Político de centro-direita derrota candidato do Presidente Santos à Prefeitura de Bogotá

ENTREVISTA COM DIOGO DARIO 2 DE 26-10-15 e
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A Colômbia teve o domingo, 25, marcado pela realização de eleições regionais e departamentais. Entre os resultados surpreendentes do pleito está a vitória de Enrique Peñalosa, ex-prefeito de Bogotá, que voltará à administração da capital colombiana.

Político de centro-direita, Peñalosa derrotou o candidato do Presidente Juan Manuel Santos, o ex-Ministro do Trabalho Rafael Pardo e a candidata considerada favorita, a esquerdista Clara López.

Em entrevista exclusiva à Sputnik Brasil, o Professor Diogo Dario, doutor em Relações Internacionais pela Universidade de Saint Andrews, no Reino Unido, analisa os resultados das eleições colombianas. O Professor Dario é especialista em políticas latino-americanas, com ênfase em Colômbia, Venezuela, Equador e Chile. 

 

Sputnik: O que podemos destacar do resultado das eleições colombianas de domingo, 25 de outubro?

Diogo Dario: Um elemento importante foi a vitória de Enrique Peñalosa numa eleição apertada em Bogotá, pois o principal posto em disputa era a Prefeitura da capital. É o principal cargo político do país depois da Presidência da República, e tem a volta de um político importante, pois ele já tinha sido prefeito de Bogotá. Peñalosa é um político centrista, mas a plataforma dele sempre foi muito local, nunca teve expressão nas eleições nacionais, não tem uma pauta em relação ao conflito [com as FARC], que é a grande pauta atual da Colômbia. Mas é alguém que se destacou pelos projetos de mobilidade urbana que ele implementou na Colômbia no final da década de 1990. Foram projetos pioneiros como o sistema de ônibus Transmilênio, que é exatamente o mesmo sistema que o prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes, está tentando implementar neste momento com o BRT. Peñalosa expandiu as ciclovias em torno da cidade. Na primeira onda da revolução em termos de mobilidade urbana no mundo, ele era um dos políticos importantes nesse processo de implementação, ganhou muito destaque em Bogotá e internacionalmente neste momento.

S: Qual foi o candidato apoiado pelo Presidente Juan Manuel Santos para a Prefeitura de Bogotá?

DD: Juan Manuel Santos apoiou abertamente a campanha de Rafael Pardo. Não chega a ser uma derrota para ele em termos da importância da agenda que ele tem em relação ao conflito [com as FARC]. Ele queria evitar que o único partido de extrema-direita que está hoje se posicionando abertamente contra o conflito, que é o Partido Centro Democrático, do ex-Presidente Álvaro Uribe, ganhasse um espaço muito grande nestas eleições locais, porque ele está visualizando o panorama do pós-conflito. No momento em que o acordo for assinado – a expectativa é de que tenhamos algum tipo de acordo no primeiro semestre do ano que vem – ele vai precisar do apoio desses governadores e prefeitos para implementação de muitas das políticas de pós-conflito, para lidar com a reintegração dos militantes das FARC e para todas as políticas de reparação para as vítimas. Muitas delas são implementadas no nível local, e por isso os prefeitos têm uma importância e uma autonomia na organização dessas políticas, e o presidente sabe que desses esforços vai depender parte do sucesso de pós-conflito. O que é mais importante para a agenda dele, mais que uma vitória de Rafael Pardo para a Prefeitura de Bogotá, é que os políticos que se colocaram neste momento em oposição e resistência ao processo de paz não ganhassem espaço. Isso de fato não aconteceu. A principal cidade onde o Partido Centro Democrático estava concorrendo com chance de vitória era Medellín, e eles perderam para um político local, o ex-vereador Frederico Gutiérrez. Em termos de praças disputadas, o Centro Democrático não ganhou espaço como se temia que ganhasse, e neste sentido Juan Manuel Santos teve a principal demanda de sua agenda satisfeita.

S: Em termos nacionais, como o Presidente Juan Manuel Santos sai dessas eleições regionais na Colômbia?

DD: Ele sai com esta agenda contemplada. O partido dele não sai particularmente fortalecido porque ele perdeu as duas principais praças onde estava disputando, Bogotá e Cali, onde ganhou, nesta última, um político conservador. Ele sai com um panorama em que o partido dele continua forte e, o mais importante, ele conseguiu evitar o crescimento, que muitas pessoas apontavam, dessa direita que estava oferecendo cada vez mais resistência em relação ao conflito [das FARC]. O importante para ele, para o legado político dele, que está indo para a segunda metade do último mandato, é colocar as condições para que o processo de paz, que é o que vai colocar o nome dele na história do país, se consolide. Não adianta ele conseguir assinar um acordo para o processo de paz vir a degringolar dois anos depois. Esta era a principal preocupação dele em relação a esta eleição.

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