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Lula × centrão: cenário adverso e 'muitos anéis sendo entregues', avalia deputado

© AFP 2023 / Evaristo SáO então presidente eleito do Brasil, Luiz Inácio da Silva, conversa com o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL, ao centro), e o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), durante cerimônia de certificação na sede do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Brasília (DF), 12 de dezembro de 2022
O então presidente eleito do Brasil, Luiz Inácio da Silva, conversa com o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL, ao centro), e o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), durante cerimônia de certificação na sede do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Brasília (DF), 12 de dezembro de 2022 - Sputnik Brasil, 1920, 17.04.2024
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"São muitos anéis sendo entregues, mas a gente tem que segurar os dedos. Este é o limite do diálogo: entregar alguns anéis, mas não entregar os dedos." A declaração é do deputado federal do PT pelo Rio de Janeiro Reimont Otoni sobre o contexto político envolvendo negociações entre o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o Congresso Nacional.
"Estamos resistindo, por exemplo, a não entregar o Ministério da Saúde [ao centrão], que para nós é fundamental […]. A ministra Nísia [Trindade] não está sendo atacada por pouca coisa. É porque ela detém o ministério que tem mais recursos no governo do presidente Lula", argumentou Reimont.
Além do petista, falaram sobre o tema, para o podcast Jabuticaba Sem Caroço, da Sputnik Brasil, o cientista político e professor do Instituto de Estudos Sociais e Políticos (IESP), da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), João Feres Júnior e a senadora Teresa Leitão (PT-PE).
Jabuticaba Sem Caroço #362 - Sputnik Brasil, 1920, 17.04.2024
Jabuticaba Sem Caroço
Feridas abertas da reconciliação política com o PT
Leitão lembrou que Lula logrou alianças no primeiro turno e no segundo, na configuração do governo, mas que atualmente esse processo de negociação tem sido marcado por embates.
"Depois do golpe contra a Dilma [Rousseff], depois da eleição de [Jair] Bolsonaro, a extrema-direita tenta dar as cartas no nosso país. Foi derrotada eleitoralmente com a vitória de Lula, mais ainda é viva, sobretudo nos parlamentos. E o diálogo se torna mais difícil, porque é um diálogo fundamentalista, que não reconhece o papel do Poder Legislativo. É um diálogo que confronta o resultado democrático das urnas", opinou a senadora.
A volta do PT pelas vias democráticas, após "extensa" campanha de criminalização da política e do partido, deixou uma ferida ainda "em cicatrização", declarou ela. Ainda segundo a senadora, o legado do governo de Bolsonaro empoderou a "política baseada na prática de costumes, no fundamentalismo, no obscurantismo intelectual, no negacionismo da ciência".
Os recentes episódios envolvendo suspeitas de corrupção de juízes durante a operação Lava Jato podem contribuir para mudar esse panorama, disse Leitão.

"Espero que esses exemplos façam recuar qualquer perspectiva de novo golpe. Destaco que a reação dos três Poderes à tentativa de golpe do 8 de Janeiro, com prisões, abertura de processos, revelações de envolvimento do próprio Bolsonaro, da família do Bolsonaro, isso pode coibir novas tentativas de golpe", opinou ela.

Para o deputado Reimont, o momento ainda é de reconstrução, mas a atual polarização entre a esquerda e a direita dá "saudade" dos embates anteriores entre PT, PSDB e PMDB (hoje MDB):

"Havia alfinetadas, algumas palavras indevidas no meio do caminho… Isso é da verve, é do debate, […] mas você tinha minimamente um respeito. Não havia pessoas que diziam 'Vou te quebrar no ringue', 'A gente precisa torturar as pessoas que são contrárias ao que a gente pensa'."

Ele também concorda com a senadora que a dificuldade de passar projetos importantes no Congresso, cuja maioria dos integrantes vêm de partidos pequenos, que formam o chamado centrão, deve-se ao legado do governo anterior. O grupo cresceu nas últimas eleições e vem impondo um ritmo de trabalho e de prioridades com a intenção de assumir uma prerrogativa que é do Poder Executivo, afirmou o deputado petista:

"Durante os quatro anos do governo Bolsonaro, o que a gente chamava de orçamento secreto virou quase que uma realidade no Parlamento, onde hoje quem tem recurso para investir são os deputados e os senadores. Agora há uma discussão intensa sobre derrubar ou não o veto do presidente em relação às emendas de comissão, que empodera demais o Parlamento e enfraquece demais o Executivo", comentou.

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Para Feres Júnior, não existe mais centro político, com potencial eleitoral: este se "autodinamitou" no processo da Lava Jato, com o alinhamento de setores da política partidária a parte do Judiciário e do Ministério Público e à grande imprensa:
"Como resultado desse processo de corrosão da política, de redução da política à questão da corrupção, os partidos que mais perderam legitimidade e poder, diminuíram o tamanho de eleitos, foram os partidos que apoiaram esse movimento, como o PSDB", explicou ele.
O cientista político avaliou que um dos fardos que o PT carrega na atualidade é o de ser ao mesmo tempo de esquerda e de centro:
"O grande paradoxo do governo Lula é o de fazer o papel de centro político e ao mesmo tempo de esquerda, no sentido de atender ao eleitorado pobre, às massas empobrecidas no Brasil, que são carentes de renda, de serviços públicos", ponderou.
Entretanto, destacou Feres, há mais de uma década esse processo de desconstrução da política representativa está em curso, mirando no PT.
"Isso demora para você desconstruir. Claro que se não tivesse sido desconstruído em boa medida, o Lula não teria ganhado a eleição", comentou.

Quem não se comunica se trumbica

A comunicação é o calcanhar de aquiles do governo, avaliou o professor da UERJ, "tanto através da grande mídia, da imprensa, como nas redes sociais", frisou, ao considerar que as estratégias de comunicação do governo e do partido "não estão indo tão bem" e têm gerado derrotas da esquerda para a direita bolsonarista:

"A gente faz o relatório Política nas Redes, um monitoramento dos trending topics, os assuntos que estão bombando nas redes sociais no momento, e quase sempre a esquerda, o PT e aliados perdem de lavada", afirmou.

Em sua avaliação, a grande mídia também contamina o debate público, pois, muitas vezes, oferece apenas uma versão dos fatos e padroniza a opinião:

"Se você pega a cobertura dos jornais, eles também são muito desfavoráveis ao governo […], continuam fazendo uma cobertura extremamente negativa."

O pesquisador concluiu que o governo precisa encontrar uma maneira eficaz de se comunicar com a população e o eleitorado para além das políticas públicas e das informações que saem na imprensa se quiser realmente informar seus feitos e conquistas e, assim, ganhar corações e mentes.
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