Subterrâneo do Satã: por que Rússia não vai descartar mísseis nucleares de silos?

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Militares inspecionando silo de um míssil Topol-M - Sputnik Brasil
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A Sputnik conta sobre as vantagens principais dos sistemas de mísseis de silos R-36M Voevoda, SS-18 Satan (Satã) na classificação da OTAN, que têm sido a força principal das Tropas de Mísseis Estratégicos da Rússia ao longo de mais de 40 anos e são uma "dor de cabeça" para os especialistas norte-americanos.

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Cada míssil R-36M Voevoda está equipado com dez ogivas separadas de pontaria individual e pode lançar até ao território inimigo um projétil termonuclear com potência de cinco a oito megatons. Além disso, o Satã pode portar muitas ogivas falsas, pesadas e ligeiras, que enganam os sistemas antimísseis inimigos.

Não é de surpreender que os EUA, ao assinar o Tratado de Redução de Armas Estratégicas (START na sigla em inglês), se focaram na redução precisamente do número de mísseis pesados a combustível líquido de baseamento em silos. A questão é que apenas o Satã é capaz de portar um peso de quase nove toneladas e o levar à distância de mais de 10.000 quilômetros.

Na época da assinatura do tratado (1991), a União Soviética tinha no seu arsenal mais de 300 mísseis Satã e o documento exigiu a redução de metade deles.

Descer para debaixo da terra

Até aos anos 60, quase todas as armas estratégicas da URSS foram instaladas em plataformas lançadoras quase não camufladas. Com o desenvolvimento dos sistemas de reconhecimento e vigilância, o equipamento tecnológico e os mísseis passaram a estar literalmente "enterrados".

Um silo de mísseis era constituído por um poço de 30 metros de profundidade e cerca de seis metros de diâmetro. No fundo eram instalados a mesa de lançamento, estruturas de suporte e sistemas de ventilação, que mantinham temperatura e humidade constantes. Tudo isso era coberto com uma "tampa" de concreto e permanecia em estado de prontidão.

Para cada novo tipo de míssil as minas eram modernizadas e aperfeiçoadas, e o nível de sua proteção aumentava. Os mísseis eram atestados com combustível e "embalados" em contentores especiais de transporte e lançamento e depois baixados nos silos, onde ficavam até o fim do prazo de exploração.

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O silo para o sistema estratégico Voevoda é ainda mais complexo. Pela primeira vez no mundo, na sua construção foi usado o chamado lançamento de morteiro. Esse mecanismo supõe que um gerador de gás a combustível sólido cria uma alta pressão na parte baixa do contentor de transporte e lançamento e empurra o míssil de 200 toneladas a uma altura de cerca de 20 metros. Depois do lançamento, entra em funcionamento o motor do primeiro estágio e o míssil se ajusta à trajetória de ataque.

Conforme os especialistas, os R-36M são os mais perigosos para a defesa antimíssil dos EUA, já que é quase impossível os destruir nos silos. Os Voevoda estão protegidos até ao ponto de serem invulneráveis a um ataque nuclear maciço contra a área de posicionamento.

Os silos para mísseis nucleares normalmente são "perfurados" em solo espesso. Dentro do cilindro, de pêndulos são suspensos o contentor de lançamento com o equipamento de combate e os sistemas de direção. Fazem isso para que o míssil fique ileso em caso de deformação do silo e possa sair do silo sem obstáculos. No momento de lançamento o sistema de amortização é bloqueado de forma rígida.

O posto de comando, do qual é dirigido um grupo de mísseis, tem uma construção parecida.

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Levando em conta que os lugares de posicionamento de todas as instalações de silos são bem conhecidos do inimigo potencial, é muito difícil para um projétil singular atingir o silo com um impacto direto.

O doutor em ciências técnicas, Pyotr Belov, opina que "os americanos atingiram uma precisão de armas muito alta. Mas essa precisão é alcançada com lançamentos ao longo dos paralelos da Terra. Com um voo através do Polo Norte, o míssil balístico é influenciado pela força inercial de Coriolis. Mas não se pode avaliar sua influência, porque nem nós, nem os norte-americanos, lançamos mísseis balísticos contra o território um do outro".

Para ele, não tem sentido apontar várias ogivas contra o mesmo silo, já que de qualquer modo elas não se aproximarão do alvo ao mesmo tempo, e a explosão do primeiro bloco vai destruir as ogivas que se aproximam a seguir.

No que se refere aos mísseis de cruzeiro normais, a sua velocidade não chega para atingir os silos na parte central do país, porque serão derrubados pelos sistemas de defesa antiaérea ou por aviões-interceptores. Além do mais, serão necessários cerca de dez mísseis de cruzeiro para destruir uma só "tampa" de silo.

Sem alternativa

Após a assinatura do START, a Rússia destruiu centenas de instalações de silos com mísseis pesados. Atualmente, na Rússia estão em serviço cerca de 50 mísseis R-36 Voevoda e várias dezenas de UR-100. Nos arsenais das Tropas Estratégicas de Mísseis também há modificações para silos dos mísseis ligeiros Topol-M.

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Nos últimos anos a Rússia está apostando nos sistemas móveis Yars. Considera-se que uma alta mobilidade garante uma grande capacidade de sobrevivência — os sistemas de mísseis se deslocam constantemente e estão camuflados. Além disso, a grande capacidade todo-terreno lhes permite deslocarem-se sem estradas.

No entanto, basta um pequeno grupo de diversão com lança-granadas ou uma mina antitanque para destruir esse sistema móvel.

Nos próximos anos vai entrar em serviço o sistema pesado de nova geração RS-28 Sarmat. O seu alcance supera 11.000 quilômetros, o míssil pode portar até dez a 15 ogivas separadas com potência de até 750 quilotons cada uma. As plataformas de lançamento em silos dos novos mísseis serão muito bem protegidas. Assim, para destruir um silo serão necessários ao menos sete ataques nucleares diretos de alta precisão.

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