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'Era tudo mentira': mães arrependidas questionam idealização da maternidade

© Folhapress / Aloisio Mauricio/FotoarenaMãe carrega criança em São Paulo (imagem ilustrativa)
Mãe carrega criança em São Paulo (imagem ilustrativa) - Sputnik Brasil, 1920, 14.10.2022
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Ser mãe não é apenas viver um amor incondicional pelos filhos. O papel exigido das mães em cuidar, educar e criar uma criança e um futuro cidadão demanda muito trabalho, que logo rompe com idealizações que possam ser feitas durante a gestação.
Esse assunto tem gerado discussões na sociedade e nas redes sociais e foi tema do episódio do podcast Jabuticaba Sem Caroço, da Sputnik Brasil, que foi ao ar nesta sexta-feira (14).
A atriz Karla Tenório é uma das mulheres que pauta o debate nas redes, pela página "Mãe Arrependida". Os questionamentos feitos por Tenório sobre as ilusões da maternidade não só impactaram na websfera brasileira, como correram o mundo. A artista afirma que tudo que ela idealizava com a maternidade era "tudo mentira".

"Eu demorei muito para entender de forma cognitiva, intelectual, para ver de onde vieram as crenças, quem inventou o que, quem contou essa mentira. [...] Nesses anos eu passei sofrendo bastante. Esse movimento veio de uma necessidade de sair do silenciamento, de buscar respostas, e de uma intuição de que não era só eu que passava por isso. Eu demorei nove anos para conseguir falar do arrependimento materno para alguém e dez anos para realmente trazer esse assunto para a sociedade."

Segundo Tenório, sua decisão de expor esse sentimento tem ajudado muitas mulheres a procurarem ajuda psicológica e psiquiátrica para lidar com as dificuldades e as frustrações da maternidade.
A influenciadora digital questiona a construção social da maternidade e aponta que se formou um imaginário coletivo que não corresponde aos desafios reais, de que "ser mãe é ser forte e guerreira, que o bebê nasce e a gente ama incondicionalmente, a gente não pensa na verdade e não tem contato com mulheres que falam a verdade antes de [a gente] parir".

"No meu caso, o que me aconteceu? Eu entrei em contato com a realidade. E a realidade não é para mim. Eu não gostaria de ser mãe, mesmo. Não era para eu ter sido mãe, a minha personalidade não está para isso que é hoje ser mãe — que é a invisibilidade, que é, dentro de uma maternidade solo, casada ou não, você ter que dar conta da formação daquele cidadão, você durante muito tempo ter que abrir mão dos seus objetivos e das suas prioridades para ter que cuidar", declarou.

Tenório diz que se sentiu "completamente enganada" quando se rompeu a idealização. "[A realidade] é a exaustão física, é a exaustão mental, é, muitas vezes, a violência doméstica que eu passei, é a invisibilidade, a [falta de] liberdade, o tempo", aponta.

A atriz ressalta que o "arrependimento materno" está ligado à função de mãe, ao "job" materno, e não na relação com o sentimento com a filha. "A gente se doa, aquela pessoa nos ama e a gente tem amor por aquela pessoa. [...] A culpa nunca é da criança [...] e minha filha sabe que não é culpa dela", disse.

A psicóloga Thassia Souza Emidio, professora do Departamento de Psicologia Clínica da Universidade Estadual Paulista (Unesp), disse durante o podcast que o "arrependimento está muito conectado com dificuldades de conciliação entre o ideal materno e os desejos femininos, que são plurais e não são olhados na sociedade hoje dentro dessa pluralidade".
A psicóloga destaca que a identidade feminina foi muito vinculada à maternidade ao longo da história e acabou se tornando um marco de legitimação, de reconhecimento, e acaba por "anular a questão do feminino".

"Mães arrependidas não necessariamente não amam seus filhos, não cuidam deles ou não estão vinculadas a essa experiência, mas trazem a explicitação de um sofrimento materno que, talvez, muitas mães não possam falar, não se sintam autorizadas a falar ou se sintam muito culpadas em explicitar esse sentimento. O caminho para lidar com essa questão [...] está na desconstrução dessa idealização da maternidade e uma abertura para possibilidades de olhar várias formas de parentalidade que vão se construindo na nossa sociedade", aponta a psicóloga.

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