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Opinião: “Agências de classificação de riscos não podem funcionar como obituários”

© REUTERS / Brendan McDermid Moody's
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Num espaço inferior a 15 dias, uma segunda grande agência de classificação de riscos, a Moody’s, rebaixou a nota de crédito do Brasil. O analista da agência brasileira SR Ratings, Robson Sato, comentou o tema com exclusividade para a Sputnik Brasil.

Na terça-feira, 11, a agência norte-americana rebaixou a nota do Brasil de Baa2 para Baa3, mantendo o país na condição de grau de investimento mas apenas uma nota acima do nível especulativo. Além do rebaixamento, a perspectiva (ou outlook, no termo em inglês) foi alterada de negativo para estável. 

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Duas terças-feiras antes, no dia 28 de julho, a agência Standard & Poor’s manteve em BBB- (Triplo B negativo) a nota de crédito do Brasil, alterando porém a perspectiva para negativa. A S&P, como a Moody’s, considera o Brasil ainda na condição de grau de investimento, mas com a reavaliação o país ficou mais próximo de perder o selo de bom pagador, no entendimento de vários analistas econômicos.

Para o mercado financeiro, as notas das agências de classificação de riscos funcionam como uma espécie de termômetro em relação à capacidade de pagamento dos países analisados.

A nota BBB- (Triplo B negativo) é apontada como “último degrau do chamado grau de investimento”. Ela é comumente atribuída a países com baixo risco de não honrar suas dívidas junto aos credores internacionais.

Já a perspectiva negativa revela uma tendência de rebaixamento da nota de um país no futuro, o que pode levar o país a ser incluído no grau especulativo.

Na opinião de Robson Sato, sócio e analista da agência brasileira de classificação de riscos SR Ratings, “o Brasil está numa trajetória de deterioração”. Em entrevista exclusiva à Sputnik Brasil, o especialista afirmou:

“A leitura dos jornais desta quarta-feira, 12, confere a impressão de que muitas pessoas se sentiram aliviadas porque tanto a Moody’s, na terça-feira, 11, quanto a Standard & Poor’s, em 28 de julho, mantiveram a nota de grau de investimento para o Brasil e atribuíram a condição estável para o país. Entretanto, a situação exige atenção, pois há claros sinais de deterioração econômica.”

Os ministros da Fazenda e do Planejamento, Joaquim Levy e Nélson Barbosa, reagiram de forma diferente à nota da Moody’s. Levy declarou à imprensa que “ela sinaliza os cuidados que o Brasil deve ter com a sua dívida pública e com a sua economia”, enquanto Barbosa preferiu destacar que o país conserva o grau de investimento.

Mas, para Robson Sato, a questão precisa ser mais bem pensada:

“Precisamos levar em conta que os fatos são muito discutíveis, principalmente em relação à saída dos investimentos. O mercado já precificou a fuga destes investimentos, entendendo que isto reflete a real situação econômica do país. Então, é necessário analisar todas estas questões com o máximo de cautela e senso de realidade.” 

Para os próximos dias, espera-se a manifestação da Fitch, outra grande agência internacional de classificação de riscos, sobre a economia brasileira. Entre os analistas econômicos, a perspectiva é de que a Fitch acompanhe o posicionamento da Moody’s e da Standard & Poor’s, rebaixando igualmente a nota de crédito no Brasil, o que obrigaria o Governo brasileiro a acelerar os procedimentos em relação ao chamado ajuste fiscal. Robson Sato entende, porém, que a questão é outra:

“Não é preciso esperar pela nota desta terceira agência, mas, sim, tomar providências para melhorar a qualidade da dívida pública. O Ministro Joaquim Levy está certo ao se preocupar com esta questão, porém o mais importante é perceber o ponto a que chegou a nossa economia.”

Robson Sato também é favorável a uma mudança de postura por parte das agências de classificação de riscos:

“Estas agências não podem funcionar como obituários, como diz o economista Paulo Rabello de Castro. Elas deveriam sinalizar para os países as reais condições de suas economias e alertar os governos para as consequências da gestão de economias que não produzem os efeitos esperados.”

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