No segundo semestre de 2020, todos os países venderam títulos dos EUA por um valor de US$ 500 bilhões (R$ 2,6 trilhões), enquanto a China, por sua vez, já se desfez de um terço destes instrumentos financeiros, destaca Michael Howell, chefe da empresa CrossBorder Capital em seu artigo para o Financial Times.
Desde sua adesão à Organização Mundial do Comércio, o gigante asiático tem apoiado a demanda de dólares do mundo, reduzindo desta maneira o custo dos empréstimos aos EUA.
À medida que a China segue abandonando os instrumentos financeiros denominados na moeda norte-americana, sua demanda seguirá caindo, fazendo com que seja cada vez mais difícil e dispendioso para Washington financiar seu déficit orçamentário.
Alguns funcionários chineses citam a necessidade de o país se tornar independente do dólar o quanto antes e promover a internacionalização do yuan.
Dólar deverá perder terreno em relação ao euro nos próximos meses, prevê economistahttps://t.co/ArUiFAlaMN
— Sputnik Brasil (@sputnik_brasil) July 2, 2020
O Senado norte-americano aprovou sanções pela suposta repressão da etnia uigur na Região Autônoma chinesa de Xinjiang e a adoção por parte da China da lei de segurança nacional para Hong Kong.
Para que estas restrições entrem em vigor, ainda devem ser aprovadas pelo presidente norte-americano, Donald Trump. Entretanto, Trump demora para adotar medidas contra a China, pois teme que as negociações comerciais entre os dois países fracassem.
Após a pandemia, a economia norte-americana entrou em queda livre e os políticos norte-americanos parecem estar decididos a jogar a carta da suposta ameaça chinesa.
Atualmente, o dólar e o euro seguem sendo utilizados na maior parte do comércio, recordou Chen Fengying, especialista do Instituto de Economia Mundial da Academia de Relações Internacionais Contemporâneas da China.
"O problema ainda maior é o das reservas cambiais da China. É preciso mais tempo e esforços para que Pequim possa se desfazer do dólar. Podemos notar que todos os países do mundo que enfrentam a hegemonia do dólar tentam acabar com esta dependência, porém não há outra alternativa. O mesmo pode se dizer sobre o euro", advertiu, adicionando que, a longo prazo, a desdolarização na China deveria se converter em um objetivo e não ser apenas um desejo.
A curto prazo, as sanções contra a China podem prejudicar também os EUA. Segundo a Organização Mundial do Comércio (OMC), a China gera 13% das exportações e 11% das importações mundiais e, se o dólar deixar de ser utilizado em seus pagamentos internacionais, isso poderia provocar turbulências no sistema financeiro dos EUA.
O dólar é, há anos, a moeda de pagamento de mais de metade dos contratos internacionais, sendo atualmente usado em aproximadamente 40% dos contratos comerciais.
A utilização do dólar como principal moeda do mundo permitiu aos EUA terem um grande déficit orçamentário durante décadas, já que este tem sido financiado por outros países.
Para Chen, é impossível deixar de investir na dívida dos EUA. Entretanto, devido ao impacto da chamada flexibilização quantitativa e do enorme déficit orçamentário, os títulos do Tesouro não podem ser considerados como um instrumento muito confiável.
"Pode-se dizer que todas as maçãs já estão podres. Porém, entre todas elas, o dólar segue sendo confiável. Se outras moedas tivessem inspirado confiança, já estaríamos pagando com elas. Porém, infelizmente, não há alternativa. Este é um problema real da economia mundial", concluiu.