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Chernobyl foi o desastre que criou a 'cultura de segurança nuclear', afirma especialista

© Sputnik / Igor Kostin / Acessar o banco de imagensTrabalhos de descontaminação radioativa na zona de exclusão de 30 km criada ao redor da usina de Chernobyl após o histórico acidente nuclear, ocorrido em 1986
Trabalhos de descontaminação radioativa na zona de exclusão de 30 km criada ao redor da usina de Chernobyl após o histórico acidente nuclear, ocorrido em 1986 - Sputnik Brasil, 1920, 25.04.2024
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Um mundo onde a força da natureza colide com a tecnologia nuclear, gerando desastres de proporções épicas. Essa é a realidade de Chernobyl e Fukushima, eventos que marcaram a história da humanidade e continuam a gerar debates mundo afora.
Mais do que tragédias, esses acidentes também revelaram, segundo especialistas, a força da natureza e a capacidade humana de adaptação.
Em entrevista aos jornalistas Melina Saad e Marcelo Castilho, do podcast Mundioka, da Sputnik Brasil, Leonan Guimarães, diretor técnico da Associação Brasileira para o Desenvolvimento de Atividades Nucleares (ABDAN) e coordenador do Comitê Científico e Tecnológico da Amazônia Azul Tecnologias de Defesa S.A. (Amazul), analisa as lições aprendidas nesse setor cada vez mais importante.
Mundioka #344 - Sputnik Brasil, 1920, 25.04.2024
Mundioka
O que o mundo aprendeu com a tragédia de Chernobyl?

Segurança nuclear e resiliência da natureza

Era uma tarde comum quando, em 26 de abril de 1986, a usina de Chernobyl explodiu, espalhando radiação por uma vasta área.
Para Leonan Guimarães, a importância da segurança foi a lição fundamental proveniente de Chernobyl. As falhas humanas que culminaram no desastre servem como um lembrete constante da necessidade de protocolos rigorosos e da cultura de segurança em todas as etapas da operação nuclear.

"A maior contribuição que Chernobyl deu ao desenvolvimento da indústria nuclear foi a criação da consciência e a necessidade de desenvolvimento da cultura de segurança nuclear em todos os operadores. Agora a gente sabe que existem passeios turísticos pela região", pontuou em entrevista.

Paradoxalmente, Chernobyl também ofereceu uma valiosa lição à indústria nuclear: a resiliência da natureza. Apesar dos traços remanescentes de contaminação, a vida selvagem prosperou na ausência humana, desafiando preconceitos e demonstrando a incrível capacidade de adaptação dos seres vivos.

"A vida selvagem na região da explosão de Chernobyl é fluorescente. Novas espécies de animais […] apareceram, lobos de espécies diferentes, são pequenos cavalos, cavalinhos que também apareceram na região. A vegetação cresceu muito. Mas isso não é por causa da radiação, isso é por causa do afastamento do homem", explicou.

Aprendendo com os erros do passado

Claudio Almeida, doutor em engenharia nuclear pelo Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT, na sigla em inglês), traz uma perspectiva sobre os desafios e avanços no setor nuclear, destacando a evolução das medidas de segurança após o desastre de Chernobyl.
Apesar das preocupações, Almeida assegura que a situação em Chernobyl está agora sob controle. Após a construção de uma cobertura de emergência sobre a usina, conhecida como "sarcófago", uma unidade de contenção mais robusta foi erguida, representando um marco na descontaminação da região.
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Quando questionado sobre os protocolos de segurança adotados após Chernobyl, Almeida ressalta a importância de aprender com os erros do passado. Ele descreve como o acidente foi desencadeado por um experimento negligenciado que provocou uma série de eventos catastróficos.

"O acidente ocorreu porque o pessoal começou a fazer um experimento que considerava não ser relativo à segurança, e na verdade ele era, era no parque secundário, mas tinha reflexos no reator. Esse tipo de reator, chamados RBMK, eles são refrigerados a grafite, mas eles não têm aquela contenção, aquele edifício de aço e concreto que existe nos nossos reatores aqui no Brasil e nos outros lugares do mundo", sublinhou.

Almeida também aborda a confusão comum entre usinas nucleares e armas nucleares. Ele esclarece que as usinas nucleares, como as do Brasil, operam com materiais e protocolos estritamente regulamentados, sob a supervisão da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA). Ele enfatiza que as usinas nucleares não possuem capacidade para produzir armas nucleares, uma distinção crucial muitas vezes obscurecida pela falta de compreensão pública.

"A Agência Internacional de Energia Atômica tem inspetores que vêm de tempos em tempos ao Brasil, tem câmeras que estão focadas no reator o tempo inteiro, e os inspetores veem o que a câmera está mostrando, e mesmo na usina de enriquecimento a Agência Internacional de Energia Atômica colhe amostras para ter certeza que nós não estamos enriquecendo além dos 3% ou 4% que a gente precisa para o combustível da usina", ressaltou.

Ele continua: "Mas, infelizmente, tem gente que confunde as duas coisas, que não se dá conta de que o urânio que é usado na usina não pode ser usado diretamente para a produção de armas nucleares. Precisa de um enriquecimento muito maior e uma tecnologia muito maior para produzir o urânio para a bomba, e para produzir a bomba precisa-se muito mais de tecnologia, e ainda precisa-se de muito mais tecnologia para ter o modo de pôr essa bomba em um país inimigo".
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Chernobyl × Fukushima

Ao comparar Chernobyl e Fukushima, Guimarães aponta diferenças cruciais nas causas e consequências dos acidentes. Enquanto Chernobyl foi resultado de falhas humanas e provocou uma dispersão maciça de materiais radioativos devido a um incêndio de grafite, Fukushima enfrentou um desastre natural seguido de vazamentos controlados.

"O acidente de Chernobyl foi um acidente provocado pelo homem, pelos desacertos, pelas características de funcionamento hierárquico da estrutura organizacional da usina […]. Já no caso de Fukushima, a causa veio de um evento natural extraordinário, um evento natural de altíssima severidade, que foi o terremoto, que se seguiu de um tsunami. A usina resistiu bem, desligou-se na situação de segurança após o terremoto, mas quando veio o tsunami, a onda do tsunami era bem mais alta que a onda […] projetada […], e a usina se fragilizou e perdeu vários sistemas de segurança", detalhou.

O impacto social e político de Chernobyl reverberou globalmente, influenciando até políticas alimentares distantes, como no Brasil. No entanto, Guimarães enfatiza a importância de uma abordagem informada e baseada em evidências, afirmando que muitas preocupações sobre a contaminação após Chernobyl foram infundadas.
"Chernobyl está na origem do fim da União Soviética. Ou seja, causou um grande movimento em todos os setores da civilização, podemos dizer assim. […] os materiais radioativos foram impelidos a grande altitude pela fogueira de grafite […] [e] se espalharam por áreas muito grandes", contextualizou.

"A comunidade mundial passou a se sentir toda afetada pelas consequências do acidente de Chernobyl. Isso acontecia até aqui no Brasil, onde se chegou a desperdiçar carne, leite e outros alimentos com a preocupação com a eventual contaminação, que não era verdadeira, não era fundamentada", finalizou.

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