Como Trump garimpa 'piores erros' dos EUA e revoluciona sua política exterior

© AP Photo / Alex BrandonPresidente estadunidense Donald Trump discursa durante uma coletiva conjunta com seu homólogo polaco Andrzej Duda, na Casa Branca, em 18 de setembro de 2018
Presidente estadunidense Donald Trump discursa durante uma coletiva conjunta com seu homólogo polaco Andrzej Duda, na Casa Branca, em 18 de setembro de 2018 - Sputnik Brasil
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Recentemente, o presidente norte-americano, Donald Trump, revelou o que tinha sido "pior erro" na história do seu país. O colunista da Sputnik Anton Lisitsyn analisou as palavras do presidente em um artigo especial.

Em opinião de Trump, a maior falha da política externa dos EUA foi a entrada das tropas no Oriente Médio durante a administração Bush. Entretanto, segundo ele, as tentativas de retirada dos soldados do Iraque, empreendidas por Barack Obama, também podem ser qualificadas como um erro.

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"Já faz muito que Trump critica a política externa norte-americana. De fato, ele apela a abandonar o conceito de 'liderança moral', não meter o nariz nos assuntos de outros países e se focar nos problemas internos", escreve o jornalista.

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Na verdade, o presidente republicano falou sobre o fracasso norte-americano no Iraque, Afeganistão e Síria ainda durante a sua campanha eleitoral em 2015. "Não foi alta a avaliação que Trump dava inclusive àqueles que ajudavam Washington a introduzir a democracia no Iraque. De acordo com ele, os iraquianos fogem do campo de batalha 'ao primeiro tiro', deixando ao inimigo os equipamentos e armas de produção estadunidense", explica o colunista.

Do ponto de vista de Lisitsyn, o futuro presidente norte-americano sabia em que sentimentos dos eleitores devia apostar, pois, de acordo com várias pesquisas (por exemplo, a conduzida pelo centro Pew Research Center), 38% dos cidadãos não aceitava o envio das Forças Armadas dos EUA para o Iraque, e o número estava constantemente crescendo.

Ao mesmo tempo, os antecessores de Trump — tanto Obama, quanto Bush — após deixarem seu posto reconheceram que tinham cometido vários erros de cálculo no Oriente Médio.

Em uma conversa com a Sputnik, o diretor da Fundação de Pesquisa Norte-Americana Roosevelt junto à Universidade Estatal de Moscou Lomonosov, Yuri Rogulev, relembra que Washington tem tentado sair da armadilha do Oriente Médio por muito tempo, sendo que todos os presidentes têm tido consciência da envergadura do problema, mas têm se diferenciado na retórica.

"Trump tem uma abordagem mais econômica. Ele considera todos esses acontecimentos no Oriente Médio se baseando na ideia de que estes não deram aos EUA nada senão despesas. Ele tem sempre citado essa situação como exemplo de gastos ineficientes. Por que ele se manifestou contra a [intervenção na] Síria? Porque se trata de um conflito terceiro que envolve os EUA. Obama também falou: 'Já faz 10 anos que os EUA estão em guerra, é preciso parar', mas não conseguiu fazer nada. Aí, toda essa ‘herança' ficou com Trump", assinala o especialista.

Mudança de estratégia?

Outro especialista em assuntos norte-americanos, Dmitry Mikheev, que emigrou da URSS, trabalhou como assessor nas administrações Reagan e George H. W. Bush e voltou à Rússia em 1998, disse à Sputnik que considera a política do chefe da Casa Branca como incoerente.

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"Como showman, ele faz frequentemente declarações só para impressionar, para atrair a atenção do público e do seu eleitorado. Mas, nesse caso, se vê sua certeza absoluta de que os EUA gastaram em vão um monte de recursos em nome de ideias ilusórias como a promoção da democracia, a luta contra o comunismo ou os ditadores", sublinha, adiantando que a mentalidade empresarial da figura de Trump faz com que ele analise as ações políticas em termos de ganhar ou perder dinheiro.

Já quanto aos passos de Trump, que de fato contradizem essa postura, como os ataques aéreos contra a Síria ou aumento do contingente no Afeganistão, para Mikheev são simplesmente tentativas de "demonstrar seu patriotismo e como ele é ‘sensacional" no âmbito da luta política interna nos EUA. Em outras palavras, explica o analista, o republicano faz umas "concessões transitórias" aos seus oponentes, isto é, aos neoliberais e ao establishment.

"Trump não partilha a filosofia dos neoliberais que foi professada por George W. Bush e, em algum sentido, por Obama. Ele é pragmático, Trump é mais inclinado a ocupar uma posição isolacionista. É nisso que reside seu conflito com o chamado ‘Estado Profundo' [círculos na elite que constituem o núcleo do establishment político nos EUA] — os rivais de Trump veem a missão estadunidense em promover ativamente certos valores, em ser líder moral, em mudar o mundo de acordo com os seus padrões. Já o presidente atual não é missionário, ele está disposto a combater apenas pelo domínio econômico americano, por seu poderio", analisa o interlocutor do colunista da Sputnik.

Deste modo, prossegue ele, a política de Trump "mina o sentido, a razão de existência dos EUA, a ideologia que os tem sustentado desde o século XVII, quando puritanos fanáticos desembarcaram na costa americana".

Em opinião de Mikheev, caso Trump consiga ficar no poder por mais alguns anos, acontecerá um "colapso fatal da ideologia norte-americana".

"Será difícil restaurá-la no futuro. Foi assim que o comunismo colapsou, quando surgiram dúvidas em relação aos dogmas antes inabaláveis. Se Trump ficar na Casa Branca para o segundo mandato, isso vai significar que a população dos EUA terá feito uma escolha a favor do nacionalismo", sublinha o americanista.

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