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Dívida com FAO: Brasil trocou a liderança por 'posições que causam vergonha', diz especialista

© Foto / Carolina Antunes/Divulgação/Palácio do PlanaltoPresidente Jair Bolsonaro durante coletiva de imprensa sobre o novo coronavírus
Presidente Jair Bolsonaro durante coletiva de imprensa sobre o novo coronavírus - Sputnik Brasil
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O Brasil tem hoje a segunda maior dívida de um país com a Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO), sendo que em 2020 o país não depositou nenhum valor nas contas da entidade.

De acordo com documentos oficiais, citados pelo UOL, o Itamaraty deve US$ 4,4 milhões (cerca de R$ 23 milhões) e 7,1 milhões de euros (cerca de R$ 42 milhões) em relação aos pagamentos obrigatórios que deveriam ter sido realizados em 2019. A verba serve para o financiamento de atividades da entidade, que serve como principal braço da ONU na luta contra a fome no mundo.

Em entrevista à Sputnik Brasil, o professor de Relações Internacionais da Universidade Mackenzie, Arnaldo Francisco Cardoso, lembrou que o brasileiro José Graziano foi o diretor-geral da FAO por quase dez anos e que durante sua gestão "buscou implementar uma série de reformas na estrutura da organização, visando tornar seus programas mais eficientes, especialmente no combate à fome no mundo".

"Durante esse período, o Brasil ocupou lugar de destaque e liderança por suas ações no âmbito interno e externo para o combate à fome, esse flagelo que ainda atinge mais de 800 milhões de pessoas no mundo nas quais mais de 100 milhões são crianças", observou.

De acordo com ele, "tem sido motivo de pesar, estupefação e indignação a ruptura de uma trajetória tão relevante pro país". "Trocamos a liderança por posições que hoje nos causa vergonha", disse.

Ao comentar se a dívida pode ter implicações práticas para o país, o especialista afirmou que o montante dessa dívida "não representa muita coisa para as contas do país, mas que para uma organização internacional como a FAO, que depende de contribuições de seus países membros, essa inadimplência compromete seus projetos no mundo".

"Comumente essa sistemática interrupção de pagamentos implica em perda de protagonismo do país nos processos deliberativos de organizações internacionais, mas o pior dano ao país é em sua imagem, que acaba por ter desdobramentos em outras arenas de atuação e negociação internacional", completou.

Ao falar sobre o alinhamento com os EUA como um dos motivos para a dívida com a FAO, Cardoso observou que o "alinhamento automático tem sido motivo de muitas críticas desde o início do governo Bolsonaro, e no presente momento tem sofrido os efeitos negativos dessa equivocada política".

"É já bastante conhecida a paranoica interpretação que o presidente e seu chanceler fazem sobre o multilateralismo e as diversas organizações internacionais. E é verdade que o atual presidente norte-americano se serve de narrativa similar para construção de sua permanente companha contra os hipotéticos inimigos de seu projeto de poder", completou.

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