Depoimento do correspondente do Le Monde atingido por terroristas no Bataclan à Sputnik

© REUTERS / Christian HartmannTrês sobreviventes se dão um abraço fora da sala de concertos Bataclan, onde tinha acontecido um ataque com fuzil automático
Três sobreviventes se dão um abraço fora da sala de concertos Bataclan, onde tinha acontecido um ataque com fuzil automático - Sputnik Brasil
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Sputnik entrevistou o correspondente do Le Monde, Daniel Psenny, o primeiro jornalista a fotografar os feridos da boate Bataclan. Ele foi ferido, enquanto ajudava as vítimas.

"Eram 21:40, quando eu ouvi algo parecido com estalos. Não entendi o que estava acontecendo. Eu abri a janela e vi pessoas caindo, caos, gritos, medo, pessoas mortas e feridas. Então eu entendi que aconteceu algo de terrível. Telefonei para a redação, tentando avisar. Eles me contaram sobre outros atentados terroristas em Paris. Então eu resolvi fotografar, para documentar tudo, sem saber o que estava acontecendo direito. Fotografei por uns 10 minutos e depois ficou tudo quieto. Segundo fiquei sabendo depois, os terroristas tomaram reféns e subiram para um andar mais alto. O silêncio durou por uns 10 minutos. Saí para a rua, onde havia muitos feridos, mortos, pessoas que não demonstravam sinal de vida. Ao lado do prédio eu vi uma pessoa. Me aproximei dela, para entender se estava viva. Estava viva. E eu, com ajuda de outra pessoa, levei ele para o hall do prédio. Esperei os salva-vidas, depois fui para a rua, tentando verificar o que ocorria. Alí fui atingido por uma bala de terrorista, que atirou de cima", relatou Psenny.

"Foi da janela. Ele estava com reféns. Ele me viu e atirou, como um sniper".

"Depois ficou difícil. Eu estava muito ferido. A pessoa que eu ajudei estava muito pior. Chamei o vizinho do terceiro andar. Ele acolheu nós dois e ficamos por três horas trancados no apartamento dele. Veio a polícia e as equipes de salvamento. Esperávamos eles tomando o prédio de assalto, para que pudéssemos sair do apartamento. Eram muitos feridos. O sangue jorrava. Depois nós falaram que, se eles não tivessem vindo, todos teriam morrido. Foi muito difícil", explicou o jornalista.

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"Não me arrependo de nada, pois a pessoa que eu ajudei está viva. Eu estou vivo. Não me arrependo do que fiz. Mas há um "antes" e "depois". Antes do 13 de novembro havia uma certa leveza, nenhum problema. Agora o medo impera. Em Paris, nesse bairro, se sente um peso. Principalmente na condição do atual estado de emergência. Quando a polícia e o exército estão mobilizados. Há um sentimento de pesar, de medo. Todos estão tomando muito cuidado." 

"Eu não tenho medo. Para muitos, entretanto, esse foi um golpe duro. E o cuidado é necessário, pois está claro que haverão outros atentados. Outros atentados mais pesados. O cuidado é necessário".

"Cuidado, mas não o medo. O medo significaria que os terroristas venceram. É preciso ficar atento. Mas não podemos ter medo. No domingo de manhã estarei aqui (no Bataclan)".

"Teremos associações, o presidente, alguns ministros. Ao mesmo tempo, será tudo muito calmo, sem discursos. Devemos honrar a memória de 90 pessoas mortas aqui há um ano. Pessoas que morreram só por terem vindo ouvir um som. Honraremos essas pessoas e os seus parentes".

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