Analista: Lula recupera integração regional em momento 'transcendental' para América do Sul

© AFP 2023 / EVARISTO SAPresidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva segura seus óculos durante a coletiva de imprensa conjunta com seu homólogo venezuelano Nicolás Maduro no Palácio do Planalto, Brasília, 29 de maio de 2023.
Presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva segura seus óculos durante a coletiva de imprensa conjunta com seu homólogo venezuelano Nicolás Maduro no Palácio do Planalto, Brasília, 29 de maio de 2023. - Sputnik Brasil, 1920, 30.05.2023
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A convocação de Lula aos ex-membros da Unasul é "transcendental" para reviver "uma rota de integração que foi desmantelada", disse o sociólogo colombiano Javier Calderón à Sputnik. O analista Daniel Prieto destacou que uma mudança de posição em relação à Venezuela é fundamental para a nova agenda.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva é o anfitrião da cúpula de presidentes sul-americanos no Palácio Itamaraty que começou em 30 de maio.
Além de Lula, dez chefes de Estado dos 12 países que compuseram a União de Nações Sul-Americanas (Unasul) participam da reunião regional:
Alberto Fernández (Argentina);
Gustavo Petro (Colômbia);
Gabriel Boric (Chile);
Luis Lacalle Pou (Uruguai);
Mario Abdo Benítez (Paraguai);
Luis Arce (Bolívia);
Nicolás Maduro (Venezuela);
Guillermo Lasso (Equador);
Irfaan Ali (Guiana);
Chan Santokhi (Suriname).
No caso do Peru, em vez da presidente Dina Boluarte, o chefe do Conselho de Ministros, Alberto Otárola, está presente.
Em um diálogo com a Sputnik, o sociólogo colombiano e pesquisador do Centro Estratégico Latino-Americano de Geopolítica (Celag), Javier Calderón, disse que o fato de os presidentes sul-americanos se reunirem após quase uma década de "suspensão ou enfraquecimento da Unasul" é um "evento importante e transcendental para a região".
Para Calderón, a região pode esperar uma mensagem de unidade e "de restabelecimento de um caminho de integração que foi dissolvido" após a presidência de Dilma Rousseff (2011-2016).
Presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, durante Reunião privada com o Presidente da República Bolivariana da Venezuela, Nicolás Maduro, 29 de maio de 2023 - Sputnik Brasil, 1920, 30.05.2023
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O especialista considerou que "uma agenda prática" também pode ser definida em termos de integração, algo em que Gustavo Petro, Alberto Fernández e o próprio Lula insistiram.
Apesar do fato de que a convocação de Lula serve para "recuperar" os acordos mantidos na Unasul, o sociólogo enfatizou a necessidade de que a reunião sirva para "corrigir as dificuldades que originaram sua própria fraqueza".
"Os países que vão se reunir terão de discutir a necessidade de construir uma Unasul blindada" e "criar mecanismos institucionais que impeçam que se destrua ou desmantele rapidamente ante eventuais mudanças de governo", analisou.
Por outro lado, o cientista político colombiano radicado no Brasil, Daniel Prieto, disse à Sputnik que a reunião será mais flexível e não tão protocolar, de modo que se poderia esperar "um horizonte de novas reuniões, das quais surja um modelo oficial de tomada de decisões em que todos os Estados-membros participem como um bloco, seja como parte da Unasul ou com o nome que decidam dar a ela".
O presidente da Venezuela, Nicolás Maduro (à esquerda), e o presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva (à direita), se cumprimentam após coletiva de imprensa conjunta no Palácio do Planalto, em Brasília, em 29 de maio de 2023 - Sputnik Brasil, 1920, 29.05.2023
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Brasil: protagonista regional e internacional

A reunião regional ocorre em meio ao crescente protagonismo do Brasil na esfera regional e internacional. Lula da Silva foi o único representante da América do Sul a participar como convidado da cúpula de líderes do Grupo dos Sete (G7) no Japão.
Meses atrás, o Brasil retornou à Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos (CELAC), depois que o governo de Jair Bolsonaro (2019-2023) retirou o país do fórum em 2020.
Por sua vez, o Rio de Janeiro sediará a próxima cúpula de chefes de Estado do G20 em 2024 e a cidade de Belém sediará a 30ª edição da Conferência das Partes das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP30), a primeira reunião dessa magnitude a ser realizada no país.
"A política externa de Lula é reposicionar o Brasil nas áreas de concertação global, seja de tipo global", disse Prieto, acrescentando que o Brasília "aproveita a incidência política que está tendo com a abertura de suas relações diplomáticas".

Venezuela e maior abertura na região

A participação no evento do presidente venezuelano Nicolás Maduro, que não compareceu à reunião da CELAC em Buenos Aires, envia uma mensagem à região, diz Prieto.
Ele atribuiu a inclusão da Venezuela a uma mudança na política externa da Colômbia e do Brasil, que optaram por "uma política de integração regional que não estivesse ideologicamente alinhada com suas agendas domésticas".
A estratégia adotada é contrária às políticas promovidas durante os governos do argentino Mauricio Macri (2015-2019), do colombiano Iván Duque (2018-2022) e de Bolsonaro, que "optaram por apelar para suas políticas domésticas e fechar as portas para a integração sul-americana", disse o cientista político.

O sociólogo também garantiu que, se o bloco de países da Unasul for reconstruído, a região "poderia enviar uma mensagem aos Estados Unidos e à União Europeia para desbloquear as negociações entre a oposição venezuelana e o governo de Nicolás Maduro".

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Infraestrutura de energia da região e paz estão em cima da mesa

A reunião busca reativar a cooperação sul-americana em áreas-chave como saúde, mudanças climáticas, defesa, luta contra transnacionais ilegais, infraestrutura e energia, de acordo com uma declaração do Ministério das Relações Exteriores do Brasil.
Portanto, é possível esperar que se abordem os "projetos de infraestrutura transnacionais, principalmente nos setores de hidrocarbonetos e o setor elétrico, fundamentais para a região, segundo Prieto.
O analista também observou que o presidente Lula "busca fundos econômicos e financeiros para adaptação climática", bem como para "resposta a riscos de desastres".
Na visão de Prieto, e de acordo com a postura que adotou desde o início de seu mandato, Lula trabalhará na reunião regional sobre a promoção da paz e insistirá na criação de um órgão mediador de conflitos internacionais, no qual haveria um lugar de destaque não só para o Brasil, mas também para toda a América do Sul.
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