e coordenador do Projeto Mundial de Pesquisa Avançada (WARP), Washington provavelmente deixará de interferir nos assuntos do continente no futuro próximo.

"Estará absorvido até novembro pela luta eleitoral interna entre as duas fações da elite do poder, os democratas e os republicanos. Também sofreu uma tremenda perda mundial de prestígio e de capital político, semelhante à dos europeus ineptos, por causa de sua incapacidade de lidar com a pandemia", opina o professor em declarações à Sputnik Internacional.

"Assim, Washington está em uma má posição para se expandir na região. Por outro lado, não precisa, porque todos os regimes social-democratas das últimas duas décadas já foram removidos."

Papel da China e Rússia

Por outro lado, a influência da China e da Rússia no continente pode aumentar, já que Pequim e Moscou estão emergindo como vencedores na batalha "do poder brando global", afirma o acadêmico.

Nesta semana, Rússia, China e Cuba enviaram equipamento médico e especialistas em saúde para a Itália, o país que enfrenta o segundo maior surto mundial de COVID-19. Enquanto isso, vários Estados latino-americanos solicitaram à Rússia o fornecimento de unidades móveis anti-infecciosas, segundo a corporação Proekt-Technika, fabricante dos hospitais móveis.

Por sua vez, a República Popular da China está oferecendo máscaras, luvas, termômetros e trajes de proteção para os países da região.

Até o momento, a China e a Rússia já forneceram a tão necessária ajuda médica a muitos Estados que lutam contra a doença, aponta o professor, apelidando a iniciativa de "Rota da Seda para a saúde global".

Só Cuba estaria preparada para COVID-19

Na opinião do especialista, nenhum país latino-americano está preparado para lidar com a pandemia, exceto Cuba.

"Enquanto a saúde pública está em cacos, a saúde do século XXI é privada e para os ricos", observa Dieterich. "Além disso, até 60% da população vive da economia informal e tem condições de vida muito precárias."

"No Rio de Janeiro, por exemplo, cerca de 1,5 milhão de pessoas, ou seja, 25% da população, vive em condições de aglomeração e insalubridade em favelas. [Falta de] organização popular, níveis de educação muito baixos e falta de educação cívica completam o quadro desastroso."

O número de casos confirmados de COVID-19 na América Latina e no Caribe está aumentando rapidamente, sendo o Brasil, o Chile e o Equador os países mais expostos à doença até agora. Para impedir a propagação, os países estão introduzindo medidas urgentes de quarentena, incluindo isolamento total.

O coronavírus na América Latina

Embora Jair Bolsonaro continue minimizando a ameaça do surto da COVID-19, o Brasil já relatou 3.477 infecções e 93 mortes até sexta-feira (27), segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS). Desde a semana passada, muitos brasileiros estão protestando contra a gestão da crise do coronavírus pelo presidente do país com ondas de panelaços.

© REUTERS / Amanda PerobelliPanelaço durante pronunciamento de Jair Bolsonaro em São Paulo, pedindo a saída do presidente
COVID-19: China e Rússia ganham aos EUA na América Latina com poder brando, diz especialista - Sputnik Brasil
Panelaço durante pronunciamento de Jair Bolsonaro em São Paulo, pedindo a saída do presidente

Em contrapartida, Cuba não só mantém o vírus sob controle, mas também presta assistência médica em todo o mundo. Os médicos cubanos foram dos primeiros a ajudar os chineses em Wuhan. Muitos também foram enviados para Itália, Jamaica, Venezuela, Nicarágua e vários outros países.

Até mesmo o governo de Bolsonaro, que antes tinha terminado as licenças médicas de milhares de médicos cubanos, está agora considerando recuar na sua decisão.

De acordo com Dieterich, o agradecimento deve ir para Fidel Castro, que fez da saúde a prioridade nacional do país há várias décadas.

"Na década de 1980, Fidel encobriu uma nova ideia estratégica para o futuro: converter Cuba de uma economia agrícola monoexportadora (açúcar) em um polo médico global de alta tecnologia", lembra o professor.

"Enormes instalações de pesquisa e produção médica e biológica foram construídas e foi desenvolvido um sistema educacional para médicos, enfermeiros e técnicos em todo o país", diz à Sputnik.

Dieterich prevê que muitos países da América Latina provavelmente repetirão os cenários espanhol e italiano da epidemia de COVID-19. Por sua vez, Cuba seguirá o exemplo da China, implementando medidas rigorosas e coordenadas. O país insular registrou seus três primeiros casos de COVID-19 no dia 11 de março. Até sexta-feira (27) foram registradas 67 infeções e uma morte.

Pausa na luta política

A pandemia irrompeu enquanto vários Estados latino-americanos estavam em meio a uma luta política interna. Ainda assim, Dieterich acredita que a propagação da doença apenas congelará as crises.

Por causa da epidemia do coronavírus, La Paz adiou indefinidamente as eleições bolivianas. Inicialmente a votação estava marcada para 3 de maio, após a troca de poder em novembro de 2019 apoiada pelos EUA.

"Isso proporciona uma fase de acumulação de forças; para os subversivos que realizaram o golpe de Estado contra Evo [Morales], bem como para o partido de Evo – Movimento ao Socialismo (MAS)", presume ele.

"Mas isso não muda a equação básica. O MAS vai ganhar as próximas eleições, mas não poderá governar, porque será sabotado pela direita e por Washington", explica o acadêmico.

Por sua vez, os chilenos, que protestam há vários meses, não poderão votar no referendo planejado sobre a Constituição do país. Embora os protestos tenham sido colocados em pausa no Chile, "não haverá uma mudança real na situação do poder" no país, considera o professor, chamando o governo chileno de "regime ditatorial oligárquico".

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