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Brasil na Caricom: Lula vai à cúpula se mostrar como alternativa aos EUA, dizem analistas

© flickr.com / Ricardo Stuckert / PRPresidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, durante a cerimônia de abertura da 37º Cúpula da União Africana, na sede da União Africana, em Adis Abeba. Etiópia, 17 de fevereiro de 2024
Presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, durante a cerimônia de abertura da 37º Cúpula da União Africana, na sede da União Africana, em Adis Abeba. Etiópia, 17 de fevereiro de 2024 - Sputnik Brasil, 1920, 27.02.2024
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Focado na agenda interna do país, o presidente Lula encerrará as viagens internacionais comparecendo a eventos que focam o Caribe, a América do Sul e Central. Ouvidos pela Sputnik Brasil, analistas apontam que sua presença nesses encontros reafirma o desejo de maior integração regional e de neutralizar a influência dos Estados Unidos na região.
No quarta-feira (28), o presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva, chega a Georgetown, capital da Guiana, para a cúpula da Comunidade do Caribe (Caricom). Depois, na sexta-feira (1º), Lula vai ao encontro da Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos (CELAC) em São Vicente e Granadinas.
O peso político que o Brasil terá nesses eventos foi discutido pelos jornalistas Melina Saad e Marcelo Castilho, apresentadores do Mundioka, podcast da Sputnik Brasil, com dois especialistas.

Foco na integração regional

Em meio a eleições municipais neste ano, Lula afirmou que vai focar em viagens nacionais, o que faz de sua aparição nesses encontros regionais um forte indicativo de suas prioridades, afirma Carolina Pedroso, professora de relações internacionais na Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).
Nos dois primeiros mandatos de Lula, lembra a especialista, sua estratégia internacional teve como ênfase aumentar e fortalecer os laços com a América Latina. "No sentido de tornar o Brasil uma liderança da região e, consequentemente, aumentar a nossa importância em termos globais."
A opinião é compartilhada por Guilherme Frizzera, doutor em relações internacionais pela Universidade de Brasília (UnB) e coordenador de relações internacionais do Centro Universitário Internacional (Uninter). "Desde o início do primeiro governo, Lula sempre tentou aproximar a América do Sul e depois a América Latina da região do Caribe", afirmou.

"O Brasil, historicamente pelo seu peso na economia, na política, por sua participação no ambiente internacional, […] é um líder nato da América Latina", disse Frizzera.

Qual a força política do Caribe?

Um dos pontos de se aproximar da região, apontam os especialistas, está na sua força política enquanto bloco. A região tem tendência em articular seus votos nos fóruns em que esses países fazem parte, como a Assembleia Geral das Nações Unidas (AGNU) e a Organização dos Estados Americanos (OEA), em que possuem 40% das cadeiras.
"O Brasil tem uma agenda importante de democratização do sistema ONU [Organização das Nações Unidas]", lembrou Pedroso, e um apoio quase majoritário como esse em questões da região "pode ser um respaldo importante para as iniciativas brasileiras".
Em seus mandatos, Lula tem tentado reformar os instrumentos de governança global, como o Conselho de Segurança das Nações Unidas (CSNU), de modo que ele não fique mais refém das decisões de cinco potências.

"Esse respaldo dos países caribenhos é sempre um ativo político importante para a diplomacia brasileira em relação a esses temas mais amplos."

O CSNU, argumenta Frizzera, "não está oferecendo respostas" aos conflitos atuais, uma vez que basta o veto de um dos cinco membros permanentes para as propostas serem bloqueadas.
Nesse sentido, é como se Lula estivesse dizendo: "É uma instituição que tem princípios, regras e procedimentos muito bonitos", descreveu Frizzera, "mas que não respondem mais aos conflitos geopolíticos existentes, e a gente precisa buscar uma alternativa".
Homem vestido como o personagem norte-americano Tio Sam segura uma placa da petrolífera ExxonMobil durante a marcha pró-governo chamada Recupere o Essequibo, em Caracas. Venezuela, 26 de setembro de 2023 - Sputnik Brasil, 1920, 25.01.2024
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Lula deve mediar questão de Essequibo

Participando como convidado especial da Caricom, Lula deve se encontrar com o presidente da Guiana, Irfaan Ali, para discussões bilaterais. No dia seguinte, durante a reunião da CELAC, o presidente brasileiro se encontrará com o presidente venezuelano, Nicolás Maduro.
Segundo os especialistas ouvidos, a questão de Essequibo certamente será um tema nas conversas de Lula com os líderes. O tamanho e o peso político do Brasil o tornam um "mediador natural" de conflitos na América do Sul, segundo Frizzera.
Procurado por ambos os líderes para mediar o conflito, aponta Pedroso, o Itamaraty tem a tradição de sempre buscar uma solução pacífica, respeitando os atores presentes. Até porque "essas crises que acontecem ao nosso redor de alguma maneira sempre repercutem em nós".

"Então é importante que o Brasil se coloque como responsável como mediação desses conflitos porque nós temos por um lado expertise […]. E, por outro, temos interesse real em que as coisas se resolvam pacificamente."

"A gente não tem como fugir dos nossos vizinhos", reforçou o especialista.
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Brasil quer substituir EUA no Caribe

O Caribe, apontaram os analistas, funciona há séculos como um laboratório de imperialismo dos Estados Unidos. "Os Estados Unidos sempre foram um ator que interviu no processo político e, principalmente, econômico do Caribe", afirmou Frizzera.
Até hoje eles mantêm Porto Rico como uma colônia e detêm controle da baía de Guantánamo em Cuba, onde também aplicam sanções econômicas. "Suas primeiras ações imperialistas foram ali no Caribe e, depois, foram se ampliando", explicou Pedroso. "Então o Caribe não é uma região desprezível para os Estados Unidos."

"Por que Cuba é tão importante para os Estados Unidos? Porque Cuba até hoje continua a ser uma pedra no sapato para a diplomacia norte-americana", analisou Pedroso.

É exatamente por essa importância que os Estados Unidos dão ao Caribe que a região é tão dependente deles, avalia a professora da Unifesp. "Eles têm muita dificuldade de conseguir outras parcerias porque o peso que os Estados Unidos dão àquela região é muito grande."
A aproximação brasileira pode, assim, servir como outro polo de poder multilateral para onde essas nações podem se voltar. Um que, como afirmaram os analistas, respeite as decisões domésticas dos países.
"Esse é um papel que, a curto prazo, até médio prazo, dificilmente alguém vai substituir", disse Frizzera, destacando que outro polo que se aproxima da região é a China.
Para o professor de relações internacionais, ao menos por enquanto, o Brasil pode ser esse segundo polo de influência regional no Caribe, logo atrás dos Estados Unidos.
De acordo com Frizzera, isso pode ser feito por meio de projetos de financiamento de infraestrutura, como foi feito em Cuba pelo BNDES e, também, pela determinação de que "os processos de integração regional onde o Brasil lidera", como o Mercosul, a União de Nações Sul-Americanas (Unasul) e a CELAC, passem a ter "uma presença maior do Caribe".
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