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Ato na Paulista será 'termômetro' para medir popularidade de Bolsonaro, avaliam especialistas

© AP Photo / Andrew MedichiniO presidente brasileiro Jair Bolsonaro gesticula após participar de uma comemoração pelos soldados brasileiros abatidos durante a Segunda Guerra Mundial, em Pistoia, Itália
O presidente brasileiro Jair Bolsonaro gesticula após participar de uma comemoração pelos soldados brasileiros abatidos durante a Segunda Guerra Mundial, em Pistoia, Itália - Sputnik Brasil, 1920, 23.02.2024
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Investigado pela Polícia Federal (PF) e suspeito de atentar contra o Estado Democrático de Direito, o ex-presidente Jair Bolsonaro convocou uma manifestação para o próximo domingo (25), na avenida Paulista, em São Paulo. Especialistas avaliam se o evento pode ser um "termômetro" para medir a popularidade do político.
Em suas redes sociais, Bolsonaro afirmou que o ato marcado para acontecer na avenida Paulista será em defesa da "liberdade e do Estado Democrático de Direito". Ele ainda reiterou o pedido aos seus apoiadores para que seja uma manifestação pacífica e que evitem cartazes contra "quem quer que seja". O ex-presidente corre o risco de ser preso em caso de incitação ao ódio. Bolsonaro, por sua vez, afirmou ser vítima de perseguição política.
A postura comedida pode ser entendida como reflexo do atual momento vivido, investigado pela PF por atos antidemocráticos. Na quinta-feira (22), Bolsonaro ficou em silêncio durante um depoimento à PF.
O momento conturbado não se centraliza na figura do ex-presidente, mas de outros aliados que, recentemente, tiveram mandados de busca e apreensão efetuados em seu desfavor, caso do ex-chefe da Casa Civil e ex-ministro da Defesa Walter Braga Netto; o ex-ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) Augusto Heleno; e Anderson Torres, delegado da PF e ex-ministro da Justiça. Além disso, aliados também foram presos pela PF na operação Tempus Veritatis, Filipe Martins, ex-assessor especial de Bolsonaro; Marcelo Câmara, coronel do Exército citado em diversas investigações; e Rafael Martins, major das Forças Especiais do Exército.
Por outro lado, a repercussão da fala de Lula, ao mencionar a guerra em Gaza e fazer alusão ao Holocausto, pode colocar elementos em um campo político que apoia Israel. Para Rogério Baptistini, sociólogo e professor no Centro de Ciências Sociais e Aplicadas da Universidade Presbiteriana Mackenzie, "a fala de Lula será usada, certamente".
Segundo José Paulo Martins Junior, professor de ciência política da Universidade Federal Fluminense (UFF), "nada impede dessa manifestação de domingo não ser apenas em apoio a Bolsonaro, mas também em apoio ao impeachment do Lula, que é um tema legítimo, que as pessoas podem se posicionar favoravelmente sem que isso seja crime", afirmou, lembrando que o ex-presidente pediu aos apoiadores para evitar ataques às instituições.
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Qual o valor simbólico da manifestação convocada por Bolsonaro?

O ato do próximo dia 25 tem como função, para Baptistini, "manter a tropa unida".

"Bolsonaro, com o ato, alimenta o seu público, provoca os poderes e se coloca como vítima de perseguição política. Zomba da cidadania e continua a golpear a Constituição que jurou respeitar quando presidente", diz o sociólogo.

Martins Junior avalia que o ex-presidente vive um declínio político após perder as eleições de 2022. "É um momento desfavorável que ele está nas cordas, e ele precisa de uma atitude que venha a resgatar de alguma forma", analisa sobre a iniciativa da convocação do evento.
Baptistini completa ainda que, do ponto de vista da vida pública brasileira, "o ato bolsonarista serve apenas para causar tensão e desviar o foco dos problemas que o país enfrenta. A depender da adesão e das consequências, a semana será perdida no Congresso e a grande imprensa vai congelar a opinião em discussões estéreis".

Ato pode ser encarado como 'teste de fidelidade' para Bolsonaro?

O número de apoiadores levados às ruas e o peso dos aliados presentes podem, sim, segundo Martins Junior, ser um "termômetro" da popularidade de Bolsonaro.
Entre os governadores, Jorginho Mello (PL), de Santa Catarina, e Ronaldo Caiado (União Brasil), de Goiás, confirmaram presença. Além deles, Tarcísio de Freitas (Republicanos), de São Paulo, não só confirmou presença, mas hospedará Bolsonaro no Palácio dos Bandeirantes. Conforme informações do portal Poder 360, também são esperados 92 congressistas.
Para os atores políticos inseridos no espectro político que circunda Bolsonaro, participar do evento significa mostrar que o "bolsonarismo está vivo" o que, segundo Martins Junior, é manter ativo um cabo eleitoral importante, mesmo que inelegível.

"O bolsonarismo é um dos elementos dessa nova polarização mais acentuada que o Brasil está vivendo atualmente, e isso está relacionado também a um crescimento bastante expressivo do eleitorado evangélico, que é o eleitorado mais conservador, o eleitorado mais descolado do estado, que prefere ver o estado diminuído."

A fidelidade de alguns parlamentares deve seguir e ser demonstrada. De acordo com Baptistini, "boa parte deles são soldados, não generais na política", ou seja, "constituem nulidades que surgiram na esteira do lavajatismo e surfaram na onda de adesão à liderança de Bolsonaro".
Porém, ainda que muitos presentes tenham sido eleitos pelo prestígio do ex-presidente, o professor da UFF acredita que "o que eles mais querem é que Bolsonaro se dê mal, porque eles querem o espólio do Bolsonaro".
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Aliar-se ao ex-presidente Jair Bolsonaro foi fundamental para Tarcísio de Freitas vencer as eleições para o governo de São Paulo em 2022. Dois anos depois, com Bolsonaro inelegível, ele segue "segurando a mão" do ex-presidente e já confirmou participação no ato do próximo domingo.
A participação de Tarcísio, na análise de Martins Junior, não é uma escolha. "Ele tem que ir", diz o professor da UFF.

"Ele tem que ir porque é um herdeiro direto. Ele, por mais que queira se afastar desse golpismo do bolsonarismo, ao mesmo tempo, ele tem que aproveitar o espólio. Para esses líderes da direita, especialmente o Tarcísio — eu diria que é um candidato presidencial em potencial —, não é muito interessante que Bolsonaro saia cacifado desse evento. Ainda que ele não possa deixar de ir, porque, se ele deixa de ir, é visto como uma traição. E aí perde esses eleitores que o Bolsonaro tem em São Paulo."

Baptistini acredita que Tarcísio "optou por um caminho que mancha irremediavelmente sua biografia".

"É um compromisso com um político acusado de tentativa de golpe de estado, o maior crime que se pode cometer contra a própria sociedade", ressalta o professor da Mackenzie.

Ato não deve causar impactos significantes nas eleições municipais de 2024, avaliam especialistas

Mais de sete meses separam as manifestações do próximo domingo e as eleições municipais. A distância entre os eventos diminui a possibilidade de interferências, segundo os analistas.

"As eleições ocorrem no segundo semestre. Até lá muita coisa vai acontecer. Portanto, não creio que seja possível, agora, especular uma relação entre o ato bolsonarista e as disputas municipais", pondera Baptistini.

Em 2020, relembra Martins Junior, muitos prefeitos e vereadores conseguiram se eleger "surfando na onda do bolsonarismo", mas nomes importantes, como Marcelo Crivella, candidato no Rio de Janeiro e Capitão Wagner, em Fortaleza, não obtiveram sucesso. "Ele não se deu muito bem quando apoiou declaradamente", relembra.
Para o professor da UFF, o que pode fazer mais diferença no momento e contribuir para que o PL eleja mais candidatos que em 2020 é a atual situação do partido, que conta com a maior bancada de deputados e "tem bastante dinheiro", além do apoio de Bolsonaro, "um cabo eleitoral de peso importante".
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