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Especialista: por que a OTAN não tem o direito de reclamar sobre armas nucleares russas em Belarus?

© Sputnik / Yevgeniy Odinokov / Acessar o banco de imagensSistemas de mísseis táticos Iskander-M pertencentes à 12ª Brigada de Foguetes da Guarda durante desfile na Praça Vermelha, 9 de maio de 2021
Sistemas de mísseis táticos Iskander-M pertencentes à 12ª Brigada de Foguetes da Guarda durante desfile na Praça Vermelha, 9 de maio de 2021 - Sputnik Brasil, 1920, 28.05.2023
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Moscou e Minsk assinaram acordos esta semana sobre a implantação de armas nucleares táticas russas em uma instalação de armazenamento especial em Belarus. A implantação significa um aumento na segurança de Minsk e ameaça desfazer toda a estratégia de defesa antimísseis da OTAN, diz o analista de relações internacionais e segurança, Mark Sleboda.
O presidente belarusso, Aleksandr Lukashenko, confirmou que a Rússia avançou com o envio de armas nucleares táticas para Belarus.
"Tivemos que preparar áreas de armazenamento e afins. Fizemos isso, então o movimento de armas nucleares já começou", disse Lukashenko à mídia russa em Moscou, na última quinta-feira (25).
O governo Biden respondeu de forma previsível, com a secretária de imprensa da Casa Branca, Karine Jean-Pierre, criticando a implantação nuclear como "mais um exemplo de escolhas irresponsáveis ​​e provocativas" da Rússia e reiterando o compromisso de Washington "com a defesa coletiva da aliança da OTAN".
As observações de Jean-Pierre ecoam aquelas feitas pela Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) em março, quando Moscou e Minsk delinearam pela primeira vez os planos para a transferência de armas nucleares táticas para o solo belarusso. Naquela época, um porta-voz da aliança chamou os planos da Rússia de "perigosos e irresponsáveis" e rejeitou qualquer sugestão de que a decisão fosse uma resposta à política de longa data da OTAN — incluindo o posicionamento de armas nucleares norte-americanas em solo europeu.
Mark Sleboda rejeita essas desculpas. "Em primeiro lugar, é preciso dizer, uma das primeiras justificativas que a Rússia usou para fazer isso é que os EUA realmente têm armas nucleares táticas na Europa há décadas, centenas delas, na verdade, e recentemente até foram atualizadas para as ogivas nucleares táticas B61-12 [no lugar] de bombas de gravidade mais antigas", apontou Sleboda à Sputnik, na sexta-feira (26).
"Eles estão localizados em vários países da OTAN, incluindo Bélgica, Itália e Alemanha. Eles estão lá há décadas, e a Rússia há muito reclama disso. E essa queixa de longa data, combinada com outras escaladas da OTAN, convenceu a Rússia de que, se você estabelecer o precedente e não considerar isso uma violação do Tratado de Não Proliferação de Armas Nucleares [TNP], dificilmente poderá nos acusar de fazer o mesmo se o fizermos em Belarus. Mas é claro que a hipocrisia não conhece limites", disse o observador.
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De acordo com Sleboda, a ação da Rússia não é tanto um ato de "escalada" quanto "um ato de equidade" com a decisão de enviar um "sinal definitivo" sobre o compromisso de segurança da Rússia com Belarus e o futuro de qualquer potencial conflito OTAN-Rússia.
Combinado com a implantação de sistemas de mísseis russos Iskander-M e a modificação de jatos belarussos para transportar armas nucleares, o analista espera que o movimento esfrie qualquer cabeça quente no Pentágono, Varsóvia e OTAN como um todo.

Inoculação contra a Revolução Colorida

Apontar para a aliança de Belarus com a Rússia, incluindo sua participação na Organização do Tratado de Segurança Coletiva e no Estado da União Russo-belarusso, é "algo que não é frequentemente falado com o Ocidente porque eles não gostam de reconhecer sua existência", disse Sleboda, lembrando as ameaças regulares do Ocidente à segurança belarussa, incluindo uma tentativa de revolução colorida no país em 2020.
"Na última semana, um general polonês e ex-vice-ministro da Defesa, Waldemar Skrzypczak, apareceu na TV polonesa e disse que haverá um levante em Minsk. Ele falou sobre um 'exército pró-ucraniano' com o que presumo que ele se refira aos neonazistas belarussos lutando pelo regime de Kiev — basicamente a ideia de que eles voltarão para casa e derrubarão o governo belarusso, e que a Polônia deve estar preparada para apoiá-los. Obviamente, este é exatamente um dos tipos de coisas das quais esta colocação visa proteger em Belarus", disse Sleboda.
Além disso, estão as considerações estratégicas, dadas as provocações nucleares da OTAN — como realizar exercícios de bombardeiros com capacidade nuclear perto das fronteiras da Rússia nos mares Negro e Báltico nos últimos anos, e os esforços de longa data para criar defesas antimísseis na Europa Oriental para tentar tornar a dissuasão nuclear russa obsoleta. A implantação nuclear em Belarus deve combater essas ameaças do ponto de vista de Moscou, acredita Sleboda.
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"Uma das razões pelas quais eles os colocam lá é, você sabe, o valor tático de ter armas nucleares mais perto das fronteiras da OTAN, o que arruína todos os seus planos de defesa antimísseis.[...] Mas também coloca o escudo nuclear da Rússia mais firmemente sobre Belarus. Não haverá incursão militar em Belarus [porque] haverá armas nucleares lá. E da mesma forma, torna qualquer tentativa futura de algum tipo de revolução colorida ou insurgência do tipo Maidan para derrubar o governo belarusso extremamente improvável porque a Rússia sempre terá uma desculpa para intervir", disse ele.
Juntamente com o aumento da segurança, o acordo nuclear pode significar a transferência de equipamento militar avançado adicional para Belarus, e talvez alguns "adoçantes econômicos" disfarçados para Minsk, como preços de gás mais baratos, sugeriu o observador.

Mudança na postura nuclear da Rússia?

Questionado sobre o que a implantação nuclear em Belarus significa para a doutrina nuclear da Rússia, e se isso sinaliza uma mudança na disposição de Moscou de usar armas nucleares preventivamente — inclusive na Ucrânia, como escrito repetidamente na mídia ocidental e nos think tanks de Washington, Sleboda enfatizou que até que Moscou anuncie o contrário, "a doutrina nuclear da Rússia não permite a capacidade de atacar primeiro".
"A exceção é, claro, o uso de algum outro tipo de arma de destruição em massa contra a Rússia, você sabe, armas químicas, armas biológicas.[...] A outra situação, e esta é excepcional, é um ataque convencional esmagador [isso pode] ameaçar a própria existência do Estado russo, o que geralmente é interpretado como um gigantesco ataque convencional da OTAN que conseguiria destruir os militares russos e marchar sobre Moscou ou São Petersburgo", explicou.
"Eu diria que houve uma série de autoridades russas e figuras políticas que foram muito frouxas com a conversa nuclear. Eles falam sobre o uso casual de armas nucleares como fazem os congressistas dos EUA, sabe, é como [o falecido senador do Arizona John] McCain dizendo que devemos transformar algo em um 'estacionamento de vidro'. Mas essas declarações 'engraçadinhas' e retórica não têm nada a ver com a realidade. E devo dizer que, nesta situação em particular, acho que o uso de ameaças nucleares — que não fazem parte da doutrina nuclear da Rússia e, portanto, não têm sentido — é menos do que construtivo", observou o analista.
Ainda segundo Sleboda "a doutrina nuclear da Rússia é clara" e, a menos que alguém use armas nucleares ou outras armas de destruição em massa contra a Rússia primeiro, uma resposta nuclear não ocorrerá, inclusive na Ucrânia.
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