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'Embraer dos mares': ICN projeta futuro de parceria com a Marinha e aguarda reator nuclear

© Foto / Divulgação / Marinha do BrasilSubmarino de classe Scorpène S40 Riachuelo, o primeiro do Prosub a ser lançado ao mar, em 2018
Submarino de classe Scorpène S40 Riachuelo, o primeiro do Prosub a ser lançado ao mar, em 2018 - Sputnik Brasil
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Formada para construir os cinco novos submarinos da Marinha do Brasil – um deles de propulsão nuclear, a Itaguaí Construções Navais (ICN) se espelha na Embraer na busca por novas parcerias e negócios no amplo mercado mundial de defesa e segurança, disse um executivo da companhia à Sputnik Brasil.

Falando direto da 12ª LAAD Defence & Security, a mais importante feira de defesa e segurança da América Latina e que acontece até sexta-feira no Rio de Janeiro, o assessor de Relações Institucionais da ICN, Daniel Fernandes Mendonça, revelou que os trabalhos do Programa de Desenvolvimento de Submarinos (Prosub) seguem dentro do cronograma.

"Estamos recebendo a visita de muita gente, curiosas em sua maior parte. Mas não podemos firmar contratos. Todo interessado em informações precisa vir até nós por intermédio da Marinha", afirmou Mendonça em entrevista à Sputnik Brasil. Atualmente, a empresa existe apenas para cumprir os projetos do Prosub, em andamento no estaleiro de Itaguaí (RJ).

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"Criada em 2009, a partir do acordo governamental entre o Brasil e a França, a ICN é a empresa responsável por receber e reter a tecnologia francesa assegurando que o país seja autônomo na construção de seus próprios projetos de submarinos e outros sistemas navais semelhantes", informa a página oficial da companhia.

Atualmente, a empresa é uma sociedade de propósito específico formada pela brasileira Odebrecht e pelo estaleiro francês Naval Group (então conhecido como DCNS). Pelo acordo, a Marinha brasileira detém uma ação chamada de golden share, que permite o veto de decisões contrárias ao propósito específico da Força Naval.

Contudo, o executivo da ICN revelou que já estão em andamento tratativas para alterar o estatuto da empresa, o que permitiria uma nova constituição e uma nova perspectiva de projetos e negócios. Segundo Mendonça, o modelo que inspira o movimento é o da Embraer, empresa criada como estatal, que hoje possui capital aberto e participa de diversos projetos de aviação comercial e militar dentro e fora do Brasil.

"Hoje já somos capazes de produzir submarinos com 100% de tecnologia nacional. A transferência de tecnologia no caso dos modelos convencionais (como o S40 Riachuelo, entregue e lançado ao mar em 14 de dezembro de 2018) já foi concluída, e no caso do submarino nuclear (SN Álvaro Alberto, com conclusão prevista para 2029) ela já atinge 80%", acrescentou Mendonça.

© Sputnik / Thiago de AraújoMaquete exibida na LAAD 2019 do modelo de reator que será o propulsor do SN Álvaro Alberto, o primeiro submarino nuclear do Brasil
Maquete exibida na LAAD 2019 do modelo de reator que será o propulsor do SN Álvaro Alberto, o primeiro submarino nuclear do Brasil - Sputnik Brasil
Maquete exibida na LAAD 2019 do modelo de reator que será o propulsor do SN Álvaro Alberto, o primeiro submarino nuclear do Brasil
Há boas tratativas para a mudança no estatuto da ICN – "está mais para sim do que para não", prosseguiu o executivo – e a meta, a longo prazo, é poder não só vislumbrar negociar submarinos fabricados pela indústria naval brasileira com outros países, mas também permitir que a companhia hoje restrita ao Prosub participar de projetos para embarcações de superfície.

Reator e novos submarinos

Após o lançamento do S40 Riachuelo ao mar, em dezembro do ano passado, a ICN segue trabalhando não só nos testes com o submarino, a fim de entregá-lo para o início das operações por parte da Marinha em 2020, mas também para a construção dos demais três modelos convencionais do modelo Scorpène previstos no Prosub: o S41 Humaitá, o S42 Tonelero, e o S43 Angostura.

Pelo cronograma atual da Marinha e da ICN, os três submarinos convencionais – de propulsão elétrica e diesel, com 70m de comprimento e duas toneladas, de autonomia para 70 dias no mar, profundidade de até 300m e até 35 tripulantes – deverão ser concluídos em setembro de 2020, em dezembro de 2021 e em dezembro de 2022, respectivamente.

Assim que concluídos, eles serão empregados para patrulhar nada menos do que 4,5 milhões de quilômetros quadrados da chamada Amazônia Azul, que corresponde às águas jurisdicionais brasileiras. O esforço é um antigo anseio da Marinha do Brasil, que desenvolve ainda o Programa Nuclear da Marinha (PNM), algo que impacta diretamente o SN Álvaro Alberto.

De acordo com oficiais da Marinha presentes na LAAD 2019 no Rio e que aceitaram conversar com a Sputnik Brasil, os trabalhos de desenvolvimento do reator nuclear (parte não inclusa no acordo com a França) que será o propulsor do primeiro submarino nuclear brasileiro seguem em andamento no Centro Tecnológico da Marinha, em São Paulo. Ainda segundo eles, o prazo mais recente para a conclusão do reator é estimado para 2023.

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Assim, a projeção acerca de quando o submarino nuclear do Brasil será lançado ao mar pode sofrer alterações nos próximos anos, ameaçando a projeção que já foi de 2027, e que hoje aponta 2029 como data mais provável de conclusão. Um dos problemas que a Marinha enfrenta no andamento do Prosub envolve os seguidos cortes de recursos sofridos nos últimos anos, em razão da crise econômica que o país atravessa.

Quando pronto, o SN Álvaro Alberto terá 100m de comprimento e seis toneladas, com autonomia ilimitada no mar, profundidade de até 300m e uma tripulação de até 100 oficiais.

Além do S40 Riachuelo, a Marinha brasileira conta hoje com outros cinco submarinos, sendo um da classe Tikuna – feito no Brasil e concluído em 2008 –, e outros quatro da classe Tupi, frutos de uma parceria com a Alemanha – o primeiro, feito na Europa, ficou pronto em 1989, e os demais foram montados em solo brasileiro na década seguinte.

O Prosub é uma iniciativa estimada em R$ 15 bilhões e promete beneficiar outros campos da sociedade brasileira, como a indústria naval, o desenvolvimento de materiais relacionados à ciência e tecnologia, a produção de radioisótopos para a medicina e a irradiação de alimentos para conservação, e até mesmo a produção de energia elétrica em regiões isoladas do país.

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