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Operação militar especial russa
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Armar a Ucrânia é reavivar a maior onda do nazifascismo no Ocidente?

© Sputnik / Acessar o banco de imagensCom tochas, nacionalistas ucranianos de extrema-direita marcham em celebração do 113º aniversário de Stepan Bandera, colaborador de Adolf Hitler na Segunda Guerra Mundial, em Kiev, em 1º de janeiro de 2022
Com tochas, nacionalistas ucranianos de extrema-direita marcham em celebração do 113º aniversário de Stepan Bandera, colaborador de Adolf Hitler na Segunda Guerra Mundial, em Kiev, em 1º de janeiro de 2022 - Sputnik Brasil, 1920, 04.02.2023
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Na guerra midiática que envolve o conflito ucraniano, há narrativas postas aos espectadores ocidentais para convencer e justificar uma guerra por procuração contra a Rússia. O envolvimento de Kiev com batalhões nazistas é um dos perigos negligenciados pelo Ocidente. Afinal, por que muitos estão acobertando os nazistas ucranianos?
A Sputnik Brasil conversou com especialistas para entender a questão.
Durante a celebração do Natal ortodoxo, no começo de janeiro, data comum tanto para ucranianos quanto para russos, espanhóis ficaram perplexos com uma reportagem veiculada por uma emissora do país.
Reportagem sobre o Natal dos ucranianos na Espanha. Eles escolhem, claro, uma família que tem um retrato do colaborador durante a invasão nazista Stepan Bandera, responsável pelo genocídio de judeus e poloneses. A normalização do fascismo já é rotina.
Poucos anos antes da operação militar especial, os EUA tomaram uma série de medidas para condenar o que estava sendo chamado, na época, de "nazistas modernos da Ucrânia".
O Congresso norte-americano votou, em março de 2018, pela proibição de ajuda militar dos EUA ao Batalhão Azov, da Ucrânia. No ano seguinte, 40 senadores assinaram uma carta exigindo que o Batalhão Azov (e outros grupos da extrema-direita ucraniana) fosse designado como organização terrorista.
No entanto, desde o início do conflito na Ucrânia, que completa um ano no próximo dia 24, essas preocupações foram esmagadas, dando lugar ao apoio midiático e consecutivos pacotes de armas e munições avaliados em bilhões de dólares.
Congresso dos EUA - Sputnik Brasil, 1920, 24.12.2022
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Agora que as forças ucranianas estão lutando contra a Rússia, os EUA e seus aliados na Europa e na Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN), bem como os meios de comunicação ocidentais, estão apoiando Kiev de forma ainda mais acrítica.
A tendência alcançou também as big techs. A Meta (cujas atividades são proibidas na Rússia por serem consideradas extremistas), por exemplo, mudou suas regras recentemente para permitir que os usuários de suas redes sociais elogiassem o Batalhão Azov.
O próprio presidente dos EUA, Joe Biden, definiu o conflito como uma batalha pela "democracia e liberdade", embora apoie o presidente ucraniano, Vladimir Zelensky, que proibiu partidos de oposição e fechou veículos jornalísticos.
É diante desses fatos que a Sputnik Brasil questionou três analistas internacionais: afinal, armar a Ucrânia seria reavivar a maior onda do nazifascismo no Ocidente?
"Armar a Ucrânia está não somente reavivando essa grande onda nazifascista como está fomentando a escalada de guerra. E uma coisa é ligada à outra. Quanto mais o conflito se expande, mais a população se sente atingida, mais se incomoda a opinião pública, mais xenofobia se instala. E mais a ideologia nazifascista cresce por trás. Porque são coisas que estão atreladas. Esse tipo de xenofobia, a russofobia, está muito atrelado a esses ideais neonazistas, que estão incutidos e que vêm reverberando sobretudo dentro do Batalhão Azov, que detém influência dentro da Ucrânia. Então isso faz com que não deixemos de mencionar a importância disso e do Ocidente ainda não ter admitido formalmente o quão grave é esse problema. Porque, sim, estamos sofrendo muito com a russofobia, sofremos ataque de todas as espécies e nos piores termos. Pela população russa do país, sua cultura, sua história e com ódio, que é aquele ódio fomentado por ideais, por ideologias de cunho nazifascista. Não são aquelas ações pontuais de racismos isolados, de intolerâncias isoladas. Não. É um conjunto. É obra do que vem sendo pregado e infelizmente propagado", opina Carolina Bernardes Enham, professora e coordenadora do curso de pós-graduação em projetos internacionais do Instituto de Educação Continuada (IEC) da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC Minas), vice-presidente regional da Câmara Brasil–Rússia de Comércio, Indústria e Turismo no estado e cônsul honorária da Rússia em Belo Horizonte.

"Então, quanto mais você arma e fomenta um conflito cujas raízes são nazifascistas, [mais] você está propagando essas bases para o mundo, o que é grave porque ganha uma força perigosa que o mundo já conheceu e sofreu muito uma vez, e é absolutamente desnecessário que se passe por isso de novo."

Entrada principal do antigo campo de Auschwitz–Birkenau - Sputnik Brasil, 1920, 15.12.2022
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Para Alana Monteiro Leal Rêgo, da Associação Brasileira de Estudos de Defesa (ABED), é o crescente nazifascismo dentro do país que "leva a Ucrânia a buscar armamentos". A entrega de munição e material bélico dos países ocidentais a Kiev, em sua avaliação, provoca "maior instabilidade na região, e a tendência é que ocorram implicações a longo prazo".
Já o historiador e professor Fernando Horta aponta uma visão "pragmática" do Ocidente, que se baseia no materialismo histórico, ou seja, uma interpretação que mais tem a ver com questões de poderio econômico do que com a preocupação genuína em fomentar uma nova onda do nazisfascismo no mundo.
"Havia os Estados Unidos que, durante o processo da Segunda Guerra Mundial, foram tão antifascistas. E que hoje estariam ligados à construção de uma sociedade e de ajuda econômica a uma sociedade claramente alinhada com o fascismo. Do ponto de vista da nossa moral e ética do século XX, pode ser uma certa ironia, porque pode parecer que houve ali uma mudança de lado. Mas, em realidade, quando você imagina a partir da interpretação materialista da história, são interesses econômicos e políticos que geram vantagens materiais específicas. Os norte-americanos entram na Segunda Guerra simplesmente quando começou a ficar óbvio para eles que a Alemanha talvez não pudesse ser contida. Porque enquanto isso não era óbvio, os norte-americanos ficaram tranquilos, ou seja, quando eles perceberam que a Alemanha poderia efetivamente se tornar uma força que viesse a questionar o espaço deles é que eles acabaram entrando efetivamente na guerra", explica.
"É a mesma coisa que está sendo feita agora. Quer dizer, agora os norte-americanos estão apoiando a Ucrânia por conta dessa formação, dessa coalizão oriental entre Rússia e China, que pretende questionar a ordem ocidental. A diferença é meramente na nossa análise moral. Se você for olhar especificamente a partir dos marcos de interpretação materialista da história, a ação norte-americana naquele momento é praticamente idêntica ao que há hoje", aponta Horta.
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Nazismo à porta da Europa

Os elementos nazifascistas da Ucrânia não estão limitados à periferia de suas Forças Armadas. Generais como Valery Zaluzhny, um dos principais do Exército ucraniano, com alguma frequência postam fotos nas redes sociais com símbolos nazistas, como suásticas e desenhos do sol negro.
Os símbolos também apareceram em fotos publicadas por Zelensky, incluindo a notória imagem de seus guarda-costas usando um emblema da Totenkopf, caveira usada pelas forças da Schutzstaffel (SS), organização paramilitar da Alemanha nazista, na Segunda Guerra Mundial.
Além das imagens nazistas usadas abertamente pelos combatentes do Batalhão Azov, membros regulares do serviço ucraniano foram fotografados usando insígnias da SS e pintando suásticas em seus veículos.

Para Alana Monteiro, "não há dúvidas de que [a ideologia neofascista] seja o maior combustível não apenas no conflito em questão, mas no que vem ocorrendo em nações de todo o mundo, ao instigar a violência e diversas formas de agressão que partem dessa ideologia".

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Ela explica que "os pequenos focos nazifascistas ganharam mais poder em todo o mundo" pois encontraram "uma base de apoio e alimento de suas mais variadas intenções e propagação".
Para ela, o conflito trouxe não apenas maior incidência e notável presença de nazistas, mas sobretudo a oportunidade de recrutamento, inclusive internacional, intensificando a ideologia por meios ainda mais agravantes, que são "o discurso de apoio à Ucrânia".
"É indiscutível que o grupo vem ocupando vácuos de poder" e ganhando "cada vez mais poder e espaço social", afirmou.
Para ela, ainda que o presidente ucraniano "negue vínculos com grupos como o Azov, a influência e participação dessa milícia em episódios políticos são indiscutíveis".

"O primeiro passo para lidar com a ameaça é reconhecer que ela existe. Para isso, há de ser combatida em práticas imediatas, [devem ser] incorporadas medidas para contenção desde sua raiz, para que não atinja o ápice que atingiu e [não produza] [...] frutos [...]. O comprometimento social para barrar quaisquer vias de propagação torna-se indispensável", comentou.

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Relativizando o nazismo ucraniano

Em dezembro de 2022, os EUA e a Ucrânia foram as únicas nações a votar contra uma resolução da Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU) para combater a glorificação do nazismo.
Kiev considerou questionável um trecho da resolução que pedia a proibição de celebrações em homenagem aos nazistas alemães.
Recentemente o senador norte-americano Lindsey Graham, conhecido por suas posturas russofóbicas, disse: "Se [Vladimir] Putin [presidente da Rússia] for bem-sucedido na Ucrânia e não for processado pela lei internacional, tudo o que dissemos desde a Segunda Guerra Mundial se torna uma piada".
Ao comentar a fala do parlamentar, a professora Carolina Bernardes Enham lembra que a própria ONU já reconheceu a influência dos batalhões nazifascistas dentro da Ucrânia.
Ela aponta, porém, que há grupos no Ocidente que lucram em uma via de duas mãos, ou seja, com o envio de armamentos mas também com a futura reconstrução da Ucrânia mediante empréstimos e auxílios para essa finalidade.

"Percebe-se o quão irônica é essa afirmação quando quem critica uma guerra é, na verdade, quem está financiando e fazendo muito dinheiro com ela. Então interessa que essa guerra aconteça, e se, para ela acontecer, as influências e o fomento nazifascistas precisarem ser feitos, que assim seja. Então, a despeito de que haja essa ideologia por trás da guerra, os lucros da guerra compensam que se faça essa vista grossa para as abominações das ideologias nazifascistas", pondera Enham.

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De acordo com Alana Monteiro, no decorrer da história os Estados Unidos têm se posicionado em condição de contradição acerca de diversos episódios que dizem respeito às ações em guerras e conflitos pelo mundo todo.
Ela cita como exemplo a participação do ex-presidente Barack Obama, indicado ao Nobel da Paz, na guerra do Afeganistão, quando os EUA tiveram "o maior número contingencial de norte-americanos enviados" ao conflito.

Segundo ela, não apenas os EUA, mas França e Alemanha reiteram esse discurso de relativização "e também se dispõem a meios financeiros, diplomáticos, humanitários e militares para suporte na ofensiva dos ucranianos", utilizando vias bilaterais e a OTAN para esse fim.

A analista aponta que, além do apoio material, as sanções que atingem a Rússia partiram de declarações de Joe Biden, "acompanhado por presidentes das outras grandes potências, logo no início do conflito".
A imagem de Azov foi tão transformada que o cofundador do batalhão, Giorgi Kuparashvili, além de outros cinco representantes, encontrou-se com mais de 50 membros do Congresso em Washington em setembro, como parte da viagem da delegação para os Estados Unidos.
Esses símbolos não são uma preocupação para os EUA e seus aliados da OTAN.
Segundo Alana Monteiro, "há cobranças da comunidade internacional" que demandam "uma presença maior em apoio à Ucrânia", mas há também a "compreensão de que vias práticas são necessárias [tanto] para cessar o conflito, [...] [podendo] estabelecer meios diplomáticos de comum acordo aos envolvidos, [quanto para] alimentar mais a guerra".
Já o professor Fernando Horta lembra que "o nazifascismo, na realidade, nunca morreu" no mundo e que as pessoas estão se dando conta disso de forma abrupta no século XXI.

"Todos os esforços que foram feitos no fim do século XX parece que não foram suficientes para consolidar um consenso social que criminalizasse essa prática para manter a memória viva", aponta.

"Agora, é indiscutível que, uma vez que a Ucrânia esteja nessa condição, neste momento de receber esse armamento todo, a gente tem que se perguntar o seguinte: se o conflito terminar amanhã, o que a Ucrânia faz com esse armamento? O que esses grupos claramente nazifascistas vão fazer com esse armamento de último tipo naquela região? Além disso há, obviamente, não apenas o reforço do mito simbólico da Ucrânia de direita lutando contra uma esquerda — só na cabeça de algumas pessoas que Putin é de esquerda —, mas lutando contra um herdeiro do comunismo e vencendo. Então acho que esses dois pontos a gente precisa colocar. O que vai ser feito desse armamento, se há algum plano internacional para desarmar a Ucrânia uma vez que o conflito termine. Ou vamos deixar isso tudo com eles (e aí o perigo é grande)? E a segunda coisa é: como é que a gente vai trabalhar esse mito dessa Ucrânia fortalecida e renascida, obviamente, sob a tutela desse nazifascismo? Isso, sim, vai ser difícil."
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