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Brasil pode se favorecer conforme conflito na Ucrânia afasta China do Ocidente, diz consultora

© AP Photo / Nicolas AsfouriPresidente chinês, Xi Jinping, durante banquete de boas-vindas para líderes visitantes presentes no Fórum da Nova Rota da Seda, em Pequim, em 29 de abril de 2019
Presidente chinês, Xi Jinping, durante banquete de boas-vindas para líderes visitantes presentes no Fórum da Nova Rota da Seda, em Pequim, em 29 de abril de 2019 - Sputnik Brasil, 1920, 31.08.2022
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Brasil foi o maior receptor mundial de investimentos chineses no mundo em 2021. Conforme conflito na Ucrânia afasta Pequim dos países ocidentais, volume ainda maior pode ser redirecionado para o Brasil.
Relatório inédito lançado pelo Centro Empresarial Brasil-China (CEBC) revela que o Brasil foi o país que mais recebeu investimentos chineses no mundo em 2021. Após forte queda em 2020, os investimentos chineses no Brasil tiveram alta de 208% em volume de recursos e 250% em número de projetos.

"O Brasil foi o país que mais recebeu investimentos chineses no mundo em 2021, um total de US$ 5,9 bilhões [cerca de R$ 31 bilhões]", revelou o diretor de conteúdo e pesquisa do CEBC, Tulio Cariello. "Em termos de estoques de investimentos acumulados entre 2005 e 2021, estamos atrás somente dos EUA, Austrália e Reino Unido."

Cariello acredita que a retomada dos investimentos de Pequim se deve sobretudo à "gradual recuperação da atividade econômica brasileira após os impactos mais severos da pandemia de COVID-19."
© Folhapress / Lula MarquesAlunos de escola de Brasília acenam com bandeiras do Brasil e da China, em Brasília, Distrito Federal
Alunos de escola de Brasília acenam com bandeiras do Brasil e da China, em Brasília, Distrito Federal. Foto de arquivo - Sputnik Brasil, 1920, 31.08.2022
Alunos de escola de Brasília acenam com bandeiras do Brasil e da China, em Brasília, Distrito Federal. Foto de arquivo
Autor do relatório "Investimentos Chineses no Brasil: 2021, Um Ano de Retomada", lançado nesta quarta-feira (31), Cariello pede cautela na análise dos dados, uma vez que o aumento acentuado em 2021 também reflete o baixo aporte de recursos chineses no Brasil em 2020.

Política afeta investimentos nos EUA e Austrália

Na contramão do Brasil, o relatório indica forte queda nos investimentos da China em países como EUA e Austrália.

"Na Austrália houve uma queda de 70% [...] e nos EUA de 27%", disse Cariello. "No caso dos EUA, os investimentos chineses retrocederam ao menor valor desde 2005, o que aponta para uma forte deterioração nas relações."

As relações políticas entre EUA e China se deterioram desde o início da guerra comercial declarada pelo ex-presidente norte-americano Donald Trump a Pequim e não melhoraram com a chegada do atual presidente, Joe Biden, ao poder, contrariando a expectativa de analistas.
© Mandel NganO presidente dos EUA, Joe Biden, encontra-se com o presidente da China, Xi Jinping, durante cúpula virtual na Sala Roosevelt da Casa Branca, em Washington, em 15 de novembro de 2021
O presidente dos EUA, Joe Biden, encontra-se com o presidente da China, Xi Jinping, durante cúpula virtual na Sala Roosevelt da Casa Branca, em Washington, em 15 de novembro de 2021 - Sputnik Brasil, 1920, 31.08.2022
O presidente dos EUA, Joe Biden, encontra-se com o presidente da China, Xi Jinping, durante cúpula virtual na Sala Roosevelt da Casa Branca, em Washington, em 15 de novembro de 2021
As relações entre China e Austrália também enfrentam período de crise, principalmente após a adesão de Camberra ao pacto militar AUKUS, considerada uma ameaça por Pequim.
A forte queda nos investimentos chineses na Austrália e nos EUA mostra que Pequim não se furta a reduzir o aporte de recursos financeiros em países com os quais tem atritos políticos.
Dificuldades políticas, no entanto, não parecem interferir nas relações econômicas de Brasil e China. As diferenças entre o governo do presidente Jair Bolsonaro e membros do corpo diplomático chinês não tiveram impacto direto nos números de comércio e investimentos entre os países.

"Pelo que eu observo, a questão política tem influenciado muito pouco", disse Cariello. "Apesar de todas as críticas, vemos um aumento considerável das exportações para a China durante o atual governo [brasileiro], apesar dos preços terem contribuído muito para isso."

O presidente do CEBC, embaixador Luiz Augusto Castro Neves, notou que os laços entre Brasil e China não se restringem aos governos e incluem "as sociedades, que se descobrem cada vez mais".
"Governos vão, governos vêm, mas o que importa é a complementariedade e comunhão de interesses entre os países", declarou o embaixador.

Conflito na Ucrânia

A queda dos investimentos chineses nos EUA e na Austrália atestam para relações mais difíceis entre a China e o Ocidente. Nesse contexto, o conflito na Ucrânia pode acelerar uma retirada paulatina de Pequim das carteiras de investimentos norte-americanas e europeias.

"O conflito na Ucrânia sem dúvida acaba tornando a situação dos investimentos chineses nos países do Ocidente mais complexa. Países como EUA, Alemanha e Austrália já tinham imposto uma série de barreiras, o que pode se intensificar por causa desse conflito, que é mais uma forma de distanciar a China do Ocidente", disse Cariello à Sputnik Brasil.

A consultora sênior do Novo Banco de Desenvolvimento, Tatiana Rosito, acredita que a crise ucraniana poderá favorecer a recepção de investimentos chineses pela América Latina.

"É uma oportunidade, sim", disse Rosito em resposta à pergunta da Sputnik Brasil. "Há elementos que podem favorecer os países que não se posicionem em nenhum dos lados da disputa."

Para Cariello, no entanto, o conflito ucraniano não é o elemento mais relevante na atração de recursos chineses para a região.
© AP Photo / Eraldo PeresPresidentes da China, Xi Jinping, e do Brasil, Jair Bolsonaro, se cumprimentam durante cúpula do BRICS em Brasília, em 2019
Presidentes da China, Xi Jinping, e do Brasil, Jair Bolsonaro, se cumprimentam durante cúpula do BRICS em Brasília, em 2019 - Sputnik Brasil, 1920, 31.08.2022
Presidentes da China, Xi Jinping, e do Brasil, Jair Bolsonaro, se cumprimentam durante cúpula do BRICS em Brasília, em 2019
"A questão política e a desvalorização das moedas acabam sendo fatores muito mais determinantes [para o fluxo de investimentos] do que as questões geopolíticas do Leste Europeu", opinou o analista.
Ele aponta a recente aproximação política entre China e países como Chile, Argentina e Nicarágua.

"Em 2021, a Nicarágua trocou de lado e reconheceu o governo de Pequim em vez do de Taiwan. Há também grande proximidade com os governos do Chile e da Argentina, que entraram no Banco Asiático de [Investimento em] Infraestrutura", relatou.

A China inclusive patrocina a entrada da Argentina no BRICS, composto por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul. Segundo relatos da mídia, a inclusão de Buenos Aires no grupo poderá ser concluída já neste ano.

Brasil, maior receptor na América Latina

Apesar da afinidade política de governos latino-americanos com Pequim, o Brasil segue como o principal receptor de investimentos chineses na região. Entre 2005 e 2021, o Brasil concentrou 48% dos aportes de recursos chineses, 29% a mais do que o Peru, segundo maior receptor latino-americano.
Os setores mais visados pelos chineses são os de eletricidade, tecnologia da informação e extração de petróleo e gás.
"Os investimentos chineses no setor de eletricidade são uma constante histórica. Eu brinco que antes mesmo de começar a pesquisa, já sabia que esse setor ia se destacar", disse Cariello.
De fato, entre 2007 e 2021, o setor absorveu 40,5% dos recursos financeiros da China injetados no Brasil. O vice-presidente corporativo da empresa chinesa do setor CTG Brasil, José Renato Domingues, notou que o Brasil precisa produzir mais energia para retomar o crescimento econômico.
"A relação de amizade, proximidade, respeito cultural dos brasileiros com os chineses têm ajudado a CTG a construir uma relação forte e próspera com o Brasil, que visa o longo prazo", declarou Domingues.
O setor que mais surpreendeu os analistas, no entanto, foi o de tecnologia da informação, com o lançamento de dez novos projetos chineses no Brasil.
"Sabemos que 80% da população brasileira é conectada à Internet e tem uma característica cultural de gostar muito de aplicativos e redes sociais, o que favorece os investimentos no país", disse Cariello.
© AP Photo / Noel CelisTrabalhador empurra carrinho em frente a placa que mostra a operação do Evergrande Group na China, em complexo habitacional do incorporador imobiliário em Pequim, em 8 de dezembro de 2021
Trabalhador empurra carrinho em frente a placa que mostra a operação do Evergrande Group na China, em complexo habitacional do incorporador imobiliário em Pequim, em 8 de dezembro de 2021 - Sputnik Brasil, 1920, 31.08.2022
Trabalhador empurra carrinho em frente a placa que mostra a operação do Evergrande Group na China, em complexo habitacional do incorporador imobiliário em Pequim, em 8 de dezembro de 2021
Algumas das principais investidoras, como as empresas Tencent, Ant Financial e MAS Capital, já são conhecidas dos brasileiros.
"Acho interessante notar que essas empresas de tecnologia chinesas são, na sua maioria, privadas. Elas não necessariamente dependem de um planejamento estratégico do governo e têm mais liberdade para agir", acredita Cariello.
O analista aposta que os chineses vão aumentar seus investimentos em tecnologia da informação neste ano, tanto pela chegada do 5G ao Brasil quanto pela maturação de projetos já iniciados em 2021.
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