Em uma entrevista ao jornal O Globo neste sábado (9), Ricardo Schnekenberg disse que a abordagem regional da pandemia tem problemas práticos, e não basta que estados apliquem restrições. Para ele, o lockdown é uma medida ruim, "que ninguém quer tomar, mas, diante da situação atual, é a única possível".
O pesquisador aponta que, após bater 200 mil mortes nesta semana, "outras medidas não gerarão efeito suficiente no tempo que temos até a vacina ser implementada".
"Não estamos na mesma situação de março, em que se falava em lockdown e não se tinha perspectiva de quanto tempo iria demorar. Agora [com as vacinas] temos um horizonte muito mais próximo. É uma medida de curto prazo, que não faz o vírus desaparecer, mas reduz o número de casos para que outras sejam implementadas e tenham efeito a longo prazo", explicou Schnekenberg.

Segundo ele, a exemplo do Reino Unido, o governo do Brasil deveria implementar o confinamento com organização a nível nacional.
"Na situação em que o Brasil está, com transmissão comunitária em graus tão elevados, outras medidas de controle não são efetivas", afirmou. O cientista acredita que autoridades regionais não têm a capacidade necessária de fiscalização.
"O poder público estadual e municipal não têm capacidade de fiscalização suficiente e não parece que a população realmente esteja aderindo de forma significativa", afirmou.
Ao falar sobre a possível volta de um lockdown no Brasil, o pesquisador enfatizou a importância do auxílio emergencial durante esse período. "Não tem como esperar que as pessoas percam o ganho e fiquem em casa sem ter nenhum suporte. Em outros países isso sempre vem acompanhado de pacotes de suporte financeiro, empréstimos a juros baixos e diversas medidas", afirmou.

"Acredito que um lockdown extremamente intenso seja necessário, mantendo somente atividades essenciais e estabelecendo fiscalização forte para que as pessoas respeitem as regras. Cada domicílio deve conviver dentro de sua bolha familiar até o final do lockdown, com as únicas saídas diárias permitidas para compra de itens essenciais, consultas médicas e exercício físico ao ar livre respeitando o distanciamento social", concluiu o pesquisador.
Críticas ao Enem
Ao ser confrontado com a informação sobre a data do Enem no Brasil em meio ao aumento de casos da COVID-19, Ricardo Schnekenberg falou em absurdo e situação imoral.
"Esse tipo de conduta é absurdo do ponto de vista sanitário. Nenhum país faz um evento como esse — que podemos chamar de evento de superdisseminação — em um momento em que está tendo 1.200 mortes por dia. O Reino Unido ia ter algo parecido, uma prova que os adolescentes fazem no final do ensino médio e conta para a entrada na faculdade, e foi cancelada em 2020 e em 2021 inteiro".
Ainda com relação ao exame, o pesquisador de Oxford lançou um questionamento: "qual pessoa vai deixar de realizar uma prova tão importante assim? Vai acordar com tosse seca e cansada e não vai fazer o exame? Isso é absurdo. Fora o risco dos assintomáticos. E tem o lado das famílias, que podem ter idosos ou outros grupos de risco que estejam seguindo todas regras para se proteger: vão dizer para seu filho ou neto que tem que perder um ano porque não vai fazer a prova, ou vão aceitar o risco? Estamos colocando as famílias em uma situação imoral".
Devido à alta de casos do coronavírus no Brasil, entidades estudantis pediram um novo adiamento do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), marcado para 17 e 24 de janeiro https://t.co/oEB92DEwpa
— Sputnik Brasil (@sputnik_brasil) January 7, 2021
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