Bolsonaro vai moderar suas posições de política internacional?

© REUTERS / Adriano MachadoJair Bolsonaro, presidente eleito do Brasil, durante uma sessão no Congresso Nacional, em Brasília, em 6 de novembro de 2018
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A Sputnik Brasil vai analisar a política externa de Jair Bolsonaro (PSL) em três atos: passado, presente e futuro. Falamos com especialistas para entender a diplomacia da campanha do presidente eleito, o quadro atual no governo de transição e previsões sobre o futuro do Itamaraty.

Como foi a diplomacia na campanha?

Em seu plano de governo, batizado de "Projeto Fênix", Bolsonaro defendeu um "novo Itamaraty". De acordo com o texto, o ministério das Relações Exteriores "precisa estar a serviço de valores que sempre foram associados ao povo brasileiro" e é necessário trabalhar "com países que possam agregar valor econômico e tecnológico ao Brasil".

"Deixaremos de louvar ditaduras assassinas e desprezar ou mesmo atacar democracias importantes como EUA, Israel e Itália", afirma o pano de governo.

O Projeto Fênix defende a integração com países da América Latina "livres de ditaduras" e uma "ênfase nas relações e acordos bilaterais".

Durante a campanha, Bolsonaro adotou um tom crítico contra a China. "A China não está comprando no Brasil, ela está comprando o Brasil", afirmou o então candidato. Em 2017, Bolsonaro viajou à Ásia e esteve em Taiwan, mas não na China. 

Pequim considera Taiwan uma província província rebelde e a visita de Bolsonaro foi considerada uma gafe. 

Como está a diplomacia no governo de transição?

Bolsonaro já anunciou o chanceler de seu governo: Ernesto Araújo. Diplomata na carreira no Itamaraty, ele ficou conhecido por sua defesa do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, e por suas posições pró-Bolsonaro publicadas no seu blog Metapolítica 17.

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Araújo já afirmou que "somente Trump pode ainda salvar o Ocidente" e que existe um "grande embate mundial entre o globalismo e a liberdade".

Além do anúncio, o governo de transição já acumula algumas rusgas diplomáticas.

Após Bolsonaro afirmar querer transferir a embaixada brasileira em Israel para Jerusalém, o Egito retaliou e cancelou a visita de uma delegação comercial brasileira. A medida é polêmica porque a Organização das Nações Unidas (ONU) não reconhece Jerusalém como capital israelense. 

A disputa mais recente envolve o presidente da França, Emmanuel Macron, e o Acordo de Paris. Defensor do combate à mudança climática, Macron disse condicionar um acordo comercial entre União Europeia e Mercosul ao cumprimento do Acordo de Paris.

As negociações entre o bloco europeu e o latino já se arrastam há décadas. 

Durante a campanha, Bolsonaro chegou a prometer tirar o Brasil do Acordo de Paris — a mais ampla coalizão internacional contra o aquecimento global já feita. Poucos dias antes do segundo turno, contudo, o político do PSL recuou e disse que o Brasil seguirá no Acordo de Paris. 

Como será o governo? Haverá moderação?

A partir do primeiro dia de janeiro de 2019, quando Bolsonaro assume o poder, ele precisará mudar sua linha de ação, acreditam os especialistas ouvidos pela Sputnik Brasil. 

"Uma vez no poder, Bolsonaro vai se dar conta que existem constrangimentos sistêmicos da realidade internacional com que ele precisa lidar", afirma o professor de política internacional da UERJ Paulo Velasco. "Não é um caminho seguro para um país mediano como o Brasil, porque o Brasil não passa da condição de potência média, sair copiando posturas de uma grande potência como os EUA de Trump."

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O professor da UERJ também acredita que outro fator influenciará a ação do futuro presidente: o Itamaraty. Segundo Velasco, o corpo de funcionários e embaixadores do órgão não compartilha as "percepções antiglobalistas e antimultilaterais" e pode servir como "peso incercial" na política externa nacional. 

"O Ernesto Araújo não vai comandar o Itamaraty sozinho, nem a política externa. Terá que contar dezenas e dezenas de embaixadores, e a maioria esmagadora dele não converge em nada com suas ideias."

A professora da Unesp e estudiosa da política externa da América Latina Karina Mariano também concorda que Bolsonaro irá mudar quando estiver em Brasília como presidente, para ela "a realidade vai se impor" e os "resquícios da campanha" serão deixados para trás. 

A primeira viagem internacional como chefe de Estado de Bolsonaro será para o Chile — quebrando uma tradição dos presidentes eleitos de ter a Argentina como o primeiro destino. Mariano acredita que a decisão mostra uma tentativa de "realinhamento da política externa" e a escolha pelo Chile foi tomada porque o país "é colocado no discurso do presidente e de sua equipe como um exemplo a ser seguido".

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Já sobre a aproximação com os Estados Unidos, a professora da Unesp ressalta que ela não será automática:

"A gente pode querer fazer acordos bilaterais, mas precisa ver se os outros querem fazer acordos com você — e quais são os termos que eles colocam na mesa. Esse alinhamento aos Estados Unidos pode acontecer, mas é preciso ver o que o outro está oferecendo, a gente não pode esquecer que nos anos 1990 [o presidente da Argentina Carlos] Menem teve o mesmo posicionamento, ele é dono da frase famosa de que ele queria 'relações carnais' com os Estados Unidos. E, no fim, não deu em nada porque não havia do outro lado interesse nesse relacionamento."

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