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Missão impossível? Por que OTAN está falhando a 'ucranização' da Coreia do Sul e Japão?

© AP Photo / Escritório presidencial da Coreia do SulYoon Suk-yeol, presidente sul-coreano, discursa durante mensagem de Ano Novo ao país no escritório presidencial em Seul, Coreia do Sul, 1º de janeiro de 2023
Yoon Suk-yeol, presidente sul-coreano, discursa durante mensagem de Ano Novo ao país no escritório presidencial em Seul, Coreia do Sul, 1º de janeiro de 2023 - Sputnik Brasil, 1920, 02.02.2023
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Tanques, artilharia, veículos blindados e mesmo caças e submarinos são produzidos e ativamente exportados pela Coreia do Sul. O Japão também tem um potencial industrial-militar significativo. A OTAN poderia usar isso para prolongar o conflito em curso na Ucrânia.
Contudo, as visitas do secretário-geral da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) a Seul e Tóquio fizeram pouco para inspirar otimismo em Kiev e Bruxelas: não há fornecimento de armas ofensivas da Coreia do Sul e do Japão em cima da mesa.
O secretário-geral da OTAN, Jens Stoltenberg, transmitiu a mesma mensagem a ambos os países: a segurança da Ásia e da Europa estão estreitamente entrelaçadas, e se Putin vencer na Europa uma ação militar chinesa em Taiwan se seguiria inevitavelmente. Claro que isso nunca foi dito diretamente, uma vez que isso supostamente enviaria um "mau sinal" a todos os "países autoritários", até o Afeganistão – onde o Talibã (organização sob sanções da ONU por atividade terrorista) tomou o poder após 20 anos de uma missão fracassada dos EUA-OTAN. A Ucrânia, no entanto, é obviamente um outro assunto, portanto toda a humanidade progressista deve se unir para impedir a queda de um bastião da democracia.
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Contudo, enquanto a narrativa de "a Rússia começou isso", e é consequentemente digna de condenação, ainda prevalece na consciência das massas dos países asiáticos que se juntaram à coalizão ocidental, os apelos para se sacrificarem por um país distante do Leste da Europa já não evocam o mesmo fervor. Como resultado, as tentativas dos EUA e da OTAN de arrastar seus parceiros da Ásia Oriental para o conflito na Ucrânia por todos os meios necessários são consideradas com considerável ceticismo.

"Os EUA continuam vazando informações de que a Rússia alegadamente compra armas da Coreia do Norte. Mas no fim, tudo isso é mencionado para estragar as relações entra a Coreia do Sul e a Rússia. Para que possam depois dizer que, se fazem isso, devem também fornecer munições à Polônia. Mas [a possibilidade de as transferir para a Ucrânia] será uma irritação nas relações entre Seul e Moscou. Assim, a fim de manter sua linha, a Coreia do Sul não deve assumir ações provocatórias exageradas. E, na minha opinião, está tentando fazer isso", disse Yang Uk, doutor em Estudos Estratégicos Militares e pesquisador associado do Centro de Política Externa e Segurança Nacional do Instituto Asan de Estudos Políticos.

Segundo ele, o fato de o chefe do Pentágono, Lloyd Austin, ter visitado Seul imediatamente depois de Stoltenberg pode sinalizar uma pressão séria sobre a Coreia do Sul. Embora tenham tentado não anunciar isso, nos bastidores eles continuaram provavelmente a pedir cada vez mais coisas para a Ucrânia. No entanto, o governo da Coreia do Sul não tem nenhuma razão para confrontar a Rússia.
"Estaríamos dispostos a fazer isso se estivéssemos interessados. Mas uma coisa é vender armas para a Polônia e outra é intervir diretamente no conflito na Ucrânia. Este último caso não é de todo do nosso interesse. Sim, somos um aliado dos EUA, há uma comunhão de valores, como diz o nosso presidente, por isso temos de tomar algumas medidas simbólicas. Mas as autoridades vão evitar qualquer envolvimento direto. Washington tem estado muito descontente sobre isso desde o tempo da Crimeia. Mas nossa lógica é simples: não importa o que a Rússia faz, precisamos manter um certo nível de relações com a Rússia para impedir que se aproxime da Coreia do Norte", explicou Yang Uk.
Seul tem uma abordagem muito pragmática da cooperação com a OTAN: vários Estados-membros da OTAN têm uma grande necessidade de renovar suas frotas de equipamentos militares, e a Coreia do Sul está pronta para atender a esta demanda. Além disso, Seul está disposta a fornecer equipamento, originalmente produzido para as necessidades de seus próprios militares, para o cumprimento atempado das encomendas da Polônia. E Seul está contando com a reciprocidade caso precise de algo para si.
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Portanto, quando o secretário-geral da OTAN incita o país a lutar por ideais e seguir o exemplo da Alemanha e da Suécia, que já deixaram de lado seus princípios de não fornecer armas a um país em guerra, a Coreia do Sul responde da mesma maneira que o ministro da Defesa durante uma entrevista coletiva com seu homólogo americano:
"Só posso dizer que estamos acompanhando de perto a situação na Ucrânia".
De acordo com Cho Jin-goo, professor associado do Instituto de Estudos do Extremo Oriente da Coreia do Sul na Universidade Kyungnam, o Japão compartilha a avaliação da Coreia do Sul sobre o que acontece na Ucrânia como uma tentativa russa de "alterar o status quo pela força", mas está igualmente relutante em fornecer apoio militar direto.
"Em minha opinião, o Japão pensa mais sobre a participação na reconstrução do pós-guerra. Mesmo que haja um pedido direto de armas, é pouco provável que Tóquio o aceite. O Japão não tem tais compromissos nos termos do tratado de defesa mútua com os Estados Unidos. E o fato de os líderes da Coreia do Sul e do Japão terem participado da cúpula da OTAN no ano passado não muda muito", disse Cho Jin-goo.
Ele recordou que o Japão, ao contrário da Coreia do Sul, adotou os "três princípios" sobre exportação de armas há muito tempo. Um deles é a proibição de remessas para países envolvidos em conflitos internacionais. Portanto, mesmo se o Japão estivesse disposto a responder aos pedidos da OTAN, ele deveria ajustá-los de uma forma ou de outra, e isso vai levar muito tempo.
O Japão está preocupado com a situação na Ucrânia. O fato que o próprio primeiro-ministro recebeu Jens Stoltenberg é mais uma prova disso. Contudo, a verdadeira razão da preocupação de Tóquio é o crescente poderio da China, enquanto a "ameaça russa" é usada apenas como pretexto para convencer seus próprios cidadãos a aumentar as despesas de defesa. No entanto, mesmo esta decisão tem seus críticos.

"O Japão tem importantes eleições locais e parlamentares de meio de mandato em abril, o que, dependendo dos resultados, pode criar uma situação de crise para o gabinete de Kishida. Por isso, o apoio à Ucrânia a nível diplomático vai continuar, mas é improvável que Tóquio preste ativamente assistência militar devido à difícil situação interna."

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Na opinião dele, a OTAN dificilmente espera obter tudo o que Kiev precisa da Coreia do Sul e do Japão, porque conhece as posições das partes, mas continua forçando sua linha. Se o Japão for compensado pela coincidência de interesses na região do Indo-Pacífico, a Coreia do Sul está muito desconfiada das tentativas de fazer passar sua assistência no reabastecimento da artilharia americana quase como um fornecimento direto à Ucrânia.
"A Coreia do Sul atende os apelos da OTAN um pouco mais friamente do que o Japão, porque a OTAN não tem muito a oferecer à Coreia do Sul por si só. Eles não têm nada que estivéssemos dispostos a negociar, apenas alguma retórica. Mas isso não é surpreendente, dada a forma como a OTAN está estruturada. De modo geral, os Estados Unidos estão no comando, e o papel dos europeus não é tão grande assim. Mesmo se um Estado europeu quisesse comprar armas diretamente da Coreia do Sul, isso seria impossível sem a aprovação dos EUA", disse Yang Uk.
Portanto, se a Coreia do Sul quisesse enviar uma "mensagem" a seus parceiros da OTAN, o presidente do país teria se encontrado com Stoltenberg em Seul. Porém, o lado sul-coreano parecia não ter tal desejo.
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