O Instituto Trata Brasil, especializado em estudos de saneamento e proteção ambiental divulgou uma pesquisa, revelando que o aquecimento global, o crescimento do país e o desperdício de recursos naturais poderão provocar um aumento da demanda por água potável no Brasil, até 2040, em 80%.
Sputnik Brasil conversou sobre o tema com Adacto Ottoni, engenheiro sanitarista, professor associado do Departamento de Engenharia Sanitária e Ambiental da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ).
O especialista classificou a pesquisa como "preocupante", em função dos fatores opostos relatados pelo estudo.
"Ao mesmo tempo que a demanda por água está aumentando no Brasil, e vai aumentar ainda mais até 2040, podendo chegar em até 80% do valor atual, do outro lado os mananciais de água que vão sustentar esse abastecimento de água estão, de forma oposta, sendo cada vez mais degradados", alertou o engenheiro sanitarista.
O professor da UERJ apontou para o aumento do desmatamento e da poluição dos rios em todo país, o que coloca em risco o acesso à água. Para Adacto Ottoni, falta às autoridades uma visão estratégica do tema e por isso o governo somente se mobiliza para "apagar o incêndio", em vez de pensar na prevenção.
"Temos que nos preocupar seriamente com essas informações que o Instituto Trata Brasil já está projetando para que a gente possa ter políticas públicas adequadas no sentido de garantir a sustentabilidade no abastecimento de água no Brasil", disse Ottoni à Sputnik Brasil.
O engenheiro considera a degradação das bacias hidrográficas brasileiras um dos principais problemas relacionados ao futuro do abastecimento de água no país. Segundo ele, o estudo do Instituto Trata Brasil abordou o tema de forma indireta, ao apontar o desmatamento e a polução dos rios como vilões.
Bacias Hidrográficas são áreas ou regiões de drenagem de um rio principal e seus afluentes. Também pode-se dizer que é um território, no qual as águas das chuvas, das montanhas, subterrâneas ou de outros rios escoam em direção a um determinado curso d'água.
"Crise hídrica não é só falta de água. Crise hídrica é também excesso de água, como aconteceu agora no Rio de Janeiro, em janeiro deste ano, com o problema da geosmina. Tinha água sobrando e a CEDAE não conseguia tratar a poluição. É o que está acontecendo hoje em dia. Durante o período chuvoso você coloca em risco o abastecimento porque a água fica mais suja em função da poluição da bacia hidrográfica que a chuva leva. E quando não há mais a floresta, porque a floresta segura 80% da chuva e filtra, quando chega o período de estiagem há o risco de não ter água, como aconteceu no sistema de Cantareira [em São Paulo], com 70% da bacia hidrográfica desmatada", explicou Ottoni.
Para o interlocutor da Sputnik Brasil, o colapso do sistema de abastecimento de água "é uma questão de tempo". Segundo ele, a sociedade, como um todo, precisa encarar o problema com ações concretas para evitar uma verdadeira crise ambiental, como a fiscalização do desmatamento e da poluição e reutilização do esgoto.
"O grande problema do nosso país é a falta de sustentabilidade nas políticas públicas. Você pensar no crescimento do país sem pensar na infraestrutura para suportar esse crescimento é a mesma coisa que dar um tiro no pé", concluiu.
As opiniões expressas nesta matéria podem não necessariamente coincidir com as da redação da Sputnik
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