Turquia acusa deputado de terrorismo após revelações sobre fonte de armas tóxicas do Daesh

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Eren Erdem, deputado de oposição turco do Partido Republicano do Povo (CHP), revelou que os terroristas do Daesh obtiveram gás sarin através do território turco, e agora enfrenta acusações de terrorismo em seu país. O legislador diz que as acusações são baseadas em algumas "declarações de testemunhas secretas", sem qualquer prova documental.

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O governo turco apresentou uma moção para remover a imunidade parlamentar de Erdem, que também é jornalista investigativo, abrindo a possibilidade de condená-lo à prisão por 'ligações com o terrorismo".

A Sputnik turca entrou em contato com o deputado para falar sobre a investigação em curso na Grande Assembleia Nacional Turca (GANT).

"Eles lançaram uma investigação sobre mim por eu ser um membro da ‘estrutura paralela’ que é uma indefinida e ambígua organização terrorista", diz o deputado.

"Esta investigação baseia-se em declarações de ‘testemunhas secretas’. Não há provas documentais, exceto este ‘testemunho secreto’. Então, quem é a testemunha secreto? ", perguntou o deputado.

"Deixe-me explicar; o proprietário do jornal que eu gerencio foi afundado devido a algumas notícias sobre corrupção. Esta testemunha me enviou algumas mensagens via Whatsapp e disse que o governo está me oferecendo dinheiro, com o consentimento de Erdogan, que eles prometem descontar da minha dívida fiscal, se eu assinar uma declaração que eles querem".

Erdem diz que há duas razões por trás das acusações.

"Uma das razões é a minha forte oposição à política de Erdogan, especialmente no caso Sarraf em que os EUA estão relacionados à corrupção de Erdogan e de seus ministros. Dois anos atrás, eu era o único jornalista que estudou o rastro do dinheiro entre Sarraf e políticos na Turquia. O governo tentou destruir tudo (documentos, provas) associado a essas relações".

O legislador refere-se ao caso de Reza Zarrab, também conhecido pelo nome Riza Sarraf, um comerciante de ouro turco que estava no centro de um escândalo de corrupção que envolveu o Presidente Recep Tayyip Erdogan e seu círculo íntimo.

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Em 2013, Sarraf foi acusado de subornar ministros do partido governista da Turquia com dinheiro e presentes caros, como parte de um esquema para contornar as sanções norte-americanas contra o Irã.

Ele foi preso em Miami e acusado de lavagem de milhões de dólares no âmbito de um esquema para ajudar o governo iraniano a escapar das sanções econômicas.

Em resposta ao escândalo, Erdogan revirou a burocracia da Turquia, demitiu milhares de funcionários públicos, policiais e promotores, e enviou muitos para a prisão. Além disso, ele também jogou a culpa em cima de um grupo de ex-aliados, o movimento religioso Gulen, rotulando-a como uma organização terrorista.

A outra razão, segundo o deputado, é sua investigação sobre a fonte do gás tóxico sarin conseguido pelos jihadistas do Daseh (grupo terrorista autodenominado Estado Islâmico).

"Devido à minha investigação sobre a questão do gás sarin, Erdogan e seu governo têm sido obcecados em vingança há bastante tempo", contou o parlamentar à Sputnik.

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Em dezembro de 2015, Erdem disse à RT que os terroristas do Daesh obtiveram suprimentos do gás através do território turco, e que Ancara não fez nada, apesar de ter todas as provas em mãos.

O que Erdem na verdade revelou em uma entrevista com a RT foram os detalhes de um caso criminal aberto, e depois abruptamente fechado, pelo Gabinete do Procurador-Geral na cidade turca de Adana.

Seu relato alega que as autoridades turcas tinham uma grande quantidade de evidências sobre as remessas de gás sarin aos militantes na Síria que mais tarde se juntaram sob a bandeira do Daesh, mas não fizeram nada para detê-los.

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O parlamentar observou que materiais usados para fabricar armas químicas foram trazidos para a Turquia, a partir de vários países europeus, e misturados em campos do Daesh na Síria.

Apesar das evidências detalhadas disponíveis, os 13 suspeitos detidos em operações da polícia turca em conexão com a trama foram liberados e o caso foi encerrado depois de apenas uma semana.

Pouco depois de suas revelações, Erdem foi acusado de traição por Erdogan.

"Há um deputado neste país, enterrado tão profundamente em um poço de traição, e de um partido que afirma ser tão antigo quanto a república, dizendo durante uma entrevista a um canal de televisão estrangeiro que a Turquia está vendendo armas químicas para terroristas", declarou Erdogan, após o novo escândalo, dirigindo-se a uma multidão na cidade de Konya.  

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