Para especialista, nova geração de armas russas é resposta à ofensiva dos EUA e da OTAN

© Sputnik / Aleksandr Galperin / Acessar o banco de imagensJunto com os sistemas de mísseis Iskander e os sistemas antinavio Bastion, os S-400 constituem a base da estratégia militar russa destinada a proteger suas fronteiras de uma possível agressão por parte da OTAN.
Junto com os sistemas de mísseis Iskander e os sistemas antinavio Bastion, os S-400 constituem a base da estratégia militar russa destinada a proteger suas fronteiras de uma possível agressão por parte da OTAN. - Sputnik Brasil
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“A nova geração de equipamentos táticos nucleares apresentada pelo presidente Vladimir Putin, durante seu discurso anual na Assembleia Federal, na quinta-feira, é a prova de que a Rússia está dando uma resposta assimétrica à contínua expansão feita na Europa pela OTAN e pelos Estados Unidos em direção às fronteiras russas.”

A análise é de Pedro Paulo Rezende, jornalista especializado em assuntos militares e em Relações Internacionais. Em entrevista à Sputnik Brasil, ele partilha da opinião de vários analistas internacionais, confirmando que os equipamentos mostrados são de última geração, superiores aos disponíveis hoje na Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) e nas Forças Armadas dos EUA e dotados de velocidade e capacidades defensivas que praticamente tornam ineficazes quaisquer sistemas de detecção e interceptação. Mais do que superioridade estratégica, Pedro Paulo relaciona o desenvolvimento desses novos sistemas ao avanço, nas últimas décadas, promovido pela OTAN no Leste Europeu a ponto de armas estratégicas estarem situadas em diversos países e até cerca de 100 quilômetros das fronteiras russas.

"A Rússia, apesar de ter dado vários passos em aproximação com o Ocidente desde a década de 90, sempre foi tratada como um inimigo. Denunciaram o tratado antibalístico, começaram a plantar baterias antimísseis ao redor da Rússia. Dava para perceber que o objetivo era impedir qualquer tipo de reação russa a um ataque da OTAN bancado pelos Estados Unidos. O desenvolvimento desses equipamentos foi uma saída magistral para acabar com esse movimento. É uma maneira que a Rússia tem de dizer: 'Eu tenho os meios de fazer guerra nuclear mesmo que vocês destruam a primeira leva de mísseis', afirma o especialista, para quem o anúncio dos novos armamentos foi uma virada de mesa de baixo custo. 

O especialista observa que a proximidade das tropas da OTAN tão próximas às fronteiras russas contraria um acordo verbal foi firmado pelos então presidentes Gorbachov e Reagan e do qual participou o então chanceler alemão Helmut Kohl, de que a OTAN não avançaria além das fronteiras da antiga Alemanha Oriental. Tal acordo, segundo Rezende, foi rompido pelo presidente Bill Clinton, que começou a receber outros países que, em princípio, não deveriam fazer parte da OTAN.

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Na visão de Rezende, no longo prazo, o fim do Tratado de Paris se voltou contra o Ocidente, que jogou isso como um trunfo e recebeu uma resposta assimétrica da Rússia que deixou todo o mundo perplexo. Para o analista, o sistema de cruzeiro movido por energia nuclear, por exemplo, é muito interessante e já deu provas de sua eficiência, no ano passado, sobre as Colinas de Golan, quando um drone conseguiu se evadir de dois mísseis Patriot e de um ataque de um F-16, os melhores equipamentos que Israel tem à disposição. Isso aconteceu pouco depois de dizerem que a Rússia não tinha tecnologia de drones tão avançada como a do Ocidente. Outro fato interessante, já testado na Síria, foi o uso de um míssil hipersônico, o Avangard, lembra o analista.

A arma voa a velocidade 20 vezes a do som, sendo praticamente imune a interceptação de mísseis americanos como o Aegis, que voa a velocidade de apenas cinco vezes a do som. Outro equipamento de ponta do arsenal é o Sarmat, apelidado no Ocidente de Satã-2, que é equipado como uma ampla gama de projetos nucleares de grande potência e de defesa e que vai equipar o Exército russo até 2027.

"Ele (Avangard) opera em um teto que deixa sem efetividade os mísseis antibalísticos. O Aegis foi feito para destruir uma ogiva que está entrando verticalmente, que não é o caso do Avangard que vem horizontalmente a 20 mil quilômetros por hora e pode alterar a trajetória. Outro diferencial são ogivas de entrada furtivas, o que causaria uma grande dificuldade à defesa antimísseis americana. Essas ogivas são usadas nos Sarmat, que podem ser disparados em trajetória polar, ou seja, você dispara para o Pólo Norte para atingir o Havaí, por exemplo., ou dispara para o Pólo Sul para atingir Los Angeles", explica o especialista.

Com relação ao drone submarino, Rezende diz que ele é uma arma terrível. Mesmo no caso de destruição hipotética da Rússia, o sistema vai continuar navegando a uma velocidade de 100 nós aproximadamente (300 km/h) e pode chegar a qualquer momento furtivamente e acabar com toda a península da Flórida, por exemplo. "Ele trabalha com ogivas nucleares potentes e navega a uma profundidade de mil metros, contra a qual a OTAN não tem defesa", diz Rezende.

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Para Rezende, a indústria de armamentos está fazendo más apostas. 

"Os EUA estavam trabalhado em um sistema de canhão eletromagnético que não chegou a ser transformado num protótipo para uso naval. Aí a China aparece com esse sistema em um protótipo funcionando em cima de um navio de desembarque. Se você gasta milhões e milhões de dólares e não tem um produto final, alguma coisa não está certa. Você faz um projeto como o LCS (Litoral Combat Ship), que custa bilhões de dólares e quando o navio fica pronto se verifica que ele não é capaz de resistir a um disparo de canhão. Os procedimentos de compra estadounidenses não seguem mais uma realidade palpável de produção militar. Muita pesquisa e investimento a um custo brutal. Chegou ao ponto de o projeto do F-35 já estar em US$ 1,5 trilhão", finaliza Rezende.

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