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Em que resultaria a aliança entre PCC e uma das maiores organizações criminosas do mundo?

© AP Photo / Arnulfo FrancoPacote de cocaína
Pacote de cocaína - Sputnik Brasil
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Para especialistas, a movimentação "não é de agora", e pode ser observada há décadas.

Nesta semana, a imprensa informou que o PCC – Primeiro Comando da Capital, maior facção criminosa do Brasil, e a 'Ndrangheta, considerada uma das maiores organizações criminosas do mundo, estão formando uma aliança no Brasil para o tráfico de drogas.

Hoje, a 'Ndrangheta movimenta cerca de 43 bilhões de euros por ano com tráfico ilegal de drogas e também através de empresas de construção, restaurantes e supermercados.

Quais são, para a população pacífica, os impactos dessa aliança entre PCC e 'Ndrangheta? Quais são os interesses da máfia italiana no Brasil?

Sputnik Brasil conversou sobre o tema com o cientista político, estudioso do PCC e membro do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, Guaracy Mingardi. Para ele as notícias estão longe de ser uma surpresa.

​O estudioso explicou que o Brasil sempre abasteceu o mercado de cocaína da Europa. E a estrutura da PCC já vem sendo utilizada há alguns anos em parceria com a máfia da Calábria.

"A aproximação com o grupo da Calábria não é de agora. Há alguns anos eles são destinatários da cocaína enviada para a Europa pelo PCC. Normalmente pelo porto de Santos", disse Mingardi.

"Não é necessáriamente algo da organização, às vezes um líder do PCC que está colocando cocaína lá. Eles compram na Bolívia, via de regra vem pela fronteira seca do Paraguai, depois levam até o porto de Santos, entregam para alguém colocar dentro do navio e a organização criminosa italiana tira lá", acrescentou.

Ou seja, segundo o especialista, o interesse do PCC na "exportação" não é novo, mas é fruto de uma realidade que foi se intensificando durante anos de atividade. Inclusive, segundo Mingardi, alguns quadros do PCC preferiram se dedicar somente ao "comércio exterior", promovendo assim uma renovação nas lideranças regionais do Comando.

​O coronel da Polícia Militar de São Paulo e secretário nacional de Segurança Pública do governo Fernando Henrique Cardoso, José Vicente da Silva, concorda com Mingardi.

Segundo o militar, já se sabe há mais de 20 anos que "o Brasil reexporta praticamente 50% da cocaína que vem dos países vizinhos".

O território brasileiro, em função da sua extensão e facilidade geográfica, é rota de todos os produtores da droga no continente.

"Os grupos criminosos, como a máfia italiana, máfias russas e outros grupos criminosos entraram nesse festival de drogas", destacou Vicente da Silva.

A movimentação de drogas pelo país é intensa, pois as fronteiras e as estradas no Brasil não são bem vigiadas, alertou o coronel. Por outro lado, o crime organizado brasileiro não tem condições de operar da fronteira para fora e se associa com grupos estrangeiros que também buscam contato.

"Os nossos criminosos aqui, o nosso crime organizado, não tem capacidade de fazer toda essa movimentação comercial internacional. Quando muito, coloca alguns agentes para arrumar facilidades de compra nesses países menos estruturados", explicou.

"Quando chega em âmbito internacional, existe um grau de sofistificação tal, que essas máfias tradicionais da Europa tem muito mais condição de fazer o trabalho logístico e comercial das drogas", ponderou o especialista.

Ou seja, "isso acontece há décadas", acrescentou.

Quanto à segurança para a população, o ex-secretário nacional acredita não haver motivo para pânico.

"Isso não afeta quase nada no dia a dia das nossas cidades. Porque é uma movimentação sofisticada de criminosos que movimentam cargas sofisticadas, containers, uma movimentação financeira, que não impacta a segurança do dia a dia do cidadão".

O problema mesmo seria a droga que fica no país durante o percurso até os portos, que, segundo ele, é quase a metade de tudo que passa pelo país.

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