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Sabotagem do Nord Stream beneficia exportações de gás dos EUA para a Europa, avalia especialista

© Foto / Comando de Defesa DinamarquêsVazamento no gasoduto Nord Stream 2, próximo à ilha de Bornholm, na Dinamarca, em 29 de setembro de 2022
Vazamento no gasoduto Nord Stream 2, próximo à ilha de Bornholm, na Dinamarca, em 29 de setembro de 2022 - Sputnik Brasil, 1920, 29.09.2022
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À primeira vista, a história toda soa muito estranha: na última segunda-feira (26), repentinamente, técnicos perceberam uma rápida queda de pressão do gás na Linha A do gasoduto Nord Stream 2 (Corrente do Norte 2), em águas dinamarquesas, perto da ilha de Bornholm.
Pouco depois, uma queda de pressão similar foi registrada em ambas as linhas do Nord Stream 1 (Corrente do Norte 1).
A mídia ocidental não poupou tempo em apontar o dedo para a Rússia como responsável pelo ocorrido, um ataque ao seu próprio patrimônio.
Entretanto, segundo informações da revista alemã Der Spiegel publicadas na terça-feira (27), a CIA, agência de inteligência dos EUA, alertou Berlim sobre um possível ataque a gasodutos no mar Báltico há algumas semanas.
De acordo com o veículo, que cita "várias pessoas familiarizadas com o assunto", a "dica" da agência de espionagem dos EUA foi recebida em Berlim semanas atrás. Oficialmente, no entanto, o governo norte-americano se recusou a comentar o assunto.
Hoje (29), o presidente da Rússia, Vladimir Putin, classificou o ataque aos gasodutos Nord Stream 1 e Nord Stream 2 de um "ato de terrorismo internacional" e informou que vai levar o caso ao Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU).
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Exercícios militares dos EUA na área dinamarquesa do ataque

Enquanto não há uma resposta concreta em relação ao ato de terrorismo, algumas reportagens publicadas recentemente apontam que os Estados Unidos estavam fazendo diversos exercícios militares, inclusive com o uso de drones submarinos, na região da ilha de Bornholm.
Um texto publicado pela revista Seapower, mídia oficial da Marinha dos EUA, na metade de junho traz alguns detalhes significativos sobre as ações da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) exatamente na região onde ocorreu o ataque.
Sob o pretexto de caçar minas no mar Báltico, a Marinha dos EUA testava "tecnologias emergentes" nos arredores da ilha dinamarquesa, dentro do programa militar chamado de Baltops (Operações no Báltico, no acrônimo em inglês).

"O Baltops também oferece uma oportunidade única para que as comunidades de pesquisa, desenvolvimento e aquisição dos EUA exercitem a tecnologia UUV [veículos marítimos não tripulados, na sigla em inglês] atual e emergente em ambientes operacionais do mundo real. Neste ano, apresentou os programas atuais e futuros de registro para UUVs de caça às minas nos sistemas Mk18 e Lionfish", elenca o texto.

Mas é um trecho em especial da reportagem que chama atenção: o mapeamento marítimo que estava sendo feito pelos EUA.

"Ambos os sistemas foram testados ao longo de dez dias de operações de caça às minas, coletando mais de 200 horas de dados submarinos."

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Dois meses antes, a própria mídia dinamarquesa mencionava o assunto: um futuro acordo bilateral entre Dinamarca e EUA, que permitiria que as tropas norte-americanas pudessem realizar operações com base em portos dinamarqueses — um deles na própria ilha de Bornholm.
Segundo a reportagem do site The Local, o embaixador russo na Dinamarca, Vladimir Barbin, disse em fevereiro que "existia um acordo entre a Dinamarca e a Rússia que impedia que tropas americanas estivessem em Bornholm".

"Barbin referiu-se a um acordo feito entre a Dinamarca e a União Soviética em 1946, quando as tropas do Exército Vermelho deixaram Bornholm após a libertação da Dinamarca ao fim da Segunda Guerra Mundial", apontou o texto.

Questionada sobre a aliança militar com os EUA e sobre a quebra do acordo feito com a Rússia, a primeira-ministra dinamarquesa, Mette Frederiksen, respondeu:

"Posso dar uma resposta muito curta a isso. O embaixador russo não deve se envolver no que acontece em Bornholm."

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'Problema sério para a Europa', diz pesquisador

Charles Pennaforte, professor da Universidade Federal de Pelotas (UFPel) e coordenador do Laboratório de Geopolítica, Relações Internacionais e Movimentos Antissistêmicos (LabGRIMA), aponta que se trata de um problema que vai agravar mais ainda a crise na União Europeia (UE).

"A perda do gasoduto Nord Stream é mais um sério problema para a Europa em termos de abastecimento. A UE, que já vem sendo afetada pelas sanções feitas à Rússia, sentirá ainda mais os efeitos da diminuição de envio de gás. Os preços já estão extremamente elevados, com impactos diretos na economia e no nível de vida da população, agora no inverno", afirma, em entrevista à Sputnik Brasil.

Sobre um eventual ato de sabotagem, ele ressalta que, embora todas as versões sejam possíveis, provas são necessárias.

"O aprofundamento do conflito tem os EUA como principal beneficiário, em minha concepção. Abre caminho para a exportação de seus produtos e insumos para a Europa, que, ao seguir as diretrizes de Washington sem a menor visão geopolítica e estratégica crítica, sentirá muito mais os efeitos da crise", continua.

Em termos de implicações para a geopolíitca global, Pennaforte nota que os EUA não abandonaram a sua doutrina da Guerra Fria, isto é, sempre viram a Rússia como herdeira da União Soviética, o que de fato é, e como um inimigo geopolítico a ser subjugado para facilitar o acesso ao interior da Ásia e às "costas" da China.

"Um governo pró-Ocidente seria fundamental para isso", diz o professor sobre os objetivos norte-americanos. "O retorno da Rússia ao palco global nos últimos anos e sua taxativa repulsa à expansão da OTAN sobre o Leste Europeu, em especial à Ucrânia em 2014 (eu chamo de 'primeira onda' de expansão geopolítica), e agora com a possibilidade de entrada real de Kiev na OTAN em 2022 ('segunda onda'), [por um lado] explicam o atual cenário de conflito. Por outro, os EUA 'internacionalizaram' um conflito que seria regional, justamente para facilitar os seus objetivos, um 'pós-Guerra Fria tardio'. E a Europa pagará um preço alto pelos seus líderes, em grande maioria, não defenderem os interesses de seus países, mas, sim, de Washington."

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