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O que venda de armamentos dos EUA ao Paquistão revela no novo xadrez geopolítico?

© AP Photo / Anjum NaveedF-16 da Força Aérea do Paquistão (foto de arquivo)
F-16 da Força Aérea do Paquistão (foto de arquivo) - Sputnik Brasil, 1920, 06.10.2022
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Para entender os protestos da Índia após a venda de equipamentos de Washington a Islamabad para a frota de caças F-16, a Sputnik Brasil conversou com um especialista em assuntos militares sobre o tema, enquanto outro analista, de relações internacionais, explica como os movimentos americanos impactam o Brasil e o BRICS.
Em meio a embates do Ocidente com Rússia e China, a Índia, que vem intensificando sua parceria com Moscou, protestou contra os Estados Unidos pela aprovação da venda de equipamentos militares — no valor de US$ 450 milhões (R$ 2,3 bilhões) — ao Paquistão, no início de setembro, para a manutenção de sua frota de caças F-16.
Embora não inclua novos aviões ou armamentos, Nova Deli acredita que a decisão visa intimidar o país ao fortalecer as capacidades militares do Estado vizinho, com o qual a Índia tem importantes disputas de fronteiras.
Em fevereiro de 2019, Islamabad usou aviões de combate F-16 em ataque aéreo de retaliação a instalações indianas. Anteriormente, aviões de guerra indianos bombardearam uma instalação que classificaram como terrorista na cidade paquistanesa de Balakot.
A Força Aérea do Paquistão opera uma frota de caças F-16, que começou a adquirir dos Estados Unidos na década de 1980. O pacote atual envolve reparos, peças de reposição e suporte de software, entre outros elementos para a manutenção da frota.
© AFP 2023 / PRAKASH SINGHSoldado indiano com binóculo a 200 km da linha de controle que separa Índia e Paquistão
Soldado indiano com binóculo a 200 km da linha de controle que separa Índia e Paquistão (foto de arquivo) - Sputnik Brasil, 1920, 05.10.2022
Soldado indiano com binóculo a 200 km da linha de controle que separa Índia e Paquistão. Foto de arquivo
De acordo com o Pentágono, a "venda proposta apoiará os objetivos da política externa e de segurança nacional dos Estados Unidos, ao permitir ao Paquistão manter a interoperabilidade com as forças dos EUA e parceiras nos esforços contínuos de contraterrorismo e na preparação para futuras operações de contingência".
Para Pedro Paulo Rezende, jornalista e especialista em assuntos militares e em relações internacionais, não há grande mistério por trás da aprovação norte-americana ao Paquistão. Segundo ele, a medida seria uma reposição de suprimento da frota F-16 ao país.
"É uma frota importante, já usada várias vezes contra a Índia. Não quer dizer que seja um incremento ao Paquistão para enfraquecer a Índia. É apenas a continuação de uma aliança antiga entre EUA e Paquistão", afirma Rezende.
De acordo com o especialista, no entanto, os EUA vêm tentando recuperar espaço perdido para a China no Paquistão. Ele lembra que, no início do ano, Pequim forneceu caças multifuncionais Chengdu J-10, atualmente um dos mais modernos, à Força Aérea paquistanesa e há algum tempo mantém fabricação conjunta com Islamabad de um caça menos sofisticado, o JF17.

"Os EUA correm atrás do prejuízo para retomar parte do espaço que eles perderam junto aos paquistaneses", explicou, apontando que, hoje, grande parte dos carros de combate e da artilharia antiaérea paquistanesa, além de outras frotas, é de tecnologia chinesa.

O porta-aviões São Paulo, antes da Marinha do Brasil, deixa a baía de Guanabara pela última vez, em direção à Turquia, sendo puxado pelo rebocador holandês Alp Centre, em 4 de agosto de 2022 - Sputnik Brasil, 1920, 31.08.2022
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Ao mesmo tempo, de acordo com Rezende, Washington tenta também conquistar espaço na Índia. Ele diz que, neste momento, o caça naval Boeing F/A-18E está em disputa com o caça francês Rafale e o russo MiG-29M para equipar uma nova frota de aviões da Marinha indiana.

Por outro lado, 'Brasil pode ser retaliado', diz analista

Se no caso da venda de equipamentos militares dos EUA para o Paquistão não é possível afirmar que a intenção seja punir efetivamente a Índia por sua maior cooperação com a Rússia e o BRICS, para outro especialista ouvido pela Sputnik, o Brasil, sim, poderia se tornar alvo de Washington e de seus parceiros europeus ao buscar maior independência em relação ao eixo ocidental.
Danilo Bragança, pesquisador do Laboratório de Estudos sobre Política Externa Brasileira (LEPEB) da Universidade Federal Fluminense (UFF), aponta que há um movimento duplo no mundo neste momento: de fortalecimento do BRICS, liderado por China e Rússia, e o contragolpe por parte dos EUA.
Ele explica que, no rearranjo global, em meio à crise econômica, com escassez de alimentos e combustível, os países buscam melhores condições de autopreservação e garantia de recursos.

"Os ajustes são parte do processo. O sistema foi forjado dessa forma, então vai haver uma reconfiguração que passa pelo BRICS fortalecido, pela ascensão chinesa e pela participação indiana e russa", disse Bragança.

© AP Photo / Press Information BureauDa esquerda para a direita, os líderes dos países do BRICS: o presidente russo, Vladimir Putin; o primeiro-ministro indiano, Narendra Modi; o presidente chinês, Xi Jinping; o presidente sul-africano, Cyril Ramaphosa; e o presidente brasileiro, Jair Bolsonaro, em videoconferência no dia 9 de setembro de 2021
Da esquerda para a direita, os líderes dos países do BRICS: o presidente russo, Vladimir Putin; o primeiro-ministro indiano, Narendra Modi; o presidente chinês, Xi Jinping; o presidente sul-africano, Cyril Ramaphosa; e o presidente brasileiro, Jair Bolsonaro, em videoconferência no dia 9 de setembro de 2021 - Sputnik Brasil, 1920, 05.10.2022
Da esquerda para a direita, os líderes dos países do BRICS: o presidente russo, Vladimir Putin; o primeiro-ministro indiano, Narendra Modi; o presidente chinês, Xi Jinping; o presidente sul-africano, Cyril Ramaphosa; e o presidente brasileiro, Jair Bolsonaro, em videoconferência no dia 9 de setembro de 2021. Foto de arquivo
Para o especialista, nesse cenário, o Brasil pode sofrer retaliações, dependendo dos níveis de seus laços com o BRICS e países fora do eixo ocidental.

"É muito provável que o Brasil seja retaliado desse outro lado, tendo os EUA como cabeça principal dessa aliança em torno da OTAN [Organização do Tratado do Atlântico Norte], do anti-BRICS, o que pode causar impacto ao Brasil", afirma.

Ele aponta que as relações comerciais e militares que o Brasil tem com União Europeia e os Estados Unidos podem servir como alvo do Ocidente, nesse caso, na tentativa de, em última instância, enfraquecer o país e, por consequência, o BRICS.
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EUA já pressionam Brasil, mas sem sucesso

Desde o início da operação russa na Ucrânia e da adoção de neutralidade do Brasil em relação ao conflito no continente europeu, os Estados Unidos vêm tentando pressionar o governo brasileiro para se posicionar contra a Rússia. Mas, em vez de atender aos apelos de Washington, Brasília não apenas se recusou a abandonar sua tradicional posição, como também intensificou suas trocas com Moscou.
"Estamos cientes de que todo o Ocidente e, principalmente, Washington estão tentando convencer os brasileiros de que é necessário impor sanções ao nosso país. Eles não conseguiram nenhum efeito até agora", comentou, na última quarta-feira (5), o embaixador russo em Brasília, Aleksei Labetsky, ao ser questionado sobre as pressões dos EUA sobre o Brasil.
A política de sanções ocidentais contra a Rússia e de crescentes embates dos EUA com Moscou e Pequim tem levado diversos países a buscar alternativas de parcerias fora do eixo euro-atlântico. Enquanto a Europa sofre com as consequências das medidas adotadas contra Moscou, antigos parceiros europeus veem no BRICS a possibilidade de explorar o potencial de uma ordem cada vez mais multipolar.
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Argélia no BRICS? Iniciativa pode levar mais países da África a fazer o mesmo, diz analista
"O BRICS é um formato de comunicação internacional já criado, com peso, voz e agenda próprios, que está em constante expansão. Não tenho dúvidas de que o BRICS se fortalecerá futuramente, não apenas expandindo o formato, como também seguindo como um dos instrumentos mais importantes na economia global", avaliou o embaixador Labetsky.
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