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Atual guinada para a direita marca o fim da onda rosa na América Latina?

© AP Photo / Matias DelacroixApoiadores do candidato presidencial Javier Milei se reúnem em frente à sede de sua campanha depois que seu oponente, o ministro da Economia Sergio Massa, admitiu a derrota no segundo turno das eleições presidenciais, em Buenos Aires. Argentina, 19 de novembro de 2023
Apoiadores do candidato presidencial Javier Milei se reúnem em frente à sede de sua campanha depois que seu oponente, o ministro da Economia Sergio Massa, admitiu a derrota no segundo turno das eleições presidenciais, em Buenos Aires. Argentina, 19 de novembro de 2023 - Sputnik Brasil, 1920, 19.12.2023
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Após a "onda rosa" da primeira década do século XXI e a resposta eleitoral conservadora ao movimento, a América Latina parecia dar uma nova guinada à esquerda nos últimos tempos. Contudo, com a vitória de Milei na Argentina, a especulada "nova onda rosa" pode ter chegado ao fim?
O atual cenário político das Américas foi discutido no episódio desta terça-feira (19) do Mundioka, podcast da Sputnik Brasil de temas internacionais apresentado pelos jornalistas Melina Saad e Marcelo Castilho.

A onda rosa não é mais a mesma

Iniciada no final do século passado e no início deste, a "onda rosa" viu a chegada ao poder de movimentos de esquerda em países como Brasil, Argentina, Venezuela, Equador, Bolívia, Uruguai, Paraguai e Chile. Em resposta a isso, ocorreu uma "onda conservadora" na região, com grande parte desses países elegendo líderes de direita, seguida novamente por uma onda de governos progressistas.
Agora que governos de direita parecem se firmar novamente no continente, com Lacalle Pou no Uruguai, Santiago Peña no Paraguai, Daniel Noboa no Equador, Nayib Bukele em El Salvador e Javier Milei na Argentina, esse ciclo recente da política latino-americana ganha uma nova etapa.
Para o pesquisador do Observatório de Regionalismo André Araújo, mestre em relações internacionais pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e doutor em ciência política pela Universidade de Bolonha, os últimos movimentos "não se consolidam com o mesmo panorama que tínhamos ali nos anos 2000, 2010".
Segundo o acadêmico, observando também a composição dos poderes legislativos e as eleições subnacionais desses países, nota-se uma "permanência dos partidos de direita no poder". Isso já evidencia uma diferença dessa "nova onda rosa" da primeira. "Vamos tendo esse cenário na América Latina, que mantém essa dualidade no espectro político ideológico."

Vitórias da oposição

O sociólogo, especialista em relações internacionais e pesquisador da The New School for Social Research Felippe Ramos aponta que, nas últimas eleições, temos visto muito o fenômeno "anti-incumbent", isto é, uma aversão àqueles que já estão no poder.

"É difícil, hoje, na América Latina, os presidentes conseguirem a reeleição. E isso não só na América Latina, inclusive nos Estados Unidos, onde Donald Trump também não conseguiu ser reeleito. Isso se explica em grande medida pela dificuldade de entregar as promessas de campanha."

Na avaliação de Ramos, a estagnação econômica sofrida pelas Américas, em particular a América Latina, com a mudança do eixo de prosperidade para o Sudeste Asiático, o Oriente Médio e a China, criou problemas estruturais para os estados da região. "Não são problemas, inclusive, que podem remeter somente à culpa da direita ou da esquerda."
Araújo compartilha da mesma opinião, vendo desde 2012 a insatisfação do eleitorado com as situações econômicas, sociais e de segurança pública como principal agente mobilizador da política. "Um voto ideologicamente orientado à direita ou à esquerda mostra uma insatisfação com o status quo", afirmou.
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A influência norte-americana

Outro ponto que influenciou bastante o possível fim da recente onda rosa, para Araújo, foi a chegada de Donald Trump à presidência dos EUA entre 2017 e 2021, e o seu possível retorno em 2025.

"O governo nos Estados Unidos sempre vai ter um impacto muito grande em todos os países latino-americanos pela situação de dependência que ainda existe entre as regiões", ressalta o pesquisador.

Já Ramos vê na campanha de Trump o momento fundador de uma nova direita ao redor do mundo. Antes, explica, ao contrário dos movimentos de esquerda que sempre buscaram dialogar internacionalmente entre si, os partidos de direita possuíam aproximações com base em interesses de governo, e não de ideologia.
No pós-Trump, exemplifica Ramos, a direita se organiza "do ponto de vista de sociedade civil".

"A direita, inclusive, [faz isso] fora do poder, porque hoje Jair Bolsonaro está fora do poder, mas foi lá com seu filho para a posse de Milei. Ali se encontrou também com Viktor Orbán, [primeiro-ministro] da Hungria."

É um novo fenômeno organizacional, explica, de líderes conservadores do mundo ocidental para a discussão de estratégias em comum, principalmente "relativas ao uso das mídias sociais, da comunicação ofensiva, do uso de certa manipulação do discurso, inclusive da circulação de fake news e da viralização de conteúdos."
Para Ramos, um potencial novo mandato de Trump pode "empoderar os presidentes mais radicais do continente", o que decretaria de vez o fim da onda rosa.
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