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Especialista rebate comparação entre França e China: 'Maior desenvolvimento acelerado da história'

© AFP 2023 / Jacques WittO presidente francês, Emmanuel Macron, ao lado do presidente brasileiro, Jair Bolsonaro, durante cúpula do G20 em 2019, no Japão (foto de arquivo)
O presidente francês, Emmanuel Macron, ao lado do presidente brasileiro, Jair Bolsonaro, durante cúpula do G20 em 2019, no Japão (foto de arquivo) - Sputnik Brasil, 1920, 10.08.2022
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Ao analisar as polêmicas declarações do ministro da Economia Paulo Guedes sobre as relações do Brasil com França e China, especialista ouvido pela Sputnik julga ser injusta a comparação entre os dois países e destaca que o Brasil deve entender os interesses de cada um e organizar uma estratégia que beneficie os brasileiros e os sul-americanos.
Apesar de ter visto o presidente Jair Bolsonaro assinando os mais variados documentos nos últimos anos com uma caneta Bic, de origem francesa, o ministro Paulo Guedes não poupou críticas ao governo da França ao minimizar, na última terça-feira (9), a importância econômica do país europeu para o Brasil.
O Brasil é de longe o maior parceiro comercial da França na América Latina, sendo responsável por cerca de 21% do comércio francês na região. O governo brasileiro importa de Paris inseticidas, rodenticidas, fungicidas e herbicidas, além de motores e máquinas não elétricas. Mas, segundo Guedes, enquanto o comércio entre brasileiros e franceses cresceu de US$ 2 bilhões (R$ 10 bilhões) para US$ 7 bilhões (R$ 35 bilhões) desde o início do século, no mesmo período as trocas com a China saltaram dos mesmos US$ 2 bilhões para US$ 120 bilhões (R$ 606 bilhões).
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"Vocês [França] estão ficando irrelevantes para nós. É melhor vocês nos tratarem bem, porque senão vamos ligar o f***-se para vocês", disse Guedes ao relatar a conversa que teria tido com um ministro francês que havia criticado as queimadas na Amazônia e se queixando da demora excessiva para a ratificação do acordo entre Mercosul e União Europeia (UE).
Para o professor Marcos Cordeiro Pires, do curso de relações internacionais da Universidade Estadual Paulista (Unesp), é difícil compreender as declarações do ministro brasileiro, pois ao se pensar na "questão do próprio ingresso do Brasil na OCDE [Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico], é preciso levar em conta que isso depende do aval de outros países, inclusive da Europa, além dos EUA. A gente nunca pode dizer que a Europa é irrelevante, tendo em vista sua tradição política e cultural tão influente no nosso país".
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Em entrevista à Sputnik Brasil, o especialista destaca que, de fato, "as políticas ambientais no Brasil vão na contramão dos valores europeus, como da Alemanha e França" e que, por isso, o acordo estaria bloqueado.

Comparação com a China

Pires defende que não se pode, de maneira alguma, "desprezar o potencial comercial e tecnológico da Europa no Brasil", bastando ver a "quantidade de grandes montadoras e outras empresas gigantes atuando no Brasil".
Sede da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), em Paris, França (foto de arquivo) - Sputnik Brasil, 1920, 08.08.2022
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De acordo com ele, a comparação que o ministro fez entre França e China é injusta, pois há uma série de fatores sociais e econômicos que explicam a aproximação chinesa com os países da América Latina, fatores alheios às questões que regem a relação entre UE e Mercosul.

E "a China, nos últimos 40 anos, organizou o maior processo de desenvolvimento acelerado da história".

"O Brasil se desindustrializou por conta de diversas políticas neoliberais adotadas nos últimos anos e passou a ser um exportador unicamente de commodities agrícolas, minerais e energéticas. E o país que mais demanda esses bens é a China, cuja economia se tornou fundamental para o Brasil e diversos outros países da América Latina, EUA, Europa e África."
© AP Photo / Eugene HoshikoA partir da esquerda: o então primeiro-ministro italiano, Giuseppe Conte; a então primeira-ministra britânica, Theresa May; o primeiro-ministro holandês, Mark Rutte; o presidente francês, Emmanuel Macron; o primeiro-ministro espanhol, Pedro Sánchez; a então chanceler alemã, Angela Merkel; o então presidente do Conselho Europeu, Donald Tusk; e o presidente do Brasil, Jair Bolsonaro. Os representantes se preparam para comparecer a uma coletiva de imprensa no local da cúpula do G20 em 2019, em Osaka, no Japão, em 29 de junho de 2019
A partir da esquerda, o primeiro-ministro italiano Giuseppe Conte, a primeira-ministra britânica Theresa May, o primeiro-ministro holandês Mark Rutte, o presidente francês Emmanuel Macron, o primeiro-ministro espanhol Pedro Sanchez, a chanceler alemã Angela Merkel, o presidente do Conselho Europeu Donald Tusk e o presidente do Brasil Jair Bolsonaro se preparam para comparecer a uma coletiva de imprensa no local da cúpula do G-20 em Osaka, oeste do Japão, sábado, 29 de junho de 2019.  - Sputnik Brasil, 1920, 10.08.2022
A partir da esquerda: o então primeiro-ministro italiano, Giuseppe Conte; a então primeira-ministra britânica, Theresa May; o primeiro-ministro holandês, Mark Rutte; o presidente francês, Emmanuel Macron; o primeiro-ministro espanhol, Pedro Sánchez; a então chanceler alemã, Angela Merkel; o então presidente do Conselho Europeu, Donald Tusk; e o presidente do Brasil, Jair Bolsonaro. Os representantes se preparam para comparecer a uma coletiva de imprensa no local da cúpula do G20 em 2019, em Osaka, no Japão, em 29 de junho de 2019. Foto de arquivo
No entendimento do professor, Pequim "quer garantir o seu próprio desenvolvimento econômico", criando oportunidades para suas empresas em países que têm déficit no setor de infraestrutura. Ele destaca que os investimentos chineses continuaram subindo no país, apesar das polêmicas bilaterais da "primeira fase do governo Bolsonaro", quando o presidente, alguns ministros e outros parlamentares protagonizaram uma série de situações que geraram desconforto para a China.

"A China compra as coisas do Brasil não por caridade, mas por necessidade e demandas de sua própria economia. Do ponto de vista comercial, Pequim continua com seu processo de desenvolvimento econômico", disse.

Marcos Cordeiro Pires avalia que independentemente do governo que estiver no poder, "a relação entre Brasil e China é grande e forte". Nesse sentido, "cabe ao Brasil entender os interesses da China, assim como os da União Europeia, e organizar uma estratégia de governo que beneficie os brasileiros, suas empresas e os povos sul-americanos".
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