Em entrevista à Sputnik Brasil, Maurício Santoro, professor de Relações Internacionais da UERJ (Universidade do Estado do Rio de Janeiro) e especialista em política chinesa, disse que o Brasil "amarra as próprias mãos" ao não discutir implantação da tecnologia 5G com a Huawei.
"Ao excluir uma das principais empresas do setor simplesmente porque ela é uma companhia chinesa, porque ela tem um vínculo com o Estado chinês, o Brasil está amarrando as próprias mãos em termos de conseguir acordos mais vantajosos", afirmou.
Santoro lembrou que a tecnologia 5G será fundamental para o país não ficar "para trás" no desenvolvimento tecnológico global.
"Toda essa questão do 5G tem um papel fundamental para o desenvolvimento de uma série de novas tecnologias que vão ser cruciais para a Quarta Revolução Industrial, como Internet das coisas, veículos autoconduzidos", disse.

Para o especialista, o Brasil deveria aproveitar a disputa entre os Estados Unidos e China na corrida pelo 5G para se beneficiar e conseguir melhores acordos.
"O que o governo brasileiro deveria fazer é aproveitar essa rivalidade entre a China e os Estados Unidos para extrair o máximo possível de cada parceiro. Pensando, por exemplo, em transferência de tecnologia, em parcerias econômicas, em transformar o leilão do 5G em algo que pudesse estimular o desenvolvimento científico e tecnológico brasileiro", declarou.
O chamado diálogo trilateral Japão-EUA-Brasil deverá defender valores comuns desses países na Ásia e na América Latina, mas tem como objetivo principal criar mais um fórum de contraposição à China.

O cientista político pensa, no entanto, que no atual cenário é difícil o Japão cumprir o papel exercido pela China no Brasil e no continente.
"O Japão hoje não tem como oferecer para o Brasil aquilo que os chineses fazem. O comércio da China com o Brasil é mais de dez vezes maior do que o comércio do Brasil com o Japão", explicou.Maurício Santoro ainda foi além e lembrou que o Japão não possui o mesmo nível de desenvolvimento tecnológico que a China possui.
"A China hoje conseguiu ter uma tecnologia muito avançada em áreas-chave como o próprio padrão 5G de Internet, onde o Japão não é um concorrente. É absolutamente impossível que o Japão preencha esse espaço que a China tem hoje para a economia e para o sistema financeiro brasileiro", declarou.
Segundo a reportagem publicada pelo jornal Folha de S.Paulo, o acordo entre o Brasil, EUA e Japão independe do resultado das eleições nos EUA.
Santoro vê que, de fato, o resultado das eleições presidenciais dos Estados Unidos não deve interferir no posicionamento do país em relação à China.
"Hoje em dia existem muitas coisas que separam os democratas dos republicanos nos Estados Unidos, mas você tem um grande tema que une os dois partidos: a hostilidade à China e o medo da ascensão chinesa", disse.
Segundo o professor da UERJ, caso Biden seja eleito, Bolsonaro pode adotar uma postura ainda mais ríspida com o governo chinês.
"Provavelmente a cartada que o Bolsonaro teria na mão, para tentar manter um diálogo com o governo americano, seria assumir uma posição ainda mais crítica à China do que ele vem tendo até agora", completou.
O leilão de frequências do 5G no Brasil está previsto para ocorrer em 2021. Depois dele, as operadoras deverão escolher seus fornecedores.
Confira a apuração dos votos nas eleições presidenciais norte-americanas em tempo real:
As opiniões expressas nesta matéria podem não necessariamente coincidir com as da redação da Sputnik
Ao pressionar o botão "Publicar", você concorda expressamente com o processamento de dados da sua conta no Facebook para permitir que você comente notícias no nosso site usando essa conta. Você pode consultar a descrição detalhada do processo de processamento na Política de Privacidade.
Você pode cancelar seu consentimento removendo todos os comentários publicados.
Todos os comentários
Mostrar comentários novos (0)
em resposta a(Mostrar comentárioEsconder comentário)