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Marcelo Queiroga: que medidas urgentes deveriam ser tomadas pelo novo ministro da Saúde (VÍDEO)

© Folhapress / Wallace Martins/Futura PressO novo ministro da saúde, Marcelo Queiroga, durante entrevista coletiva em Brasília (DF), no dia 16 de março de 2021
O novo ministro da saúde, Marcelo Queiroga, durante entrevista coletiva em Brasília (DF), no dia 16 de março de 2021 - Sputnik Brasil, 1920, 17.03.2021
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A Sputnik Brasil conversou com especialistas para entender quais deveriam ser as prioridades do novo ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, que substituiu o general Eduardo Pazuello.

Em um dos momentos mais graves da pandemia de COVID-19 no país, o presidente Jair Bolsonaro anunciou, na segunda-feira (15), o quarto ministro da Saúde desde o início da crise sanitária.

O cardiologista Marcelo Queiroga, escolhido para assumir o posto até então ocupado pelo general Eduardo Pazuello, foi indicado ao cargo pelo senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ), filho do presidente. Queiroga é presidente da Sociedade Brasileira de Cardiologia e, após as eleições de 2018, participou da equipe de transição de governo, contribuindo para as questões relacionadas à Saúde.

Como novo ministro, já declarou que o lockdown "não pode ser política de governo" e só deve ser aplicado em "situações extremas".

Porém, para especialistas da área médica com quem a Sputnik Brasil conversou, o cenário de caos no país que Queiroga herda de Pazuello demanda algumas medidas urgentes do ministro.

© Folhapress / Jorge HelyNo Rio de Janeiro, uma mulher carrega flores no cemitério São Francisco Xavier no Dia de Finados, em meio à pandemia da COVID-19, em 2 de novembro de 2020
Marcelo Queiroga: que medidas urgentes deveriam ser tomadas pelo novo ministro da Saúde (VÍDEO) - Sputnik Brasil, 1920, 17.03.2021
No Rio de Janeiro, uma mulher carrega flores no cemitério São Francisco Xavier no Dia de Finados, em meio à pandemia da COVID-19, em 2 de novembro de 2020

Após mais de um ano do registro do primeiro caso de COVID-19 em território nacional, o Brasil atingiu, nesta semana, a marca de 282 mil mortes em função da doença, com mais de 11,6 milhões de diagnósticos confirmados.

Só nesta terça-feira (16), foram 2.798 óbitos e 84.124 casos em 24 horas. A média móvel dos últimos sete dias é de 1.976, novamente um recorde. Com relação à média de 14 dias atrás, a variação foi de +48%, o que indica uma tendência de alta nos óbitos pela doença.

O descontrole do número de novos casos tem feito hospitais de diversas cidades do país entrar em colapso. Muitos municípios em estados como São Paulo e Paraná já anunciaram que estão sem leitos de UTI para atender novos pacientes, acarretando em mais mortes de pessoas que sequer conseguiram tratamento adequado contra a COVID-19.

Ao todo, 23 estados mais o Distrito Federal estão com a quantidade de mortes em alta. Neste momento, apenas o Rio de Janeiro e o Amazonas veem uma redução no número de óbitos. Na Bahia, há estabilidade.

Além disso, o lento processo de vacinação em uma população de 212 milhões de habitantes ainda não contribui para achatar a curva de contágios. Até esta terça-feira (16), 10.389.077 de pessoas receberam ao menos a primeira dose. O número representa apenas 4,91% da população.

Segundo a epidemiologista Ethel Maciel, professora da Universidade Federal do Espírito Santo (UFES), o novo ministro deveria, primeiramente, criar um gabinete contra a crise, centralizando ações de forma coordenada.

Em seguida, a especialista cita outros pilares para o país vencer a batalha contra a doença: a mudança nas recomendações sobre o uso de máscaras e isolamento social, a aquisição de novas vacinas e testagem em massa.

"O que nós esperamos é que efetivamente o ministro da Saúde cuide da saúde dos brasileiros e brasileiras. E para isso, o Ministério da Saúde deve pautar o que é necessário, e não o contrário. Não o presidente dizer para o ministério, um presidente que não é da área da saúde e que não compreende quais são as questões técnicas necessárias. Deve ser o contrário", disse Maciel em entrevista à Sputnik Brasil.
© REUTERS / Ueslei MarcelinoPresidente do Brasil, Jair Bolsonaro, usa máscara protetora durante cerimônia no Palácio do Planalto, Brasília, 10 de março de 2021
Marcelo Queiroga: que medidas urgentes deveriam ser tomadas pelo novo ministro da Saúde (VÍDEO) - Sputnik Brasil, 1920, 17.03.2021
Presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, usa máscara protetora durante cerimônia no Palácio do Planalto, Brasília, 10 de março de 2021

A epidemiologista acredita ainda que a coordenação da crise deve envolver não só a Saúde, mas também setores como a Educação, a Assistência Social e a Economia.

"Precisamos que as pessoas tenham acesso ao auxílio emergencial, e auxílio emergencial digno, para que elas possam fazer um isolamento. Para tudo isso, é preciso, principalmente, uma coordenação técnica pautada na Ciência, nas evidências científicas", afirmou.

Maciel lembrou ainda que, atualmente, mais de um ano após a descoberta do novo coronavírus, a humanidade já tem conhecimentos mais aprofundados sobre os remédios que funcionam, quais são inúteis contra a COVID-19 e aqueles que ainda estão sendo estudados.

"O ministério precisa ter uma recomendação para todo o território nacional. Nós não podemos mais ficar administrando medicamentos que não têm evidência científica, causando, inclusive, efeitos adversos importantes em várias pessoas, que precisam procurar o serviço da saúde por conta dos efeitos dos medicamentos", disse.
© Folhapress / Dirceu Portugal /FotoarenaOrganização Mundial da Saúde (OMS) excluiu a cloroquina da lista de opções em análise para o tratamento da COVID-19
Marcelo Queiroga: que medidas urgentes deveriam ser tomadas pelo novo ministro da Saúde (VÍDEO) - Sputnik Brasil, 1920, 17.03.2021
Organização Mundial da Saúde (OMS) excluiu a cloroquina da lista de opções em análise para o tratamento da COVID-19

A virologista Giliane Trindade vai na mesma linha. Segundo a especialista, professora do Departamento de Microbiologia da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), o primeiro passo deveria ser de fato estabelecer uma gestão coordenada em todo o país.

Ela afirma que o ministério precisa ser o ponto de referência nacional, tanto para a tomada de decisões, como para a comunicação com a população.

"É muito importante que as decisões sejam tomadas no sentido de se abolir medidas negacionistas e de se enfatizar a necessidade e a importância das medidas sanitárias que nós temos para frear essa pandemia", disse Trindade, citando o uso de máscaras, a higienização das mãos, o distanciamento social e a importância de evitar aglomerações.

A virologista vai além e aponta o caminho do lockdown como fundamental para poder conter a pandemia. Ela lembra que, quanto mais o vírus circular pelo território nacional, maiores as chances de surgirem novas variantes, cada vez mais transmissíveis e letais.

Outra medida importante, segunda Trindade, é a ampliação dos leitos de UTI. Em sua visão, o Ministério da Saúde deveria ter um plano em caráter nacional para garantir mais internações, com todas as regiões do Brasil envolvidas.

Por último, a especialista aponta que o governo precisa trabalhar para adquirir mais vacinas para a população. Segundo a Organização Mundial da Saúde, para poder impedir a circulação do vírus, um país precisa ter no mínimo de 60% a 70% de sua população imunizada.

"Essa combinação de lockdown com ampliação da vacinação vai ser crucial para a gente poder frear essa pandemia, para gente poder evitar essa disseminação tão rápida do vírus e seus desdobramentos como a geração dos mutantes que nós estamos observando e que, por sua vez, tem como consequência um aumento do uso dos leitos, das enfermarias e da necessidade de assistência hospitalar", indicou a virologista.
© REUTERS / Carla CarnielMulher indígena observa segunda dose da vacina CoronaVac contra o SARS-CoV-2 em uma unidade de saúde de Guarulhos, São Paulo, Brasil, 2 de março de 2021
Marcelo Queiroga: que medidas urgentes deveriam ser tomadas pelo novo ministro da Saúde (VÍDEO) - Sputnik Brasil, 1920, 17.03.2021
Mulher indígena observa segunda dose da vacina CoronaVac contra o SARS-CoV-2 em uma unidade de saúde de Guarulhos, São Paulo, Brasil, 2 de março de 2021

Como agir para salvar vidas dos que já estão com a doença?

Para Gulnar Azevedo e Silva, presidente da Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco), é preciso garantir uma boa logística e coordenação de ações entre os órgãos de Saúde.

Em entrevista à Sputnik Brasil, a especialista disse que o Ministério da Saúde deve dar todo o suporte necessário para que estados e municípios possam fazer o melhor para os pacientes na ponta desta cadeia.

"Uma vez identificando que é um caso que vai necessitar de assistência, o mais rápido possível essa pessoa tem que ser encaminhada e transferida. Então, é necessário mobilizar todo o esquema de transporte e o SAMU [Serviço de Atendimento Móvel de Urgência]. Lugares que tenham dificuldade têm que chamar o corpo de bombeiros. O que for possível, todo o serviço e toda a estrutura de Estado têm que se mobilizar para isso", afirmou Azevedo, que também é professora do Instituto de Medicina Social da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ).
© REUTERS / Diego VaraAla de emergência no hospital Nossa Senhora da Conceição, em Porto Alegre (RS), lotado em função da pandemia do coronavírus
Marcelo Queiroga: que medidas urgentes deveriam ser tomadas pelo novo ministro da Saúde (VÍDEO) - Sputnik Brasil, 1920, 17.03.2021
Ala de emergência no hospital Nossa Senhora da Conceição, em Porto Alegre (RS), lotado em função da pandemia do coronavírus

Nos hospitais, segundo ela, é importante saber verificar que nível de cuidado cada paciente vai necessitar.

E para o bom funcionamento de todos os processos, desde a identificação do caso até o tratamento intensivo, o Sistema Único de Saúde (SUS) e também os hospitais privados precisam de apoio do governo federal, seja investindo em mais leitos ou deslocando mais profissionais para atender localidades com alta demanda.

"Toda a equipe [médica] tem que estar muito integrada para poder garantir o melhor. E é isso que nós queremos, um sistema de saúde que responda a isso. Mas neste momento é urgente a garantia de vagas e a regulação rápida. O que a gente está assistindo de pessoas esperando, com filas grandes, mais de 100 pessoas esperando um leito... Isso é inaceitável. O SUS não precisava estar passando por isso se os profissionais estivessem sendo valorizados", afirmou a presidente da Abrasco.

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