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De presidente a condenada: Cristina Kirchner, a espinha dorsal da política argentina em 2022

© Foto / Twitter / @CFKArgentinaA vice-presidente da Argentina, Cristina Fernández de Kirchner
A vice-presidente da Argentina, Cristina Fernández de Kirchner - Sputnik Brasil, 1920, 26.12.2022
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A excelência na política argentina da vice-presidente Cristina Fernández de Kirchner ficou evidente neste ano, quando ela foi vítima de uma tentativa de assassinato, foi condenada pela Justiça e anunciou que não seria candidata nas eleições gerais de 2023.
Enquanto a Justiça investiga a tentativa de homicídio de que foi vítima no dia 1º de setembro, a ex-presidente (2007-2015) anunciou que não concorreria às eleições do ano que vem, após saber da condenação que recebeu pelo crime de administração fraudulenta em detrimento do Estado de seis anos de prisão e inabilitação perpétua para o exercício de cargos públicos.
A sentença histórica, que pela primeira vez condenou uma vice-presidente no exercício de seu mandato, é um tema que não pode ser isolado do contexto regional, disse a diretora do Observatório Eleitoral da Conferência Permanente dos Partidos Políticos da América Latina e do Caribe, Dolores Gandulfo, em entrevista à Sputnik.

"Já nos deparamos com várias situações em que a Justiça está envolvida na política, no que alguns chamam de lawfare ou judicialização da política", disse a especialista em Relações Internacionais ao mencionar o caso do Equador.

O ex-presidente Rafael Correa (2007-2017) se viu impedido de concorrer novamente às eleições argentinas após ser condenado a oito anos de prisão por supostas irregularidades no financiamento da campanha eleitoral do então governo do Movimento Alianza PAIS.
"No Brasil, vimos não mais como uma foto, mas como um filme: um processo de conluio entre os sistemas político e judiciário para impossibilitar que Luiz Inácio Lula da Silva [2003-2010] comparecesse às urnas e que levou a uma retração dos direitos humanos durante o governo de Jair Bolsonaro", disse Gandulfo, membro da Rede de Politólogas.
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Corrupção em todos os lugares

A questão da corrupção e da transparência, que entrou na agenda de todos os países da região, sobressaiu na Argentina com os altos níveis de polarização que o país apresenta.
A sentença da Justiça Federal no julgamento que investigou a direção de obras rodoviárias na província de Santa Cruz (sul) durante a gestão da vice-presidente e de seu antecessor, Néstor Kirchner (2003-2007), foi contraditória, de acordo com a analista.
Os juízes proferiram sentença sem abordar o crime de associação ilícita que o Ministério Público alegou, por falta de provas. Concederam metade dos anos que o Ministério Público alegou relativamente ao crime de administração fraudulenta, "mas do ponto de vista político, foi aplicada a ela [Cristina Kirchner] uma pena muito elevada, como a de inabilitação, que também vai contra o regime democrático, desde o momento em que viola a vontade popular, que deve decidir quem o representa", observou.

Fora da corrida eleitoral

A vice-presidente anunciou que não vai concorrer a nenhum cargo nas eleições presidenciais que vão ser realizadas em 2023, embora essa decisão não diminua sua autoridade na hora de decidir quem vão ser os próximos líderes da coalizão Diante de Todos.

"Pela sua centralidade na política, Cristina vai ser a líder que propõe qual será o projeto eleitoral para o próximo ano", disse a especialista em processos eleitorais e políticas públicas.

Governadores, sindicatos e centrais de trabalhadores como a Confederação Geral do Trabalho (CGT) começaram a testar as possibilidades oferecidas pelo pleito eleitoral do ano que vem.
O principal bloco de oposição, Juntos pela Mudança, se encontra "em um pêndulo", puxado por forças disruptivas de extrema direita e outras tendências mais moderadas na possibilidade de reforçar uma aliança mais ampla que inclui o radicalismo.
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Em uma situação em que a região estava decepcionada com a última onda conservadora que chegou ao poder, após um processo que viu nascer um contexto favorável para forças progressistas e de esquerda no início do século, a Argentina poderia contribuir para consolidar a integração de organizações regionais que nos últimos anos foram destituídas de sua institucionalidade.
"Por enquanto, a polarização continua prevalecendo e, ao contrário do que a sociedade costuma dizer nas pesquisas de opinião, que tende a indicar que ela quer moderação, nos processos eleitorais facilitam a polarização das opções", disse Gandulfo.
Os governos progressistas que agora reaparecem na América Latina "enfrentam situações econômicas e sociais, com altas taxas de inflação e o impacto da guerra na Ucrânia, que os obrigam a olhar mais para dentro de seus países e talvez nem tanto para a possibilidade de pensar regionalmente", disse a argentina.
Diante da insatisfação de parte da sociedade com o sistema partidário tradicional, o aprimoramento das instâncias de integração, nas quais a vice-presidente possa influenciar, constituiria uma vantagem para a coalizão governista na Argentina, diante da expectativa de que estes espaços "consigam satisfazer as exigências que os cidadãos pretendem [obter]", concluiu.
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