Ação do Exército contra queimadas na Amazônia deixa áreas críticas de fora, diz pesquisador

© AP Photo / Andre PennerNo estado brasileiro do Pará, perto da cidade de Novo Progresso, bombeiros e soldados trabalham no controle de um incêndio em área desmatada por pecuaristas, em 23 de agosto de 2020.
No estado brasileiro do Pará, perto da cidade de Novo Progresso, bombeiros e soldados trabalham no controle de um incêndio em área desmatada por pecuaristas, em 23 de agosto de 2020. - Sputnik Brasil
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O número de queimadas na Amazônia disparou no mês de agosto, e após revisão de dados pode ficar ainda mais alto. Sobre isso, a Sputnik Brasil conversa com o coordenador do Programa de Monitoramento da Amazônia no Imazon, que explicou por que a ação do Exército não está inibindo o aumento de queimadas.

O mês de agosto deste ano foi o segundo pior em uma década em registros de queimadas na região da Amazônia. O quadro ainda pode piorar, uma vez que foram detectadas falhas no sensor do satélite de monitoramento e houve defasagem nos dados de estados como Amapá, Roraima, Rondônia, Acre e também no norte do Amazonas. O mês teve 29.307 focos de incêndios na região da maior floresta do mundo no Brasil, sendo que no ano anterior foram registrados 30.901 focos de queimadas - o pior resultado em dez anos.

Esse aumento ocorre em meio a uma operação de Garantia da Lei e da Ordem (GLO) do Exército na região, a Verde Brasil 2, com o objetivo de conter as queimadas e o desmatamento na região. A operação foi deflagrada em junho deste ano e prorrogada até novembro, sob a batuta do vice-presidente brasileiro, Hamilton Mourão, chefe do Conselho da Amazônia.

O geólogo e ambientalista Carlos Souza Jr., coordenador do Programa de Monitoramento da Amazônia do Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon), explica que as queimadas são comuns também em outras regiões para limpeza de pastagens e restos de floresta desmatada. Mas aponta que o mais comum tem sido justamente o desmatamento.

"O que a gente tem visto com mais frequência é essa segunda categoria de queimadas na Amazônia, uma queimada com o objetivo de fechar ali o processo de desmatamento. O corte da floresta é seguido de uma queima e isso culmina com o processo de desmatamento", aponta o ambientalista em entrevista à Sputnik Brasil.

Souza Jr explica que presença do Exército na região não está diminuindo o desmatamento, e aponta que as ações relacionadas à GLO na Amazônia estariam sendo realizadas em áreas com menor intensidade de queimadas.

"O decreto de Garantia da Lei e da Ordem para o controle do desmatamento, GLO, não tem sido efetivo para reduzir o desmatamento e as queimadas. A hipótese principal é de que as ações de comando e controle da GLO não estão focadas em áreas críticas, ou seja, onde o problema está acontecendo", aponta.

Ação ineficaz do Exército brasileiro?

O pesquisador do Imazon, Carlos Souza Jr., explica que no passado a combinação de duas frentes de ação distintas funcionaram para reduzir o desmatamento na região da Amazônia, e que a retomada dessas medidas pode voltar a surtir efeito na redução de queimadas e derrubada da floresta.

"No passado o Brasil teve êxito para controlar o desmatamento porque usava dois instrumentos: usava o sensoriamento remoto, as imagens de satélite, para guiar as operações de campo. E o campo, que é o segundo instrumento, precisa ter também aplicação de sanções, essas sanções inibem a continuidade do desmatamento. O comando de controle, as ações de campo, não podem ser permanentes. Então é preciso a aplicação efetiva de punições, sanções, para inibir a continuidade desses desmatamentos", aponta.
© AP Photo / Leo CorreaQueimada na Amazônia perto da BR-163 no Pará
Ação do Exército contra queimadas na Amazônia deixa áreas críticas de fora, diz pesquisador - Sputnik Brasil
Queimada na Amazônia perto da BR-163 no Pará

Apesar dos registros de aumento no número de queimadas em agosto na Amazônia, o vice-presidente Hamilton Mourão foi às redes sociais, na terça-feira (1º), comemorar uma suposta redução dos "focos de calor" na região durante o mês.

​O ambientalista Carlos Souza Jr. explica que ainda é necessário o cruzamento de mais dados para possibilitar uma avaliação precisa das operações, mas mantém a hipótese de haver falta de ações da atual operação Verde Brasil 2 nas áreas com maior número de queimadas.

"A gente precisa investigar isso, precisa ter dados para entender onde essas operações estão sendo feitas, cruzar essas informações com os dados de satélite. E com isso a gente consegue medir onde está tendo sucesso - pode ser um sucesso local - e onde está deixando de atuar, que parece que são nas áreas mais críticas", conclui.
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