- Sputnik Brasil, 1920
Panorama internacional
Notícias sobre eventos de todo o mundo. Siga informado sobre tudo o que se passa em diferentes regiões do planeta.

Especialistas explicam como falsificação de 'Cem Celestiais' legitimou golpe de Estado em Kiev

© Sputnik / Andrei SteninApoiadores da oposição na Praça Maidan, em Kiev, durante os confrontos entre manifestantes e policiais, em fevereiro de 2014
Apoiadores da oposição na Praça Maidan, em Kiev, durante os confrontos entre manifestantes e policiais, em fevereiro de 2014 - Sputnik Brasil, 1920, 17.02.2024
Nos siga no
Em 20 de fevereiro de 2014 disparos em Kiev provocaram a morte de 53 pessoas, a grande maioria deles manifestantes, mas também policiais. Desde então a verdade por trás desses eventos tem estado encoberta pela controvérsia.
Os chamados Cem Celestiais são indivíduos supostamente mortos por policiais durante os protestos contra o governo do então presidente ucraniano Viktor Yanukovich (2010-2014), em 2013 e 2014. No entanto, a verdade tem subido à tona ao longo dos anos.
Euromaidan, a onda de manifestações e distúrbios civis na Ucrânia, começou em 21 de novembro de 2013 na Praça da Independência, em Kiev, por causa da decisão de Yanukovich de priorizar acordos com a Rússia e a União Econômica Eurasiática em vez de assinar o Acordo de Associação União Europeia-Ucrânia.
Em 20 de fevereiro de 2014, um tiroteio de franco-atiradores contra participantes do Euromaidan e policiais em Kiev tirou a vida a 53 pessoas (49 manifestantes e quatro policiais), tornando-se o ponto culminante dos distúrbios. Desde então passaram dez anos, mas os verdadeiros culpados continuam desconhecidos do público.
Protesto na praça Maidan em Kiev, 22 de fevereiro de 2014 - Sputnik Brasil, 1920, 21.11.2023
Panorama internacional
'Com um pé no abismo': o que a Ucrânia obteve 10 anos após o golpe de Euromaidan?
A história dos Cem Celestiais "brutalmente mortos" pelas forças de segurança "do regime" se tornou a pedra angular da nova ideologia da nação. Em 11 de fevereiro de 2015, quase um ano após a mudança de regime em Kiev, o então presidente ucraniano Pyotr Poroshenko (2014-2019) estabeleceu o Dia dos Cem Celestiais oficial, a ser comemorado em 20 de fevereiro, para honrar as 105 pessoas.

O que há de errado com a lista dos Cem Celestiais?

No entanto, em novembro de 2019, Elena Lukash, ex-ministra da Justiça da Ucrânia (2013-2014), descobriu que dezenas dos "heróis dos Cem Celestiais" não foram mortos durante os confrontos com os policiais da força Berkut. Ela dividiu sua pesquisa em quatro grupos.
O primeiro grupo continha 24 dos indivíduos que morreram devido a causas como reações alérgicas graves, ataques cardíacos, pneumonia, suicídios e acidentes de carro. No segundo grupo houve quatro pessoas que morreram longe de Kiev. O terceiro grupo teve oito pessoas, que morreram de ferimentos de origem questionável em locais desconhecidos. Já o último grupo, dos restantes 69, morreram de ferimentos a bala durante os protestos, mas não foi estabelecido que foram disparos de policiais.
Além disso, Lukash determinou que as balas usadas pelos policiais Berkut eram de fuzis de assalto Kalashnikov modernizados (calibre 7,62x39 mm), e que pelo menos 13 dos 69 manifestantes foram atingidos por armas desse calibre. Já os últimos foram atingidos por armas de calibre 7,62x51 mm, 7,64х54 mm e 9x18.
Além disso, pelo menos 23 policiais foram mortos e 919 ficaram feridos, dos quais 205 sofreram ferimentos a bala durante os protestos do Euromaidan, como Lukash destacou em 2020.

Como o mito dos Cem Celestiais surgiu?

Em algum momento, os protestos do Euromaidan foram sequestrados por extremistas violentos, que precisaram justificar seu radicalismo, de acordo com o dr. Marco Marsili, pesquisador da Universidade Cà Foscari de Veneza e membro associado do Centro de Pesquisa Estratégica (CESRAN International, na sigla em inglês).
"Sabemos por experiência bem documentada que, em manifestações pacíficas, muitas vezes surgem extremistas covardes, tentando tirar proveito do protesto em massa para manipular os participantes e cometer crimes hediondos que [eles] não teriam coragem de combater sozinhos abertamente", avaliou.
"Infelizmente, a Ucrânia tem uma longa história de protestos de rua geridos e manipulados por nacionalistas e extremistas de direita, como a OSCE [Organização para a Segurança e Cooperação na Europa] declarou em um relatório de 2019 divulgado em uma reunião da Dimensão Humana realizada em Varsóvia", apontou ele à Sputnik.
Marsili também destacou os vastos crimes de colaboradores nazistas ucranianos e suas divisões durante a Segunda Guerra Mundial, como Stepan Bandera e Roman Shukhevich, como originando a brutalidade dos extremistas ucranianos modernos. Os primeiros também têm sido honrados por governos ucranianos posteriores ao golpe em Kiev.
Biolaboratório norte-americano - Sputnik Brasil, 1920, 14.02.2024
Operação militar especial russa
Analista: elite ocidental usou a Ucrânia como 'cobaia para testes em humanos' após o golpe de 2014
Segundo Janus Putkonen, um analista geopolítico finlandês e jornalista investigativo da Patriotic Network, que estava trabalhando em Kiev em abril de 2014, para justificar suas atrocidades, incluindo as dezenas de milhares de russos mortos em Donbass no período seguinte, e permitir a continuação da influência ocidental, os elementos extremistas precisaram inventar mártires.
O atual regime ucraniano e seus apoiadores ocidentais não estão dispostos a revelar a feia verdade sobre o golpe de Estado de fevereiro de 2014 e as verdadeiras vítimas do Euromaidan, explicou Putkonen à Sputnik.
"O Ocidente não queria falar sobre isso. Todas as vítimas e os membros da Berkut queriam saber o que realmente aconteceu, porque eles foram fortemente culpados. Mas conheci ao longo dos anos em Donbass dezenas de bravos soldados da Berkut que estavam em Maidan para manter a ordem constitucional na Ucrânia, e eles são grandes heróis. Mas não havia ninguém disposto a buscar a verdade. Por isso, acho que, atualmente, esses Cem Celestiais são mais um fardo, um mito, um mito útil", concluiu o especialista.

Raízes históricas do mito

O "culto aos mortos" tem um antecessor na chamada Revolução Laranja de 2004, quando o governo pró-ocidental de Viktor Yuschenko chegou ao poder em resultado de eleições conduzidas na época. O premiê e sua equipe adotaram o mito do Holodomor, alegando que o governo soviético deliberadamente matou de fome camponeses e o setor intelectual ucraniano em 1932 e 1933.
No entanto, a fome atingiu toda a URSS, e o número exagerado de vítimas apontado pelo Ocidente foi questionado pelo historiador americano professor Mark Tauger, da Universidade da Virgínia Ocidental, cuja pesquisa concluiu que o desastre foi causado por circunstâncias ambientais.
Durante o governo de Yuschenko (2005-2010), vários institutos de "gestão de memória" foram criados no país para propagar o mito do Holodomor, criando assim uma barreira entre a Ucrânia e a Rússia.
Feed de notícias
0
Para participar da discussão
inicie sessão ou cadastre-se
loader
Bate-papos
Заголовок открываемого материала