Conforme descrito em um relatório do Centro para uma Nova Segurança Americana (CNAS, na sigla em inglês), o crescimento do poderio militar chinês nas últimas duas décadas influenciou negativamente as próprias tentativas da Índia de modernizar e expandir suas forças – particularmente no domínio marítimo.
Tal acontecimento é, em grande parte, fruto das tensas relações de Nova Deli com Pequim, desde a guerra na fronteira em 1962. Embora a grande maioria da Marinha do Exército de Libertação Popular (ELP) da China esteja naturalmente concentrada no oceano Pacífico, nas últimas décadas fechou acordos que lhe dão acesso a bases e portos em Bangladesh, Mianmar, Paquistão e Sri Lanka. Juntos, eles formam um "colar de pérolas" projetado para envolver a Índia geograficamente, conforme reporta a revista The National Interest.
Adicionalmente, a Marinha do ELP também tem enviado cada vez mais navios em patrulhas no oceano Índico. O relatório do CNAS descreve recomendações sobre como a Marinha e a Força Aérea indianas podem continuar mantendo uma postura dominante no oceano Índico, apesar da crescente assimetria de poder com o seu maior rival regional.
Investimento em submarinos mais acessíveis
A Marinha do ELP é muito maior do que a da Índia, mas a última pode tirar proveito do seguinte fator: os navios da Marinha chinesa baseados na China só podem transitar de forma eficiente no oceano Índico através dos pontos de estrangulamento do estreito de Malaca (adjacente a Singapura, Malásia e Sumatra) ou o estreito de Sunda (entre Sumatra e Java).
Deste modo, o relatório sugere que a Marinha da Índia deve construir uma grande força de 12 a 18 submarinos (diesel-elétricos) de curto alcance, e mais baratos, que poderiam interditar o tráfego através desses estreitos sem serem vulneráveis aos formidáveis mísseis antinavio chineses.
Por outro lado, uma força menor de novos submarinos de ataque, movidos a energia nuclear e capazes de operações de alta velocidade e longo alcance, poderia invadir o oceano Pacífico para impor riscos, atrasos e custos adicionais ao embarque da Marinha chinesa.
No entanto, para a rápida elaboração dessa força submarina, é aconselhado o cancelamento dos planos de construção de um terceiro porta-aviões nuclear para seguir o segundo porta-aviões da Índia, Vikrant, que deverá entrar em operação na década de 2020.
Aumento da conscientização do domínio marítimo
A Marinha indiana também deve consolidar a sua capacidade de rastrear os movimentos de navios e submarinos em águas próximas por meio da aquisição de mais sistemas de Inteligência, Vigilância e Reconhecimento (ISR, na sigla em inglês).
A implantação de aviões de patrulha marítima P-8I Poseidon é um começo promissor nesta missão, com meios de vigilância adicionais, incluindo satélites e drones de longa duração, tais como o MQ-4C Triton da Marinha americana ou algum equivalente doméstico indiano, conta a mídia.
Por fim, o compartilhamento de inteligência com os EUA e/ou a França também pode solidificar a consciência do domínio marítimo da Índia, não esquecendo que, em caso de conflito, a Índia também precisará analisar as capacidades projetadas para proteger seus ativos sistemas ISR de ataque.
Vertentes para guerra assimétrica no mar
Além dos submarinos diesel-elétricos, o CNAS argumenta que a Índia deve também investir em outros sistemas antinavio relativamente acessíveis, em vez de tentar construir grandes combatentes de superfície.
Navios de guerra com drones furtivos baratos, dispensáveis, e fortemente armados, como os que a Marinha dos EUA já vem adquirindo, e mísseis antinavio de longo alcance baseados em terra, como o míssil de cruzeiro supersônico Brahmos, poderiam aumentar de maneira acessível o poder de fogo antinavio da Índia de um modo mais discreto, ao contrário de imensas frotas de navios de guerra que não passariam despercebidas a radares, relata o artigo.
Reforçar alianças
Nas últimas duas décadas, os Estados Unidos investiram intensamente em uma aliança com a Índia para contrabalancear a ascensão da China. No entanto, as limitações orçamentárias e as falhas profundas nas aquisições significam que é irreal esperar que Nova Deli tenha condições para enfrentar o poderio militar do ELP chinês, em especial no ar e no mar, segundo o relatório.
Além disso, os laços de cooperação entre a Índia e os Estados Unidos são limitados pelos padrões de Washington em comparação com outras parcerias militares, mas os analistas acreditam que Nova Deli poderia ganhar muito mais com o aprofundamento da cooperação com a maior potência ocidental.
A simples participação em mais exercícios militares anualmente com os EUA, e outros países asiáticos, poderia aumentar a proficiência das formações militares indianas e sua capacidade de operar com outros países.
Graças às ilhas da Reunião e Mayotte, a França também possui uma capacidade significativa de inteligência marítima no oceano Índico. Paris e Nova Deli poderiam, portanto, também se beneficiar mutuamente de um maior compartilhamento de inteligência.
Outras relações que poderiam ser positivamente cultivadas incluem nações como Austrália, Japão, Filipinas, e até mesmo o Vietnã.
No final, o relatório do CNAS conclui que, ao se concentrar na estratégia defensiva e na adoção de capacidades assimétricas, a Marinha indiana pode manter o seu domínio marítimo sem ter que construir uma grande frota como a da China.
Contudo, no fim das contas, cabe aos políticos de Nova Deli determinar que abordagem a Marinha indiana deverá adotar para garantir seus interesses na região em jogo.
Segundo a revista The National Interest, deve-se também salientar que, até agora, Nova Deli tem conseguido antagonizar Pequim em questões fora de seus interesses imediatos. O que acontecerá no futuro, apenas o tempo e grandes decisões poderão dizer.